Especialista fala sobre esse número, 70% maior do que o registrado no mesmo período do ano anterior, quando houve 1 milhão de desligamentos voluntários no país
Pedidos de demissão atingem patamar histórico no Brasil e sobem 70% no primeiro trimestre de 2022. Mais de 1,7 milhão de pessoas deixaram seus empregos nos primeiros meses do ano, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em 2021, no mesmo período, foram registrados 1 milhão de desligamentos voluntários.
Só no mês março, foram mais de 603 mil pedidos por parte do próprio funcionário, representando 30% do total de 1,8 milhões de acordos, ou seja, 1 em cada 3 demissões se enquadra no movimento conhecido como a “Grande Renúncia”.
Fevereiro foi o segundo mês com maior número de demissões voluntárias, desde 2020, quando teve início a série histórica de contagem pelo Caged e chegou a 560.272. Janeiro fechou com 544.541 mil pedidos.
Para Érica Castelo, headhunter com atuação global, “este está sendo um movimento mundial e o Brasil agora integra essa onda de demissões voluntárias. A ‘clausura obrigatória’ na pandemia e as mudanças de hábito acabaram por motivar uma reflexão adicional sobre valores pessoais, família, trabalho, e como equilibrar melhor toda essa equação”, analisa a especialista.
Na comparação entre os meses, janeiro de 2022 (544,54 mil) ante 2021 (453,96 mil) representa um aumento de 20%. Fevereiro de 2022 (560,27 mil) e de 2021 (453,56 mil) e alta de 24% e em março a diferença é ainda maior – 2022 (603,1 mil) e 2021 (437,42 mil), subindo 38% no período.
A onda de pedidos de demissão em massa atinge primeiro as áreas de alojamento e alimentação, seguida de atividades administrativas, informação e comunicação e atividades profissionais, científicas e técnicas, chegando a cargos de melhor remuneração e posicionamento no mercado profissional.
“As mudanças expressivas no cenário entre os profissionais mais bem qualificados significam que esse movimento acaba sendo forte na alta renda. A tecnologia, que possibilita o trabalho à distância, ajuda sobretudo nas atividades relacionadas ao lado administrativo dos negócios (incluindo tecnologia, comunicação, pesquisa, etc),– e não as mais operacionais, como por exemplo as atividades de chão de fábrica. Enquanto isso, outros setores, como o de saúde, ainda requerem a presença dos profissionais in loco, o que acaba distanciando seus trabalhadores da opção por modelos de trabalho não presenciais”, analisa a headhunter e advisor de executivos com atuação global.
Regionalização de demissões
Ainda segundo dados do Caged, na divisão por regiões, o Sul do Brasil representa a maior parcela no número de pedidos de demissão. Primeiro aparece Santa Catarina (24,7%), seguido pelo Paraná (20,5%) e Rio Grande do Sul (19%).
Já São Paulo – o Estado com maior impacto econômico no país – representa 16,8% do total de acordos. E na divisão por sexo, os homens são maioria entre os que deixaram os crachás de lado.
O que essa mudança interfere no RH das empresas?
Érica Castelo afirma que essa onda de demissões voluntárias aumenta os desafios para o RH. “O setor está sobrecarregado com os impactos da pandemia nos modelos e dinâmica do trabalho e essas demissões acabam por reforçar a importância das estratégias eficazes de engajamento de funcionários, fortalecimento de cultura, e valorização do bem-estar das pessoas dentro das organizações – além das questões salariais, que ficam aquecidas com tantas mudanças. Equilibrar todas essas variáveis virou o grande desafio da área responsável pelas pessoas”.
Em relação aos Estados Unidos, onde essa grande renúncia vem ganhando força, o que muda, inicialmente, na comparação como cenário notado no Brasil, é que no país americano, o governo deu um forte auxílio para trabalhadores de baixa renda e isso afetou muito os setores de hotelaria e restaurantes, assim como no Brasil, mas com maior intensidade.
Por outro lado, em relação aos trabalhadores administrativos, que agora preferem o trabalho remoto, esse movimento atinge de igual maneira os dois países. E complementa: “Nos Estados Unidos vive-se uma fase de pleno emprego. Os salários nunca estiveram tão altos e essa proporção é outro diferencial em relação ao Brasil”, conclui.