Uma das maiores percussionistas de todos os tempos, Evelyn Glennie se apresenta pela primeira vez com a Filarmônica de Minas Gerais nos dias 29 e 30 de novembro, às 20h30, na Sala Minas Gerais. Com sua genialidade e técnica exuberante, a percussionista escocesa traz a Belo Horizonte um concerto para percussão que se destaca dentre os escritos nas últimas décadas, Veni, veni, Emmanuel, de MacMillan. Completam o repertório o Prelúdio para “A tarde de um fauno”, de Debussy, e Quadros de uma exposição de MussorgskyOriginalmente composta para piano, essa peça ganhou diferentes interpretações. O público poderá ouvir pela primeira vez em Belo Horizonte a orquestração feita por Francisco Mignone.

Na série de palestras sobre obras e compositores, promovidas pela Filarmônica antes das apresentações, entre 19h30 e 20h, o convidado das duas noites será o percussionista da Filarmônica de Minas Gerais e curador dos Concertos Comentados, Werner Silveira. As palestras são gravadas em áudio e ficam disponíveis no site da Orquestra.

Estes concertos são apresentados pelo Ministério da Cultura e Governo de Minas Gerais.

O concerto de sexta-feira, da série Vivace, é apresentado também pelo BNDES.

As apresentações contam com o patrocínio da Cemig e incentivo das Leis Federal e Estadual de Incentivo à Cultura.

Repertório

Sobre Veni, veni, Emmanuel

James MacMillan (Kilwinnig, Escócia, 1959) e Veni, veni, Emmanuel (1991/1992)

Bacharel em Música pela Universidade de Edimburgo e Doutor em Composição pela Universidade de Durham, onde foi orientado por John Casken, James MacMillan desponta hoje como o maior dentre os compositores britânicos vivos. Sua produção é ampla, abrangendo óperas, balés, música para teatro e obras orquestrais. Contudo, é sua produção de caráter religioso que faz de MacMillan um dos mais notáveis compositores de seu tempo.Veni, veni, Emmanuel foi encomendada por Christian Salvesen e estreada pela Orquestra de Câmara Escocesa sob regência de Jukka-Pekka Saraste e solo de Evelyn Glennie, em 10 de agosto de 1992, no Prom 27, no Royal Albert Hall.

O concerto inspira-se no cantochão Veni, veni, Emmanuel, cujo refrão traz as palavras “Gaude, Gaude” (Regozijai, Regozijai) cantadas na forma de uma nota breve seguida de uma nota longa e outra nota breve seguida de outra nota longa. Essa estrutura rítmica (breve-longa-breve-longa) sugere ao compositor a batida do coração e é o elemento gerador de toda a peça, figurando assim em todos os seus compassos. A composição do concerto deu-se entre o primeiro domingo do Advento de 1991 e o domingo de Páscoa de 1992. Essas datas representativas do calendário cristão delimitam ainda sua estrutura, que explora inicialmente a dimensão teológica contida na noção de Advento e encerra-se, através daquilo que o compositor nomeia um “desvio litúrgico”, com uma alusão à Páscoa. Comungam assim a promessa de libertação dos fiéis do medo, da angústia e da opressão e a imagem do Cristo ressuscitado.

Sobre Prelúdio para “A tarde de um fauno”

Claude Debussy (Saint-Germain-em-Laye, França, 1862 – Paris, França, 1918) e o Prelúdio para “A tarde de um fauno” (1891/1894)

Se revoluções podem chegar suaves como o sopro de uma flauta, o Prelúdio para “A Tarde de um fauno” de Claude Debussy é a prova cabal disto. A partitura imaginada por ele é moderna, ligeiramente nebulosa, sedutora, de harmonia indescritível e tonalidades ambíguas. Trata-se de um verdadeiro banquete sonoro transcendental. Sobre ela, Debussy escreveu: “A música deste Prelúdio é uma ilustração muito livre do belo poema de Stéphane Mallarmé. Ela não reivindica ser uma síntese dos versos, mas sim uma sucessão de cenas pelas quais os desejos e sonhos do fauno avançam no calor de uma tarde. Então, exausto de perseguir o caminho por medo das ninfas e náiades, ele abandona a si mesmo em um sono inebriante, cheio de sonhos, e finalmente percebeu-se em plena posse no meio da natureza universal”.

A estreia deixou a todos deslumbrados, tanto que os parisienses que estavam na Société Nationale de Musique naquele dia 22 de dezembro de 1894 insistiram para que a obra fosse imediatamente repetida.

Sobre Quadros de uma exposição

Modest Mussorgsky (Karevo, Rússia, 1839 – São Petesburgo, 1881) eQuadros de uma exposição (1874)

Quadros de uma exposição foi composta por Mussorgsky para seu amigo Viktor Hartmann, pintor talentoso que jamais conheceria o sucesso em vida. Hartmann morreu em 1873, aos 39 anos, vítima de um aneurisma. No ano seguinte, a Associação dos Arquitetos de São Petersburgo realizou uma exposição com aproximadamente 415 obras do pintor, a qual Mussorgsky visitou inúmeras vezes. Desejoso de homenagear o amigo, ele compôs, no mesmo ano, a grandiosa suíte para piano intitulada Quadros de uma exposição. A obra é estruturada em dez quadros e cinco caminhadas (Promenade).

Os quadros são inspirados nos desenhos, croquis e pinturas de Hartmann; as Promenades são o próprio compositor que caminha pela exposição. Após a morte de Mussorgsky, em 1881, a obra alcançaria um sucesso estrondoso no mundo inteiro e inúmeros compositores se empenhariam em orquestrá-la. Um deles foi o brasileiro Francisco Mignone, mas pouco se sabe sobre essa belíssima orquestração. Sua viúva, a pianista Maria Josephina Mignone, desconhecia a obra e parece tê-la encontrado apenas após a morte do marido, em 1986, perdida em uma gaveta.

No entanto, acredita-se que tenha sido realizada no final da década de 1940, já que nos manuscritos das partes cavadas, atualmente na Biblioteca Nacional, verifica-se que ela foi executada em março de 1952 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, assim como em 1953 no Sodre (Servicio Oficial de Difusión Radio Eléctrica), de Montevidéu, e em 1954 nas comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo. A orquestração de Mignone para Quadros de uma exposição é especial, extremamente fiel às indicações originais de Mussorgsky, e das poucas que contempla a suíte completa (a versão de Ravel, mais conhecida, omite a quinta Promenade).