Nos dias 30 e 31 de maio, às 20h30, na Sala Minas Gerais, a Filarmônica de Minas Gerais recebe pela primeira vez em Belo Horizonte a violoncelista sérvia Maja Bogdanovic, que interpretaráo Concerto para violoncelo e orquestra de sopros,de Gulda. No mesmo concerto, a Filarmônica relembra os 175 anos do compositor russo Nikolai Rimsky-Korsakov interpretando sua Sinfonia nº 2 em fá sustenido menor, op. 9, “Antar”, e o Canto Fúnebre, op. 5, obra composta por Stravinsky em memória de Rimsky-Korsakov, recentemente descoberta e que a Filarmônica revela ao público de Belo Horizonte. A regência é do maestro Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular da Orquestra.

Antes das apresentações, entre 19h30 e 20h, o público poderá assistir aos Concertos Comentados. O convidado desta semana é o violoncelista da Filarmônica de Minas Gerais, Eduardo Swerts. As palestras são gravadas em áudio e ficam disponíveis no site da Orquestra.

Estes concertos são apresentados pelo Ministério da Cidadania e Governo de Minas Gerais e contam com o incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Repertório

Sobre o Canto Fúnebre

Igor Stravinksy (Oranienbaum, atual Lomonosov, Rússia, 1882 – Nova York, Estados Unidos, 1971) e Canto Fúnebre, op. 5 (Em memória de Rimsky-Korsakov) (1908)

Tocada pela primeira e última vez em 1909, julgava-se que a partitura desta obra estivesse perdida, muito provavelmente destruída em razão da Revolução Russa. No livro Memories and Commentaries (Memórias e Comentários), Robert Craft coleta um significativo relato do compositor russo Igor Stravinsky: “O Canto Fúnebre para instrumentos de sopro que compus em memória de Rimsky(-Korsakov) foi ouvido em um concerto regido por (Felix) Blumenfeld em São Petesburgo, logo após a morte de Rimsky. Eu me lembro da peça como o melhor dos meus trabalhos antes de O pássaro de fogo, e o mais avançado em harmonia cromática. As partes orquestrais devem ter sido preservadas em alguma das bibliotecas da Orquestra de São Petesburgo. Eu gostaria que alguém em Leningrado procurasse as partes, porque eu próprio tenho curiosidade de ver o que estava compondo logo antes d’O pássaro de fogo”. Natalia Braginskaya, musicóloga russa especialista em Stravinsky, empreendeu diversas buscas, sem sucesso. Somente na primavera de 2015, mais de cinco décadas depois da declaração de Stravinsky, o manuscrito foi finalmente encontrado, quando a biblioteca do Conservatório de São Petersburgo teve de ser esvaziada para uma reforma.

Sobre Antar

Nikolai Rimsky-Korsakov (Tikhvin, Rússia, 1844 – Lyubensk, Rússia, 1908) e Sinfonia nº 2 em fá sustenido menor, op. 9, “Antar” (1897)

A primeira tentativa de Nikolai Rimsky-Korsakov de incorporar a música do Oriente em suas obras foi em Antar. Seu amigo Alexander Borodin emprestou-lhe um volume francês de melodias árabes coletadas em Argel, capital da Argélia. O resultado é uma obra programática que relata a figura heroica de Antar, em sua viagem por um mundo repleto de maravilhas lendárias. Antar foi um cavaleiro e poeta que viveu na região Norte da Arábia Saudita no período pré-islâmico, entre os anos 608 e 525 antes de Cristo. Tornou-se conhecido por seus feitos de bravura em guerra, preservados pela tradição oral. Orgulhoso de seu, de certo modo, ineditismo em usar “detalhes e floreios orientais”, Rimsky-Korsakov repetiria o feito anos mais tarde em Sheherazade, op. 35.

Sobre o Concerto para violoncelo e orquestra de sopros

Friedrich Gulda (Viena, Áustria, 1930 – Attersee, Áustria, 2000) e Concerto para violoncelo e orquestra de sopros (1988)

Com uma profunda antipatia por autoridades, o “pianista terrorista”, como era chamado Friedrich Gulda, frequentemente se recusava a receber medalhas e reconhecimentos, realizava mudanças de última hora nos programas e, até mesmo, chegou a forjar a própria morte para ver que tipo de obituários seriam escritos sobre ele. Por um lado, Gulda foi um dos mais respeitados pianistas clássicos da história recente. Por outro, um importante compositor que cultivava interesse e parcerias no jazz. Toda essa dicotomia pode ser percebida em algumas de suas composições. Seu trabalho mais celebrado, o Concerto para violoncelo e orquestra de sopros, é o perfeito exemplo. Composto para o violoncelista Heinrich Schiff em 1980, o trabalho teve sua estreia em 1981 no Konzerthaus, em Viena, com o instrumentista e o compositor atuando respectivamente como solista e regente. Logo no primeiro movimento, o que conhecemos é uma obra desafiadora para o músico, não somente pelas dificuldades técnicas envolvidas, como também pelo ritmo empregado. Deve ser tocada com precisão pelo solista, sem vibrato.