O espetáculo musical que usa a internet como plataforma para incentivar o interesse pela música clássica oferece ao público a oportunidade de assistir a um recital de piano gratuito, de dentro de casa, minimizando barreiras geográficas e financeiras


Devaneio, de Luis Fernando Cirne
Aliando música programática para piano solo com as visualidades poéticas da cenografia, da iluminação e da projeção de vídeo mapeada (videomapping),  o espetáculo é um convite à uma experiência musical e visual inédita


Federico Mompou (1893 – 1987), Domenico Scarlatti (1685 – 1757), Johann Sebastian Bach (1685 – 1750) e Frédéric Chopin (1810 – 1849) são alguns dos compositores eleitos pelo pianista Luis Fernando Cirne para o concerto Devaneio, criado com recursos visuais de cenografia, iluminação e videomapping, oferecendo uma experiência sinestésica de música clássica para o público. Criado com apoio do PROAC Expresso Lei Aldir Blanc o concerto será exibido pelo canal do Youtube do pianista e pelo Facebook do Teatro Arthur Azevedo nos dias  26, 27 e 28 de março (sexta e sábado, às 21h; e domingo, às 19h) e do Teatro Paulo Eiró nos dias 2, 3 e 4 de abril (sexta e sábado, às 21h; e domingo, às 19h). A direção e produção são de Otávio OscarDaniele Desierrê assina cenografia e figurino, Luciana Ramin produz o videomapping e Luana Gouveia concebe a iluminação.

O repertório não seguiu critérios temporais ou estilísticos – a seleção privilegiou aspectos harmônicos e de caráter – músicas lentas, movidas, alegres, melancólicas, oníricas etc. O pianista selecionou tanto músicas muito conhecidas pelo grande público quanto outras de menor alcance popular.

“A não linearidade cronológica e estilística na ordem das músicas causa a cada nova peça uma surpresa, uma mudança de atmosfera musical que, pelo contraste, torna as diferenças entre os compositores e seus estilos mais evidentes e também a escuta mais dinâmica e interessante”, conta o pianista.

Pianista, midi-controller performer e professor de piano online, Luis Fernando Cirne é graduado em Música pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Mestre pela School of Music of Arizona State University (ASU) e Doutor pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo com a tese “Scarlatti e Beethoven: Proximidades?”. Iniciou seus estudos musicais em 1980, recebendo instrução nas áreas da teoria musical, prática e interpretação pianística, história da música, percepção auditiva e análise musical. Desde 1983 trabalha como músico-educador no ensino de piano, interpretação pianística, teoria musical, percepção, análise musical, história da música, apreciação e reflexão musical.

Concepção de Devaneios

Desde o início da pandemia, em março de 2020, Luis Fernando Cirne iniciou uma série de estudos com o piano digital MIDI adquirido em 2017, um teclado da marca Roland, empresa de pianos elétricos que desenvolveu uma tecnologia avançada de teclado para pianos digitais bastante precisa.

Por conta da sua estrutura de contrapesos (para imitar o peso da máquina do piano acústico), o teclado da Roland é mais pesado do que os outros teclados eletrônicos comuns e imita quase com exatidão o “toque” de um piano de cauda inteira.

O piano digital (teclado Roland ligado ao computador) permite uma independência em relação a recursos de estúdio – microfones, salas com isolamento acústico etc – já que o teclado emite diretamente um sinal digital para o computador, que é lido pelo software e o transforma em som de piano, permitindo que o áudio seja reproduzido sem interferência de sons externos e possa ser gravado e/ou veiculado em tempo real para a internet, por meio de transmissão ao vivo.

“Depois de inúmeros testes, finalmente chegamos a um modelo final que integra uma série de softwares que permitem a veiculação do áudio, em conjunto com o vídeo da câmera, através do youtube, assim como em salas de videoconferência. A partir dessa estrutura para apresentações online de piano, montada na sala de casa, criei o concerto Devaneio“, conta o pianista.

O convite para realizar o espetáculo trouxe para o projeto três artistas da visualidade, para complementar o ‘devaneio’ estético e sonoro-visual da obra. A cenógrafa e figurinista Daniele Desierrê desenha um piano como uma escultura em formato de rocha (e ao mesmo tempo prisma), forma sólida que se transmuta a cada nova projeção de vídeo – onde Luciana Ramin experimenta videoartes abstratas que mapeiam e compõem novos contornos  ao piano-pedra. A iluminação de Luana Gouveia dialoga com as formas retas da cenografia, com fachos de luz recortados e um delicado trabalho de cores em composição com os vídeos.

Repertório:

J.S.Bach (1685-1750)                          
Präludium BWV 846

Erik Satie (1866-1925)
Gnossiennes nº1

Federico Mompou (1893-1987)
Musica Callada – VII – Lento

Camargo Guarnieri (1907-1993)
Ponteio nº49

Luis Fernando Cirne (1966)
Livre Improvisação (ad libitum)

Enrique Granados (1867-1916)
Danzas Españolas nº5 “Andaluza”

Scarlatti (1685-1757)                          
Sonata K.247

Chopin (1810-1849)                           
Valse op. 69 nº2

Heitor Villa-Lobos (1887-1959)        
Poema Singelo
A Lenda do Caboclo