Especialista comenta os principais desafios e formas de lidar com a saúde emocional na terceira idade
    Em maio, a Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu um alerta mundial sobre a saúde dos idosos durante a pandemia de Covid-19. De acordo com o relatório, a sobrecarga no sistema de saúde aliado ao isolamento social e riscos maiores da doença para essa faixa-etária, fizeram aumentar os casos de depressão, suicídio, dentre outros transtornos mentais em maiores de 60 anos. Com isso, a ONU também disponibilizou um documento com recomendações para melhorar a expectativa de vida e reduzir o óbito entre essa parcela da população.    

Atualmente, os cuidados emocionais são ainda mais importantes para que os idosos mantenham a qualidade de vida e prevenção correta contra o novo coronavírus e a depressão. Bárbara Côrrea, médica geriátrica, diz que o isolamento social hoje é o maior desafio. “Muitos idosos estão longe de seus familiares – filhos, netos, amigos – por cerca de seis meses. A interação social é extremamente importante em qualquer idade, mas entre os indivíduos idosos ela é fundamental para evitar sintomas depressivos. A solidão e a sensação de abandono já aflige estes idosos e permanecer sem, ou com pouco contato, com pessoas que faziam parte de sua rotina diária traz muito sofrimento”, esclarece.

Ainda de acordo com a médica, diante do quadro atual, uma pequena parcela de idosos pode apresentar um quadro de ansiedade patológica, estresse pós-traumático, depressão e ideias de autoextermínio. “Estes indivíduos precisam de assistência médica especializada – geriatra ou psiquiatra – o mais breve possível”, completa.   Enquanto isso, os idosos que já apresentavam doenças psiquiátricas prévias – como transtorno de ansiedade, depressão, transtorno afetivo bipolar – também merecem uma atenção maior, pois podem agudizar uma doença que estava controlada.

“Nestes pacientes, é muito importante manter a medicação em uso e as consultas com seus médicos – virtual ou presencial. E, principalmente, ficar atento a frases que indicam situação de limite pessoal: ‘eu não aguento mais’, ‘eu só dou preocupação’, ‘eu não aguento mais’. Estas frases indicam sintomas de desesperança, desamparo e depressão e devem ser avaliadas”, alerta.   Além disso, sintomas como alteração de sono, alterações de peso, tristeza, irritabilidade, sensação de inutilidade e desesperança também podem indicar um quadro depressivo.

“Estas queixas devem ser avaliadas por um médico especialista para excluir alguma causa física e estabelecer o diagnóstico correto e tratamento adequado”.  

Como ajudar?   A especialista indica que a sociedade pode ajudar observando e acompanhando os idosos da sua proximidade. “Tem um idoso que more no seu prédio ou na sua vizinhança? Ofereça ajuda para ir a um supermercado, ir à feira, ir à farmácia, perguntar se está se sentindo bem. Pequenas conversas – mantendo um distanciamento recomendado – tornam o dia do idoso mais leve, e ele sente que a sua presença é percebida pelo outro”, recomenda.

  Além disso, a família deve estar presente com ligações telefônicas frequentes, videochamadas e encontros virtuais em conjunto. “Cada um assiste o mesmo filme de casa e depois trocam opiniões, cultos religiosos, aniversários, confraternizações e até mesmo atividade física, por exemplo. A inclusão digital é uma importante ferramenta neste período”, complementa a especialista.  

O que fazer para minimizar os impactos do isolamento social?   Bárbara cita que o fato de estar em casa faz com que o idoso fique muito tempo na televisão ou em aplicativos de rede social, o que leva a uma sobrecarga de informações. Para evitar esse tipo de situação, a médica separou algumas dicas. Confira: 

  – Evite excesso de informações: estabeleça horários determinados para assistir telejornal ou ler notícias.  
– Preencha o tempo com atividades prazerosas: ler, assistir filmes, atividades de jardinagem, atividades manuais, jogos, práticas de meditação/religiosas, atividade física. 
  – Separar horários específicos para cada uma delas: lazer, informação/trabalho, interação familiar, autocuidado – alimentação, atividade física, meditação, etc.
Fazer um cronograma/ agenda, organizando cada atividade por ordem de prioridade e horário para realizá-las.