Nos dias 4 e 5 de maio, às 18h, na Sala Minas Gerais, a Filarmônica de Minas Gerais vai apresentar Música e Cinema em concerto da série Fora de Série. No programa, uma viagem por algumas obras consagradas do cinema nacional e internacional que ajudaram a definir o impacto de cenas inesquecíveis. Sob regência do maestro Marcos Arakaki, a Orquestra vai interpretar Abertura Capitão Blood, de Korngold; O Poderoso Chefão: Suíte, de Rota; Suíte Vila Rica, de Guarnieri; O Aprendiz de Feiticeiro, de Dukas; Um americano em Paris, de Gershwin; eET: Aventuras na Terra, de J. Williams. Neste ano, a série Fora de Série, realizada aos sábados, dedica-se à conexão da Música com outras manifestações humanas. Devido à grande procura do público, a apresentação do dia 5 de maio, domingo, às 18h, na Sala Minas Gerais, é um concerto extra à programação.

Em 2019, a série Fora de Série, com nove concertos ao longo do ano, irá explorar a conexão da música com outras manifestações humanas, como dança, teatro, cinema, fauna e flora, guerra e paz, mitologia, pintura, religiosidade e a literatura.

Este concerto é apresentado pelo Ministério da Cidadania e Governo de Minas Gerais e conta com o Patrocínio da Aliança Energia e do Banco Votorantim por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Repertório

“Música e Cinema”

Erich Korngold (1897 – 1957): Abertura Capitão Blood

Nino Rota (1911 -1979): O Poderoso Chefão: Suíte

Camargo Guarnieri (1907 – 1993): Suíte Vila Rica

Paulo Dukas (1865 – 1935): O Aprendiz de Feiticeiro

George Gershwin (1898 – 1937): Um americano em Paris

John Williams (1932) e ET: Aventuras na Terra

Erich Korngold nasceu em uma família de origem judia no ano de 1897 em Brünn, naquela época parte do império Austro-Húngaro e atualmente parte da República Tcheca. Criança prodígio em Viena, foi chamado de gênio por compositores como Gustav Mahler e Richard Strauss. Aos 23 anos, ele já era considerado um dos principais nomes da música clássica de Weimar, Alemanha. Já percebendo os perigos do crescente antissemitismo, mudou-se para os Estados Unidos em 1934 para trabalhar na adaptação cinematográfica da peça Sonho de uma noite de verão, de Shakespeare, idealizada por Max Reinhardt. Em 1938, após a anexação da Áustria pela Alemanha Nazista, resolveu estabelecer-se definitivamente em Los Angeles. Nos anos seguintes, trabalhou para a Warner Brothers em Hollywood, onde foi pioneiro na arte de criar trilhas musicais orquestradas, aquelas escritas especialmente para acompanhar um filme. Entre os grandes trabalhos dessa época estão As aventuras de Robin Hood (de 1938), pelo qual ganhou um Oscar, e O Capitão Blood, dirigido por Michael Curtiz.

Quando aceitou realizar a trilha musical de O Poderoso Chefão, Nino Rota já era reverenciado pela inconfundível sonoridade dos filmes de Federico Fellini. Entre as cerca de 150 criações do compositor, estão colaborações com diretores italianos, franceses, americanos, alemães e soviéticos. Já o diretor contratado para dar à luz O Poderoso Chefão, Francis Ford Coppola, era um novato no cinema. Quando o estúdio começou a desenvolver o filme, os executivos pensavam em entregar a trilha sonora a Henry Mancini, mas Coppola já estava com os olhos (e ouvidos) em Nino Rota, que não se impressionou com o convite. O único feito de Coppola até o momento (um Oscar de Melhor Roteiro Original pelo filme Patton, de 1970) não convenceu o compositor italiano de que assumir a trilha d’O Poderoso Chefão seria uma oportunidade imperdível. As condições estabelecidas por Rota teriam feito qualquer um desistir de contratá-lo: ele não iria compor antes da conclusão do filme; não viajaria até os Estados Unidos para trabalhar na trilha; e um outro músico seria contratado para conduzir a orquestra nas sessões para sincronizar música e imagens. Para a surpresa de Nino Rota, Coppola aceitou suas escandalosas exigências – e o resultado é uma das mais aclamadas trilhas musicais para o cinema.

A Suíte Vila Rica foi composta a partir da trilha sonora produzida por Guarnieri em 1957 para o filme Rebelião em Vila Rica. A peça, inicialmente escrita para ilustrar as cenas do filme, foi reelaborada, no ano seguinte, sob formato orquestral e estreada em 1958 pela Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro, sob a regência do autor. A obra desse período de Guarnieri constituiu-se em uma expressão emblemática de aspectos peculiares do “nacional-modernismo” através de configurações rítmicas e melódicas diretamente ligadas à identidade brasileira. É possível reconhecer, na Suíte, elementos inspirados nas modinhas, toadas, cantigas infantis, rodas das violas caipiras e danças de origem africana – há, inclusive, o tema da canção folclórica mineira Tim, tim oi lá lá. Em ambiente sonoro singular, os temas apresentados na Suíte ilustram o contexto dramático do filme inspirado nos ideais da Inconfidência Mineira, transpostos para os anos de 1940 em Ouro Preto, onde estudantes universitários se rebelam em tempos opressivos de ditadura reivindicando a demissão de um tirânico reitor. Os personagens da trama são batizados com nomes de personalidades históricas da Inconfidência, como o poeta Gonzaga, a musa Marília, o herói Xavier e o traidor Silvério. Este ciclo foi a única obra produzida por Guarnieri com finalidade cinematográfica. Rebelião em Vila Rica foi um dos primeiros filmes coloridos produzidos no Brasil, com roteiro dos mineiros Geraldo e Renato Santos Pereira.

Como compositor, Paul Dukas deixou-nos poucos números de opus, frutos raros de prolongada meditação. Uma autocrítica impiedosa, quase paralisante, levou-o a destruir a maior parte de suas partiras e explica a brevidade de seu catálogo. Entretanto, a solidez formal, a clareza de orquestração e a lógica cartesiana que dominam suas obras as tornam profundamente representativas do espírito francês. Decidido a compor um poema sinfônico, Dukas escolheu, como programa literário, a balada de Goethe Der Zauberlehrling, escrita em forma de monólogo: — “Enfim o velho mestre se ausentou! Agora vou eu também conduzir os Espíritos!”. O aprendiz pronuncia a fórmula mágica, ordenando à vassoura que vá ao rio buscar água e lave a casa. Mas ele esqueceu a palavra para interromper o trabalho da vassoura e a água ameaça fazer submergir a casa. Com a volta do Mestre Feiticeiro, tudo termina bem. Composta em 1897, a obra ganhou o título de L’Apprenti sorcier – Scherzo Symphonique d’après une ballade de Goethe (O Aprendiz de Feiticeiro – Scherzo Sinfônico para uma balada de Goethe).

Após o sucesso de Rhapsody in Blue em 1924, o nova-iorquino George Gershwin viajou diversas vezes à Europa. A ideia para Um americano em Paris surgiu em 1926, quando Gershwin escreveu um esboço da melodia em um postal de agradecimento para seus anfitriões, Robert e Mabel Schirmer. Mas foi só na primavera de 1928, em sua quinta visita ao continente com sua irmã Frances, seu irmão Ira e sua cunhada Leonore, que ele deu seguimento à ideia de relatar as “impressões de um visitante americano em Paris enquanto circula pela cidade, ouve diversos sons nas ruas e absorve um pouco da atmosfera francesa”. Ira conta que Gershwin foi, por um período, o próprio Um americano em Paris, haja vista que boa parte da composição foi feita no Hotel Majestic, lá mesmo, em Paris. Outras partes, entretanto, foram escritas em Nova York, Viena e numa fazenda em Conneticut. O poema sinfônico estreou no dia 13 de dezembro de 1928, no Carnegie Hall, com a então Sinfônica de Nova York sob regência de Walter Damrosch.

Tubarão (1975), Contatos imediatos de terceiro grau (1977), Guerra nas estrelas… É longa a lista de colaborações de John Williams com diretores como Steven Spielberg e George Lucas. Mais do que trilhas que acompanham a cena, algumas de suas composições são parte fundamental do enredo destes filmes, começando na simplicidade das duas notas de Tubarão e chegando até a inesquecível melodia que abre todos os Guerra nas estrelas. Seu longo currículo fala por si. Williams criou mais de cem trilhas originais em quase cinquenta anos de carreira. Alguns deles, como E.T. – O extraterrestre, são exemplos de como o trabalho de compositor e diretor se atravessam. Nas suas próprias palavras, “eu escrevi a música matematicamente, para coincidir com todos os acontecimentos. Quando executamos com a orquestra, e eu tinha o filme na minha frente, eu… nunca conseguia uma gravação perfeita, que soasse correta musical e emocionalmente. (…) E ele (Steven Spielberg) disse, ‘por que você não tira o filme? Não olhe para ele. Esqueça o filme e conduza a orquestra da maneira como você gostaria de fazer em um concerto, para que a performance seja completamente livre de medidas e considerações matemáticas’. Assim eu fiz e todos concordamos que a música soava melhor”.

Maestro Marcos Arakaki

Marcos Arakaki teve seu talento reconhecido a partir de 2001, quando venceu o I Concurso Nacional Eleazar de Carvalho para Jovens Regentes, promovido pela Orquestra Petrobras Sinfônica. Desde então, tem dirigido as principais orquestras brasileiras, além da Filarmônica de Buenos Aires, de Karkhiv na Ucrânia, a Boshlav Martinu na República Tcheca, a Sinfônica de Xalapa e da Universidade Autônoma do México. Concluiu bacharelado em Música pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e mestrado em Regência Orquestral pela University of Massachusetts. No Aspen Music Festival and School, Estados Unidos, recebeu orientações de David Zinman, Kurt Masur, Charles Dutoit e Sir Neville Marriner. Atuou como regente titular da Orquestra Sinfônica da Paraíba e assistente da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). Como regente titular, promoveu uma elogiada reestruturação na Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem. Recebeu o Prêmio Camargo Guarnieri, concedido pelo Festival Internacional de Campos do Jordão, e gravou com a OSB a trilha do filme Nosso Lar, composta por Philip Glass.

Arakaki tem acompanhado importantes artistas, tais como Gabriela Montero, Sergio Tiempo, Anna Vinnitiskaya, Sofya Gulyak, Ricardo Castro, Pinchas Zukerman, Rachel Barton Pine, Chloë Hanslip, Luíz Fílip, Victor Julien-Laferrière, Günter Klaus, Eddie Daniels, David Gérrier e Yamandu Costa.

Desenvolve atividades como coordenador pedagógico, professor e palestrante em projetos culturais, universidades e conservatórios. Professor visitante da Universidade Federal da Paraíba por dois anos, contribuiu para a consolidação da recém-criada Orquestra Sinfônica da UFPB.

Marcos Arakaki é regente associado da Filarmônica de Minas Gerais e colabora com a Orquestra desde 2011, com destacada atuação nos concertos para formação de público. É autor do livro A História da Música Clássica Através da Linha do Tempo, lançado em 2019.

Sobre a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

Criada em 2008, desde então a Filarmônica de Minas Gerais se apresenta regularmente em Belo Horizonte. Em sua sede, a Sala Minas Gerais, realiza 57 concertos de assinatura e 12 projetos especiais. Apresentações em locais abertos acontecem nas turnês estaduais e nas praças da região metropolitana da capital. Em viagens para fora do estado, a Filarmônica leva o nome de Minas ao circuito da música sinfônica. Através do seu site, oferece ao público diversos conteúdos gratuitos sobre o universo orquestral. O impacto desse projeto artístico, não só no meio cultural, mas também no comércio e na prestação de serviços, gera em torno de 5 mil oportunidades de trabalho direto e indireto a cada ano. Sob a direção artística e regência titular do maestro Fabio Mechetti, a Orquestra conta, atualmente, com 90 músicos provenientes de todo o Brasil, Europa, Ásia, Américas Central e do Norte e Oceania, selecionados por um rigoroso processo de audição. Reconhecida com diversos prêmios culturais e de desenvolvimento econômico, ao encerrar seus 10 primeiros anos de história, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais recebeu a principal condecoração pública nacional da área da cultura. Trata-se da Ordem do Mérito Cultural 2018, concedida pelo Ministério da Cultura, a partir de indicações de diversos setores, a realizadores de trabalhos culturais importantes nas áreas de inclusão social, artes, audiovisual e educação. A Orquestra foi agraciada, ainda, com a Ordem de Rio Branco, insígnia diplomática brasileira cujo objetivo é distinguir aqueles cujas ações contribuam para o engrandecimento do país.

O corpo artístico Orquestra Filarmônica de Minas Gerais é oriundo de política pública formulada pelo Governo do Estado de Minas Gerais. Com a finalidade de criar a nova orquestra para o Estado, o Governo optou pela execução dessa política por meio de parceria com o Instituto Cultural Filarmônica, uma entidade privada sem fins lucrativos qualificada com os títulos de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e de Organização Social (OS), um modelo de gestão flexível e dinâmico, baseado no acompanhamento e avaliação de resultados.