Catálogo sobre o processo de restauração será disponibilizado para download gratuito
Para encerrar o ciclo comemorativo de 15 anos, a Casa Fiat de Cultura realiza a última etapa da restauração das obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, devolvendo as esculturas do séc. XVIII à comunidade. Com duração de cinco meses, o projeto “Aleijadinho, arte revelada: o legado de um restauro” contemplou pesquisas históricas, artísticas, iconográficas e científicas, passando por várias etapas de um minucioso processo de restauro em ateliê aberto ao público. As obras do mestre do Barroco, Sant’Ana Mestra, São Joaquim e São Manuel, agora já restauradas, serão entregues às suas comunidades – Capela de Sant’Ana, em Chapada de Ouro Preto/MG; Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Raposos/MG; e Paróquia de Nossa Senhora do Bonsucesso, em Caeté/MG – reafirmando o compromisso da Casa Fiat de Cultura com a sociedade e com o patrimônio histórico e cultural brasileiro. Sant’Ana Mestra será a primeira a ser entregue, no dia 16 de fevereiro, no Museu de Arte Sacra de Mariana, onde permanecerá em exibição e poderá ser vista pelo público pela primeira vez após o restauro. A entrega de São Joaquim e São Manuel também acontecerá em fevereiro. Ainda este mês serão lançados um minidocumentário, que registra todo o processo do restauro, e o catálogo com o histórico das obras e dos detalhes de cada etapa da restauração, iniciada no segundo semestre de 2021. O material ficará disponível, para download gratuito, no site da Casa Fiat de Cultura.
“Com este projeto, realizamos uma viagem à época de Aleijadinho, reforçando a importância de valorizar nossa memória. Agora, damos mais um passo importante, que é devolver às comunidades obras que foram cuidadosamente restauradas pela Casa Fiat de Cultura e que são representativas da identidade mineira. Deixamos um legado para as gerações futuras sobre nossas raízes”, ressalta Ana Vilela, gestora cultural da Casa Fiat de Cultura.
Desde a chegada à Casa Fiat de Cultura, em outubro de 2021, foram dedicadas mais de 500 horas a esse minucioso trabalho de restauração, de acordo com as necessidades de intervenções específicas a cada uma das obras. Todo o processo técnico foi realizado pelo Grupo Oficina de Restauro, sob coordenação da restauradora Rosangela Reis Costa.
Entre os meses de novembro de 2021 e janeiro deste ano, 150 mil pessoas tiveram a oportunidade de acompanhar, seja por meio de visitas presenciais ou pela programação virtual, o restauro dessas três importantes obras de Aleijadinho. Cada etapa do projeto foi documentada e compartilhada com o público pelas redes sociais em uma websérie de sete capítulos, uma forma das gerações futuras também terem acesso a esses registros. A websérie pode ser vista no YouTube: https://bit.ly/PlaylistWebsérie. A instituição prepara, ainda, um minidocumentário que destaca todo o caminho percorrido desde a chegada das obras à Casa Fiat de Cultura, em outubro de 2021, à entrega às comunidades em fevereiro de 2022.
O restauro ainda contou com o acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que preparou um guia com orientações de conservação das obras. O material será entregue às comunidades com o objetivo de contribuir para a salvaguarda do patrimônio.
O resultado do restauro
A obra de São Manuel foi uma preciosidade para as restauradoras, afinal, sua pintura foi identificada como original. A imagem passou pela limpeza com diferentes tipos de produtos específicos para tal e, paralelamente, foi feito o preenchimento com resina própria para reparar as junções de madeira, as fissuras e as rachaduras que ocorreram com o tempo. Esse trabalho resultou na dissimulação das perdas, passando a oferecer uma leitura o mais íntegra possível da peça.
Já em São Joaquim percebeu-se, por meio de fotos usando fluorescência de ultravioleta e infravermelho, que a pintura mais antiga já havia sido totalmente removida, e a atual completou 100 anos em 2021, conforme pôde ser conferido na assinatura da obra, datada de 7 de dezembro de 1921. Na obra, o principal trabalho foi de preservar essa pintura centenária.
Sant’Ana Mestra já tinha um histórico de restauração feito na década de 1960. Na Casa Fiat de Cultura, a obra foi a última a ter o processo de restauro finalizado por se tratar de uma obra maior, com mais elementos e pela necessidade emergente do processo de descupinização, que foi realizado por meio de tecnologia de ponta com gases inertes (uma bolsa sem a presença de oxigênio que garante a total desinfestação de cupins em madeira). Nas fotos científicas, a obra surpreendeu as restauradoras: usando luz infravermelha foi possível perceber a sobrancelha alta e bem delineada, e com o raio X descobriu-se que os olhos, bem como o cabelo em curvas sob a testa, como uma franja, estavam encobertos por massa. Todos esses traços, característicos de Aleijadinho e agora visíveis, foram revelados pela restauração.
“Estou muito satisfeita com o trabalho que realizamos, desde o momento em que começamos a estudar sobre as obras, o que a gente previu executar, e o resultado ao qual chegamos, foi muito surpreendente. Agora, devolvemos às comunidades obras bem cuidadas, íntegras e mantendo as características de época. O mais interessante é que com esse projeto conseguimos reforçar sobre a importância da preservação da nossa memória”, pontua a restauradora e coordenadora do projeto de restauro, Rosangela Reis Costa.
Casa Fiat de Cultura
A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em braille e atendimento em libras. Mais de 60 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 15 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 3,2 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 580 mil participaram de suas atividades educativas.
SERVIÇO
Casa Fiat de Cultura
Circuito Liberdade
Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – BH/MG
Horário de funcionamento: de terça a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.