Com sessões esgotadas na primeira temporada, espetáculo da Zula Cia. de Teatro estará em cartaz de 31 de maio a 9 de junho
Belo Horizonte, 21 de maio – Depois de quatro semanas em cartaz e sessões esgotadas entre março e abril deste ano, a peça Banho de Sol, da Zula Cia. de Teatro, volta aos palcos do Centro Cultural Banco do Brasil – Belo Horizonte para uma curta temporada: de 31 de maio à 9 de junho, de sexta-feira a domingo, às 19 horas. Os ingressos são vendidos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Faça sua reserva pelo site: eventim.com.br. Outras informações em culturabancodobrasil.com.br/belohorizonte
A realização da segunda temporada foi motivada pelo sucesso de público (mais de 1500 espectadores) e grande interesse pelo tema do espetáculo: a vida de mulheres em situação de cárcere. Afinal, quem são essas mulheres? O que elas fazem, o que pensam, do que elas gostam? Essas e outras questões são apenas o ponto de partida de uma peça visceral, sensível e que estimula uma reflexão necessária sobre as mulheres no sistema prisional brasileiro.
“Tivemos todas as sessões da temporada de estreia esgotadas, com muita gente voltando para casa. Muitas pessoas nos procurando nas redes sociais para saberem quando retornaríamos. E é importante ressaltar que são pessoas de áreas diversas: profissionais da psicologia, medicina, advogados, professores da UFMG e de universidades do interior de Minas, pesquisadores e trabalhadores do sistema prisional, adolescentes que cumprem pena no socioeducativo, egressas do sistema prisional e também estudantes e artistas de teatro. Entendemos que era urgente voltar e dar continuidade a esta discussão. É urgente fazer com que o encontro que ecoou em nós tantas questões políticas, sociais e afetivas, continue reverberando em tantas outras pessoas”, destaca Talita Braga, atriz e fundadora da Zula Cia. de Teatro, que estrela o espetáculo ao lado das atrizes Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer e Mariana Maioline.
Banho de Sol é fruto do projeto “A arte como possibilidade de liberdade”, composto, dentre outras atividades, por aulas de teatro que foram realizadas em um complexo penitenciário feminino ao longo de um ano, durante o banho de sol das participantes. “A princípio a ideia era somente fazer com que essas mulheres tivessem a oportunidade de vivenciar uma experiência artística, momentos de troca, de afeto, de integração entre elas e ver como essas atividades reverberavam no cotidiano delas. Mas a realidade vivenciada por nós foi tão intensa que nos provocou a criar uma obra para que esta vivência pudesse dar voz às mulheres em situação de cárcere”, ressalta Talita Braga.
O encontro entre as artistas e as participantes, assim como as modificações provocadas por essa experiência em cada uma das mulheres em privação de liberdade, foram os motes da criação dramatúrgica da peça, assinada por Talita Braga, e que também está à frente da direção, junto de Mariana Maioline. O figurino, cenografia e expografia são de Alexandre Tavera; a iluminação é de Cristiano Oliveira, trilha sonora e vídeos de André Veloso e produção executiva de Andréia Quaresma.
“A intenção da peça é, a partir das memórias e experiências dessas mulheres, dividir com o público o processo de transformação que todas elas vivenciaram ao longo de um ano de trabalho dentro de um complexo
penitenciário. Trazer à tona os preconceitos, julgamentos, a crise do sistema prisional, a opressão, o abandono das mulheres em privação de liberdade, mas também o poder humanizador da arte, o poder do afeto. Tudo isso a partir de memórias de corpos que ouviram, viram, viveram e conviveram com essa realidade. Nossos corpos e vozes serão a ponte para trazer para a sociedade toda a discussão vivenciada dentro do presídio”, destacam as atrizes.
A arte como possibilidade de liberdade
Com um trabalho focado na mulher em situações marginais, a Zula Cia. de Teatro tem como ponto de partida para a criação teatral histórias e depoimentos reais como em seus primeiros espetáculos “As rosas no jardim de Zula” (de 2012 com direção de Cida Falabella) e “MAMÁ!” (de 2015, com direção de Grace Passô). A partir desses trabalhos, a companhia se firmou como um grupo de pesquisa de teatro documentário e teatros do real, com foco no feminino e na condição da mulher na sociedade atual.
Trabalhar com mulheres em situação de cárcere era um desejo antigo de Talita Braga, mas foi em 2016, ao participar do núcleo de pesquisa para arte-educadores no Galpão Cine Horto, que o projeto começou a ganhar vida. Ela conta que as atividades eram coordenadas pela Gláucia Vandeveld, que já tinha realizado atividades teatrais em unidades prisionais e acumulava experiência nesse universo. Foi desse encontro que surgiu o projeto que teve como fio condutor a questão: “é possível que a arte ofereça momentos de liberdade à mulheres em situação de cárcere?”
Na época, as atividades consistiam em aulas de teatro e criação de um espetáculo para um grupo de 30 mulheres em privação de liberdade que cometeram crimes de repercussão. Ao lado das atrizes que estrelam a peça, juntaram-se ao projeto Priscylla Lobato, arte-educadora e atriz que integrou a equipe na primeira etapa do trabalho, André Veloso, Alexandre Tavera, Philippe Albuquerque, Ana Haddad e Cristiano Oliveira. Além da iniciação à prática teatral, momentos de fruição artística e elaboração criativa, foi realizada uma exposição de artes visuais baseada nas experiências e relatos discutidos durante as aulas. A iniciativa, em todo seu conjunto, foi uma das finalistas do Prêmio Innovare de 2016, que tem o objetivo de identificar e difundir práticas que contribuem para o aprimoramento da justiça no Brasil.
“A realização do projeto nos provocou a sairmos de um lugar cômodo, de acharmos que teríamos muito a dar e pouco a receber e, no entanto, a intensidade dessa troca nos colocou em cheque. Nos confrontamos com nossos privilégios de mulheres brancas de classe média, com nossos preconceitos e nossa arrogância. Encontramos afeto verdadeiro, cumplicidade e cuidados umas com as outras e fomos atravessadas por esses sentimentos. O que fica pra gente são perguntas: a vida pulsa em situações extremas? O afeto é capaz de transformar vidas? Como manter a lucidez? Quando é que uma luta passa a ser uma causa sua? O que eu tenho a ver com isso? Como me haver com isso? É preciso te ferir pra você olhar pra ferida? Mas fica também uma certeza: é preciso repensar o sistema prisional”, sublinham Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer, Mariana Maioline e Talita Braga.
Situação das mulheres privadas de liberdade
Apesar de o número de mulheres em situação de cárcere ser bem inferior ao de homens, essa proporção tem se alterado rapidamente. Enquanto o número de homens presos aumentou 106% entre 2000 e 2010, o número de mulheres encarceradas foi ampliado em 261% no mesmo período. Hoje, já são mais de 42 mil mulheres que estão privadas de liberdade, um aumento 656% em relação ao ano 2000. De acordo com o Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias), o Brasil é o 4º país que mais prende no mundo, atrás dos Estados Unidos, China e Rússia. Entre a população carcerária feminina, 62% são negras, 74% são mães e 45% não foram julgadas.
FICHA TÉCNICA
Espetáculo: “Banho de Sol”
Realização: Zula Cia. de Teatro
Patrocínio: Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte
Apoio:Galpão Cine Horto e C.A.S.A (Centro de Arte Suspensa e Armatrux)
Cessão de Espaço: Centro Cultural Banco do Brasil – Belo Horizonte
Direção: Mariana Maioline e Talita Braga
Direção de textos: Ana Hadad
Dramaturgia: Talita Braga
Textos: Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer, Mariana Maioline e Talita Braga.
Criação e atuação: Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer, Mariana Maioline e Talita Braga.
Cenografia, figurino e expografia: Alexandre Tavera
Iluminação:Cristiano Oliveira
Som e vídeos: André Veloso
Produção executiva: Andréa Quaresma
Comunicação visual: Philippe Albuquerque
Assessoria de imprensa: Mira Comunicação
SERVIÇO
O que: peça “Banho de Sol”
Quando: 31/05 a 09/06, de sexta-feira a domingo, às 19 horas
Onde: CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários)