Mirtes Helena Scalioni

De uma tacada só, o argentino Gastón Duprat coloca o espectador diante de temas tão sérios quanto abstratos como ética, arte, valores, amadurecimento, marketing, manipulação, amizade, hipocrisia. O filme em questão é “Minha Obra-Prima” (“Mi Obra Maestra”), e o diretor é relativamente conhecido do público brasileiro desde o inesquecível “O Cidadão Ilustre“, de 2016. Dessa vez, ele vai um pouco mais longe, usando cinismo e suspense para contar a história de um artista plástico em fim de carreira.

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Renzo Nervi (Luis Brandoni) é um velho pintor rabugento que já teve seus dias de glória, mas não consegue mais vender suas obras. Saiu da moda para a maioria dos apreciadores de arte. Menos para um discípulo que teima em aprender com ele, apesar dos seus métodos nada ortodoxos de ensinar, e para o marchand Arturo Silva (Guilhermo Francella), que insiste em recolocar as obras de Nervi no mercado. Detalhe: Nervi e Auturo são amigos há mais de 40 anos e se conhecem muito bem.

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Os diálogos, inteligentes, dinâmicos e criativos são o grande trunfo de “Minha Obra-Prima” e ajudam a envolver o espectador, que vai colhendo e desfazendo pistas ao longo do filme que, a certa altura, se transforma em suspense. Brandoni e Guilhermo Francella atuam em sintonia perfeita e o jogo entre esses dois grandes atores merece todos os aplausos. A personalidade sui generis de Renzo Nervi, revelada de forma quase histriônica pelo talento de Luiz Brandoni, numa interpretação irretocável, é, de certa forma, outra atração. Arrogante, exótico e egoísta, o pintor esbalda antipatia de uma forma tão peculiar que acaba por ganhar a simpatia do público, que começa a concordar com as atitudes extremas dele.

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Surpreendente talvez seja a palavra que melhor define “Minha Obra-Prima” que, enquanto toca nas mazelas da arte, desnuda conceitos, critica a elite dita intelectual e coloca em xeque a importância e o valor do marketing nesses tempos de mídias poderosas e de celebridades em busca de fama e dinheiro a qualquer preço. O filme está em exibição na sala 1 do Belas Artes, sessões às 15h40 e 19h40.
Duração: 1h41
Classificação: 14 anos