A programação também conta com obras de Richard Strauss, Mendelssohn e Beethoven
A história da música ocidental é basicamente definida pela produção alemã. Seja no volume, seja na qualidade, é impossível não reverenciar a enorme contribuição que os compositores germânicos deram à música. No dia 20 de outubro, às 18h, na Sala Minas Gerais, a Filarmônica de Minas Gerais, dentro de sua série Fora de Série –Expedições Musicais: Alemanha vai apresentar a invenção e a criatividade da Suíte de Richard Strauss; a formalidade e integridade da Sinfonia de Mendelssohn (em celebração aos 500 anos da Reforma Luterana) e a dramaticidade típica de um dos maiores gênios da música, Ludwig van Beethoven.
A regência é do maestro Marcos Arakaki. Os músicos da Orquestra Alexandre Silva (clarinete), Roberto Papi (viola principal assistente) e Ayumi Shigeta (piano principal) interpretam a fantasia do Trio de Shumann, Contos de fadas, op. 132. Os programas da série Fora de Série em 2018 sempre têm uma obra de câmara apresentada por músicos da Filarmônica.
Em 2018, a série Fora de Série tem como tema Expedições Musicais. Os nove concertos exploram diferentes regiões e culturas por meio das variações formais que a música pode ter. As apresentações são iniciadas com obras camerísticas, e o repertório segue com peças de estruturas musicais maiores para grupos mais numerosos. Os temas dos concertos são: Itália, França, Rússia, Leste europeu, Estados Unidos, Países hispânicos, Países nórdicos, Alemanha e Brasil.
Este concerto é apresentado pelo Ministério da Cultura e Aliança Energia por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
O repertório
“Expedições: Alemanha”
Robert Schumann (1810 – 1856): Contos de fadas, op. 132
Richard Strauss (1864 – 1949): Suíte em Si bemol maior, op. 4
Felix Mendelssohn (1809 – 1847): Sinfonia nº 5 em Ré maior, op. 107, “Reforma”
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827): Egmont: Abertura
Robert Schumann viveu o Romantismo de maneira radical (até o fascínio e os terrores da loucura) e converteu em estímulos musicais várias aspirações do movimento – o mistério da noite, a infância, a floresta encantada, as terras distantes. Manifestando a pluralidade de seu mundo interior, toda sua música traz um aspecto biográfico. Mestre incontestável nas peças para piano e nos Lieder de encanto permanente, o compositor só se consagrou à música de câmara na maturidade. Escritos no ocaso de sua vida, os Contos de fadas, op. 132, preservam o dom genial de Schumann para criar, em poucos compassos, um intenso sentimento poético – comovente confidência de seus últimos momentos de lucidez.
Os filósofos românticos valorizaram a Música como singular caminho para o reino espiritual, capaz de exprimir sentimentos profundos não contidos nas palavras. Ao mesmo tempo, o Romantismo cultivou o ideal grego das artes irmãs, incentivando entre elas um diálogo permanente. Consagrada por Berlioz, Liszt e Wagner, desenvolveu-se a ideia do poematismo, ou seja, a ordenação do discurso sonoro pela lógica motriz de ideias extramusicais. A partir do final do século XIX, Richard Strauss, em seus muitos poemas sinfônicos, contribuiu de maneira muito pessoal para a continuidade dessa música, também chamada programática.
Entretanto, a formação inicial de Strauss fora marcada pela orientação conservadora do pai, trompista famoso, antiwagneriano declarado que só apreciava os compositores clássicos. A Suíte para sopros é uma obra da juventude, composta aos vinte anos de idade. Os dois primeiros movimentos revelam sua matriz mozartiana. Nos dois últimos, já se vislumbra o estilo sinfônico do grande orquestrador Strauss, um dos maiores compositores alemães da geração pós-wagneriana, também célebre por sua brilhante trajetória como regente.
Com o advento dos concertos pagos, o Romantismo trouxe para a música a ideia do artista independente, genial, respeitado e endeusado pelo público. Um dos músicos mais festejados de sua época, Felix Mendelssohn exemplifica essa nova ordem social. Filho de um poderoso banqueiro israelita, menino prodígio, recebeu uma educação sofisticada, abrangendo ciências, artes e o melhor do cânone da música ocidental. Suas obras aliam a elegância e o refinamento da escrita clássica a um espírito já romântico que se mantém sincero, bem-comportado, às vezes idílico.
Na Sinfonia nº 5, Mendelssohn emprega algumas melodias tradicionais da liturgia luterana, visando à celebração, em Augsburgo, do tricentenário da Reforma de 1530 – entre elas, o coral utilizado por Bach, em 1730, para a mesma comemoração. Por motivos políticos, a Sinfonia só estreou em 1832, em Berlim, regida pelo próprio compositor. Como maestro, Mendelssohn foi ousado e exerceu forte influência na vida musical de seu tempo. Reapresentou a Paixão segundo São Mateus de Bach, exatamente um século após sua estreia; revelou ao público a Grande Sinfonia em Dó maior de Schubert e divulgou, em primeiras audições, a música renovadora de Schumann, cuja carreira incentivou incondicionalmente.
A peça Egmont, de J. W. Goethe, tem como tema central a liberação política no século XVI, quando o conde Egmont lidera o povo flamengo em sua revolta contra a tirania espanhola sobre a região de Flandres. Terminou de ser escrita em 1787, quando Beethoven contava então com dezesseis anos. Foi durante esse seu período de adolescência que o jovem gênio teve contato com o trabalho de Goethe e outros autores alemães associados ao movimento literário Sturm und Drang, que valorizava os sentimentos e a originalidade em oposição ao formalismo cultuado anteriormente.
A leitura de Goethe e Schiller, principalmente, canalizou aspirações artísticas de Beethoven para os ideais inflamados de liberação pessoal e revolução social. A força comunicativa dessas peças provocava intensa reação do público, e elas certamente tornaram-se modelos estéticos fundamentais para o jovem compositor, que visava ampliar o conteúdo emocional de suas obras. A música de Egmont, porém, só seria escrita anos mais tarde, para uma reapresentação vienense da peça, em maio de 1810. Compõe-se de nove números, incluindo duas canções para a heroína Clärchen. Raramente é executada integralmente; a Abertura, em compensação, tornou-se célebre e permanece obrigatória no repertório das grandes orquestras.
Maestro Marcos Arakaki
Regente Associado da Filarmônica, Marcos Arakaki colabora com a Orquestra desde 2011. Sua trajetória artística é marcada por prêmios como o primeiro lugar no Concurso Nacional Eleazar de Carvalho para Jovens Regentes (2001) e no Prêmio Camargo Guarnieri (2009). Foi semifinalista no Concurso Internacional Eduardo Mata (2007).
O maestro foi regente assistente da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), bem como titular da OSB Jovem e da Sinfônica da Paraíba. Dirigiu as sinfônicas do Estado de São Paulo (Osesp), do Teatro Nacional Claudio Santoro, do Paraná, de Campinas, do Espírito Santo, da Paraíba, da Universidade de São Paulo, Filarmônica de Goiás, Petrobras Sinfônica e Orquestra Experimental de Repertório. No exterior, regeu as filarmônicas de Buenos Aires e da Universidade Autônoma do México, Sinfônica de Xalapa, Kharkiv Philharmonic da Ucrânia e Boshlav Martinu Philharmonic da República Tcheca.
Arakaki tem acompanhado importantes artistas do cenário erudito, como Pinchas Zukerman, Gabriela Montero, Sergio Tiempo, Anna Vinnitskaya, Sofya Gulyak, Ricardo Castro, Rachel Barton Pine, Chloë Hanslip, Luíz Filíp, Günter Klauss, Eddie Daniels, David Gerrier e Yamandu Costa.
Natural de São Paulo, é Bacharel em Música pela Universidade Estadual Paulista, na classe de Violino de Ayrton Pinto, e Mestre em Regência Orquestral pela Universidade de Massachusetts. Participou do Aspen Music Festival and School, recebendo orientações de David Zinman na American Academy of Conducting at Aspen. Esteve em masterclasses com Kurt Masur, Charles Dutoit e Neville Marriner.
Seu trabalho contribui para a formação de novas plateias, em apresentações didáticas, bem como para a difusão da música de concerto em turnês a mais de setenta cidades brasileiras. Atua como coordenador pedagógico, professor e palestrante em projetos culturais, instituições musicais e universidades.
Alexandre Silva, clarinete
Alexandre iniciou seus estudos na Sociedade Musical Euterpina Juvenil Nazarena em sua cidade natal, Nazaré da Mata, Pernambuco. É Mestre em Performance Musical pelo Conservatório da Suíça Italiana, na classe de François Benda, e Bacharel pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na classe de Maurício Loureiro. Com a Orquestra do Conservatório da Suíça Italiana, foi solista no Concerto para clarinete nº 2 de Bernhard Crusell e no Concerto para clarinete nº 2 de Ludwig Spohr, estreando este último no Brasil, como vencedor do concurso Jovens Solistas da UFMG. Alexandre integrou o grupo de música contemporânea 900 e, em 2010, foi bolsista da Williamson Foundation for Music e da Familien-Vontobel-Stiftung. É clarinetista da Filarmônica desde 2011.
Roberto Papi, viola
Antes de se juntar à Filarmônica em 2012, Papi vivia em Miami, onde integrava a New World Symphony. O violista já se apresentou em festivais na Itália e nos Estados Unidos, incluindo o Spoleto Festival dei Due Mondi, Tanglewood Music Center, Aspen Music Festival, Texas Music Festival e Amelia Island Chamber Music Festival. Com uma intensa atividade camerística, apresentou-se com James Dunham, Roberto Díaz, Norman Fischer, Christopher Rex, Jeffrey Khaner e outros. Antes de se dedicar à viola, Papi começou estudando violino sob orientação de Fabrizio Ammetto, em Spoleto, na Itália. Graduou-se em Música pela Vanderbilt University (Estados Unidos), na classe de Kathryn Plummer, e obteve seu mestrado em Música pela Rice University, com James Dunham.
Ayumi Shigeta, piano
Camerista premiada em diversos concursos nacionais, Ayumi apresentou-se como solista na Filarmônica de São Paulo, na Orquestra da Rádio e Televisão Cultura e na Osesp, onde tem atuado também como tecladista convidada. Aperfeiçoou-se em festivais, aulas e masterclasses com professores e pianistas renomados, como Paul Rutman, Paul Badura-Skoda e Gilberto Tinetti. Natural de Hyogo-ken, Japão, Ayumi se mudou para o Brasil em 1977. Aos quinze anos, realizou seu primeiro recital solo, no Masp, executando o Concerto de Brandemburgo nº 5 de Bach. Estudou na Escola Municipal de Música de São Paulo e na Fundação Magda Tagliaferro, onde é professora de piano desde 2000. Graduou-se pela Faculdade Mozarteum e é Mestre pela Unicamp, sob orientação de Eduardo Garcia e Mauricy Martin. Com bolsa da Fundação Vitae, formou-se em Cravo sob a orientação de Ilton Wjuniski na Fundação Magda Tagliaferro. É Tecladista Principal da Filarmônica desde 2010.
Sobre a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais fez seu primeiro concerto em 2008, há dez anos. Diante de seu compromisso de ser uma orquestra de excelência, cujo planejamento envolve concertos de série, programas educacionais, circulação e produção de conteúdos para a disseminação do repertório sinfônico brasileiro e universal, a Filarmônica chega a 2018 como um dos mais bem-sucedidos programas continuados no campo da música erudita, tanto em Minas Gerais como no Brasil. Reconhecida com prêmios culturais e de desenvolvimento econômico, a nossa Orquestra, como é carinhosamente chamada pelo público, inicia sua segunda década com a mesma capacidade inaugural de sonhar, de projetar e executar programas valiosos para a comunidade e sua conexão com o mundo.
SERVIÇO:
Série Fora da Série
Data: 20 de outubro
Horário: 18h
Expedições: Alemanha
Endereço: Sala Minas Gerais