A Executiva de Finanças, a economista Ana Sanches, deixa a Diretoria Financeira de Operações da Anglo American no Brasil, para assumir nesse mês de julho, a Diretoria Financeira – CFO da Anglo American Internacional – Divisão Global de T&S – Technical and Sustainability, na sede mundial da empresa em Londres, Reino Unido.

Ana Cristina Sanches Noronha é formada em Economia pela UFMG e Contabilidade pela FUMEC, com MBA Executivo em Finanças no IBMEC e cursos de especialização na Harvard Business School e Columbia University. Antes da Anglo American atuou em empresas como Arthur Andersen e Deloitte. É também é vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de Minas Gerais (IBEF-MG).

Nessa entrevista, Ana conta para os leitores do BH Post, um pouco de sua trajetória profissional, da família e dos novos desafios a frente de uma empresa centenária, presente em cinco continentes e que se consolidou como uma das maiores mineradoras do mundo

Como é o dia a dia da Ana Sanches?

Sou muito ligada à família, meu principal tesouro e meu porto seguro. Estou casada há 21 anos e tenho dois filhos, Eduardo de 16 anos e Beatriz de 11 anos. Equilibrar a vida profissional, a vida de mãe e de esposa nem sempre foi fácil. Mas sempre busquei levar isto de forma leve, sem muita cobrança ou sofrimento. Acredito que podemos seguir nos dedicando ao trabalho e à família, mas desde que aprendamos a nos cobrar menos e a entender que não precisamos ser perfeitas em tudo – o ideal é buscar viver em harmonia, dentro das nossas escolhas e limitações.

Adoro aproveitar o tempo livre com minha família, acompanhar o desenvolvimento dos meus filhos nesta fase tão interessante que é a adolescência, curtir nossos valiosos momentos juntos, cozinhar os pratos favoritos deles, ouvir suas histórias. Gosto da casa cheia, receber minha mãe, irmãos, cunhados, sobrinhos e amigos. Nada melhor que estar perto das pessoas que amamos – disso eu vou sentir muita falta em Londres, mas sei que as facilidades do mundo virtual irão nos ajudar a superar a distância e nos manter sempre conectados.

Ana, fale sobre a sua trajetória profissional. Você esteve sempre à frente de grandes empresas, enfrentando também grandes desafios. Conte um pouco dessa experiência e como chegou ao mercado da mineração?

Minha trajetória sempre foi de muita luta, determinação e resiliência. Sempre gostei muito de viver intensamente o momento presente, me dedicar muito ao cargo e função que estou exercendo no momento, sem ficar olhando muito para trás e sem viver exageradamente me preocupando ou articulando o momento futuro. Sempre fui muito intensa, sempre gostei de colocar muita energia nas coisas que estou fazendo, na busca por uma entrega de excelência e um enorme foco em resultado. Ao mesmo tempo, sempre busquei exercer meu trabalho com muito respeito ao próximo, com muita empatia ao ser humano e um interesse genuíno em estabelecer conexões com as pessoas.

Comecei minha carreira em 1998, na saudosa Arthur Andersen. Em 2002 nos integramos ao time da Deloitte. Nestas duas empresas conheci pessoas inspiradoras e que me ensinaram o que era trabalhar duro com muito profissionalismo e fazendo entregas com excelência. Parece clichê, mas foi verdadeiramente uma grande escola para mim.

Em 2006 fui convidada para ser Gerente de Auditoria Interna na Holcim Cimentos, mas poucos meses depois que entrei, assumi o cargo de Controller. Foi também uma fase de muito aprendizado. Atuar em segmentos de margens apertadas nos exige muito foco em melhoria de processo e gestão.

Em 2012 recebi o convite da Anglo American para trabalhar na gestão financeira da construção do projeto Minas-Rio e, logo no início, já me encantei pelo segmento de mineração e seus desafios. Em 2015 assumi a diretoria financeira das operações do Minério de Ferro da Anglo American no Brasil e no ano seguinte as operações de níquel. Nos últimos anos, passei também a ser responsável pela área de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios. Foram anos intensos, começando pela crise das commodities e culminando com a pandemia.

Atuei fortemente na automatização dos nossos processos, na excelência dos nossos dados, e na aproximação da área financeira às demais áreas de negócio da empresa, mostrando o valor que nós, profissionais de finanças, podemos agregar ao business. Valor que vai muito além das tradicionais atividades exercidas pelos profissionais de finanças. Durante estes anos na Anglo American no Brasil, também atuei fortemente nas atividades de Inclusão e Diversidade, ajudando a fomentar um ambiente verdadeiramente inclusivo em nossas unidades, na revisão de políticas, criação de grupos de afinidade e promoção de campanhas de conscientização.

Em 2019 você foi escolhida a Executiva de Finanças do ano recebendo o Prêmio Equilibrista oferecido pelo Instituto Brasileiro de Finanças de Minas Gerais (IBEF-MG). Qual a importância desse prêmio para sua carreira, principalmente por ter sido escolhida por colegas profissionais de finanças?

Receber o prêmio Equilibrista de uma instituição tão renomada e de tanto prestígio como o IBEF-MG foi um verdadeiro marco na minha carreira. Fiquei muito grata aos meus colegas profissionais de finanças e à toda diretoria do IBEF-MG pelo reconhecimento e nomeação. A repercussão do prêmio foi enorme, recebi várias mensagens de incentivo, me reconectei com várias pessoas com quem trabalhei no passado e tudo isso foi motivo de muita felicidade para mim. Esta iniciativa do IBEF-MG é extremamente positiva. Ela ajuda a valorizar e reconhecer os profissionais de finanças, nos deixando mais conectados e, consequentemente, mais bem preparados para enfrentar os desafios da nossa profissão. Acredito muito na importância de nos unirmos cada vez mais como profissionais e o IBEF-MG tem um papel fundamental nisto, o qual vem executando com maestria: promovendo encontros, debates, oportunidades de desenvolvimento, conexão, networking e, também, reconhecimento professional.

Além disto, o significado do prêmio em si é muito interessante e me identifiquei na hora quando fui buscar detalhes de sua história. Ele fala da nossa responsabilidade profissional em tomar decisões visando compatibilizar e equilibrar os interesses e necessidades dos diversos stakeholders que interagem com a empresa, como os acionistas, comunidade, governo, meio ambiente e funcionários, sem renunciar aos princípios éticos e dos nossos valores. Decisões às vezes difíceis, que nem sempre agradam a todos. Algumas vezes solitárias, mas necessárias no exercício da nossa função de forma plena.

A pandemia da Covid-19 fez com que diversas empresas tivessem que se reinventar. A condução da Anglo American durante a pandemia precisou passar por transformações e readequações em seus processos?

A pandemia nos tirou o que tanto gostamos e não estávamos acostumados a perder: o controle e a previsibilidade. Estamos passando por um momento no qual as respostas que até então conhecíamos não são mais suficientes. Mas também vimos como somos adaptáveis e conseguimos responder às situações de forma ágil.

No caso da Anglo American, por ser um grupo econômico diversificado, com diferentes commodities em diferentes geografias, estamos sendo impactados de forma distinta em cada localidade. Mas sem dúvida, toda as nossas unidades de negócio estão igualmente atuando de forma responsável, priorizando a proteção da saúde e segurança dos funcionários, respeitando os decretos dos órgãos governamentais de onde atuamos, ajudando as comunidades locais com doações e seguindo todas as orientações dos órgãos competentes. Não deixamos de cumprir com nosso papel econômico e social, protegendo empregos e seguindo com a continuidade das nossas operações.

Alguns países onde atuamos já estão com a situação da pandemia bem mais controlada, como a Austrália e a Inglaterra, outros ainda estão em fase bastante critica, como a África do Sul.

De qualquer forma, a principal transformação que a pandemia causou foi mesmo nas pessoas. No mundo corporativo, tivemos que aprender, do dia para a noite, a liderar através da tela de um computador, muitas vezes sem sequer ver as expressões faciais das pessoas, sem poder perceber como elas estão se sentindo, sem saber ao certo o nível de sofrimento psicológico/emocional, que aquela pessoa ou sua família estavam passando. Se a liderança por si só já é solitária, neste momento então a solidão foi exponencialmente maior. Isso exigiu ainda mais de nós e exercer a liderança deixou de ser um papel importante e passou a ser fundamental.

Você está de mudança para a Inglaterra para assumir o cargo de Diretora Financeira – CFO na Divisão Global Técnica e Sustentabilidade da Anglo American, conte um pouco sobre suas expectativas e os próximos desafios.

Estou muito animada para esta nova etapa na minha trajetória profissional. Não foi fácil sair do meu cargo anterior, como CFO das operações da Anglo American no Brasil e abandonar um ambiente de trabalho excepcional liderado pelo nosso CEO Wilfred Bruijn, um time de executivos e profissionais brilhantes, em dois negócios muito promissores e que estão operando tão bem, minério de ferro e níquel.

Mas foi um ciclo que se encerrou, e felizmente de forma muito positiva, me proporcionando bases sólidas para enfrentar este novo desafio, agora em uma função global, tendo visão e responsabilidades sobre todas nossas commodities e nossas unidades de negócio, à frente da diretoria financeira da divisão global Técnica e Sustentabilidade, baseada na sede da Anglo American em Londres.

A Anglo American tem tido uma postura pioneira à frente do desenvolvimento das mais diversas tecnologias inovadoras, pensando na mineração do futuro, na minimização dos impactos no meio ambiente e nas comunidades, na buscar por fontes alternativas e renováveis de energia, no investimento em tecnologias de ponta. Fazer parte destes debates e destas tomadas de decisão será algo que irá me enriquecer muito como profissional, estando envolvida em temas totalmente alinhados aos meus valores de atuação sustentável e a minha postura de grande apoiadora do setor de mineração.