CEOs da Onfly, de gestão de viagens corporativas, e da Lecupon, de programas de lealdade, compartilham suas experiências no enfrentamento da conjuntura adversa
Desde o primeiro semestre deste ano, quando as chamadas “unicórnios” – startups que atingiram US$ 1 bilhão de valor de marca – anunciaram centenas demissões, a sensação é a de que uma crise se instalou no setor. Indicadores reforçam essa percepção. Por exemplo, a captação de recursos em rodadas de investimentos caiu 44% no período, em comparação com os primeiros seis meses de 2021 (dados da plataforma Distrito).
Porém, na contramão dessas dificuldades, há empreendimentos anunciando aportes, expansão e contratações, entre eles, duas startups de Minas Gerais. São elas: a Onfly, de viagens corporativas; e a Lecupon, de programas de lealdade (o que inclui clube de benefícios e fidelidade). Mas, afinal, qual a receita para não só resistir à má fase do mercado, como continuar crescendo?
Para o CEO da Onfly, Marcelo Linhares, não perder o foco na inovação e contar com uma equipe engajada, que acredita no propósito da empresa, estão entre os atributos que fazem a plataforma enfrentar as turbulências da conjuntura econômica. Aliás, a travel tech acaba de ser selecionada para a edição do Scale-Up Endeavor, programa de aceleração da Endeavor Brasil.
Uma conquista almejada desde 2019, conforme palavras do próprio Linhares. “Com determinação e várias tentativas, fomos selecionados”, afirma, indicando a persistência como um dos adjetivos que explicam os bons resultados. Depois do impacto inicial com a pandemia de covid-19, em 2020, a Onfly “arremeteu” e vem crescendo “exponencialmente”.
Marcelo Linhares, CEO da Onfly
Só no primeiro semestre deste ano, com a retomada das viagens corporativas, a startup registrou incremento de 650% em volume transacionado de reservas e de 550% em receitas, informa Linhares. O número de clientes saltou de 135 para 500; a meta é chegar a 1 mil ainda em 2022. O quadro de funcionários praticamente dobrou, do ano passado para cá eram 60, agora são 115. “Contratamos, principalmente, desenvolvedores e time de TI (Tecnologia da Informação)”.
Também estão na persistência, na inovação constante e no investimento em equipes engajadas os ingredientes para a Lecupon superar os obstáculos que a conjuntura impõe, de acordo com o CEO da startup de gestão de programas de lealdade, Aluisio Cirino. Aliás, a própria concepção da solução oferecida pela Lecupon é fruto de visão inovadora e persistente.
Explica-se: a startup preferiu renunciar aos já consolidados clubes de benefícios e fidelidade, para apostar no conceito de programas de lealdade. Aposta que consiste não apenas em apresentar esse produto ao mercado, como investir em estratégias de comunicação e marketing que façam esse mercado compreender o conceito. “Ainda não é muito conhecido no Brasil, mas nos propomos a isso também: difundi-lo”, assinala o CEO da Lecupon.
Aluisio Diniz Cirino, CEO da Lecupon
Outro cuidado foi o de escapar do caminho mais fácil, o de oferecer uma plataforma padronizada. Ao contrário, um dos diferenciais da solução, diz o executivo, está na possibilidade de customização pelo cliente. “A plataforma fica, então, com a ‘cara’ do nosso cliente. Com tudo isso, conseguimos estabelecer uma conexão entre as marcas e as pessoas”, ressalta Cirino. Ou, mais precisamente: criar lealdade entre os elos.
Chegar até os atuais R$ 4 milhões de faturamento por ano, 3 milhões de usuários em 300 empresas localizadas em 23 estados brasileiros exigiu, no início, muita sola de sapato. “Era um porta a porta, para firmar parcerias com os comerciantes de Belo Horizonte”, lembra Cirino, quando do início da startup, em 2016.
Ou seja, tanto pelos relatos de Linhares, da Onfly, como de Cirino, da Lecupon, fica evidente: não existe receita para superar adversidades que não envolva muito suor, saliva, capacidade de entender e resistir às dificuldades. E um trabalho que envolve não só os executivos, como todo o time de colaboradores.