Mirtes Helena Scalioni
Que ninguém se engane. “A Morte de Stalin” é uma comédia escancarada, quase uma chanchada. Ao escolher esse caminho para falar de política e de políticos, o diretor e roteirista Armando Iannucci não deixa pedra sobre pedra e não tem piedade dos poderosos. Após a morte inesperada do ditador Joseph Stalin – muitos o colocam bem posicionado no ranking dos homens mais cruéis da história mundial – um grupo do Partido Comunista quase se engalfinha na disputa pela sua sucessão.
Nesse sentido, ficam claras a falta de regras objetivas e a fome de poder dos homens do alto escalão, entre eles Beria (Simon Russell Beale), Malenkov (Jeffrey Tambor), Molotov (Michael Palin) e Nikita Khrushchev (papel de Steve Buscemi), que acabou ficando com o trono. Nos muitos encontros e reuniões dos seis membros do comitê, o que se vê são indecisões, fofocas, alianças e negociatas.
Na verdade, Josef Stalin, interpretado por Adrian McLoughlin, aparece pouco. Após sua morte, contada de forma hilária, quase com humor negro, toda a acidez do roteiro se volta para a luta dos membros do partido. A entrada em cena dos dois jovens filhos do ditador, Vasily (Rupert Friend) e Svetlana (Andrea Riseborough), ambos de lucidez duvidosa, é um capítulo à parte no filme. Agem como rebeldes sem causa e não se interessam o mínimo pelo sofrimento do povo. O exagero das interpretações ajuda a ridicularizar o momento.
Pode ser que alguns não gostem da forma que Iannucci escolheu para falar de um período tão sangrento e triste da uma história relativamente recente. Afinal, Stalin morreu em 1953. Mas a verdade é que a comédia, aquela que tem sarcasmo e traz o riso nervoso, pode ter seu valor artístico, além de ser produtiva e útil. E leva à reflexão. Principalmente quando o tema, embora histórico, seja tão atual: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. A produção está em exibição na sala 1 do Belas, com sessões às 16h40 e 21h30.
Duração: 1h48
Classificação: 16 anos