Maristela Bretas
Um acidente, um homem tentando ser o herói da família e uma sequência de fatos tensos que levam o expectador a ter dúvidas, durante toda a narrativa, do que é real ou imaginário. Essa é a abordagem de “Fratura” (“Fractured”), um ótimo suspense psicológico em exibição na Netflix. O filme é dirigido por Brad Anderson, que consegue prender o expectador do início ao fim por colocar sempre em dúvida qual a verdadeira história que envolve o protagonista Ray Monroe. O personagem é muito bem interpretado por Sam Worthington, que tem entre seus sucessos os filmes “A Cabana” e “Até o Último Homem” (ambos de 2016), “Evereste” (2015) e o megacampeão de bilheteria “Avatar“, de 2009, do diretor James Cameron.
A trama é centrada em sua busca por verdades, que ele mesmo se recusa a ver ao criar uma realidade paralela que agrada sua mente perturbada por fatos passados. Os closets no rosto do personagem, que tem um olhar morto e sem vida, demonstram bem a apatia e o distanciamento dele da realidade, especialmente quando um fato lhe desagrada. Como se aquele mundo não fosse o dele. Isso fica claro em cenas, como a da espera pelo atendimento no hospital.
Essa apatia e falta de iniciativa mudam após um acidente com a filha durante uma viagem da família. Ray e a esposa Joanne (Lily Rabe) correm com a menina para um pronto-socorro próximo. As duas são levadas para exames e desaparecem, assim como os registros da visita ao hospital. O pai e marido ausente dá lugar a um Ray que passa o filme todo tentando provar que é capaz de ser o herói da família e não uma pessoa com problemas provocados pelo consumo de álcool.
Ele embarca em uma jornada solitária e desesperada para encontrar sua família e descobrir o que aconteceu. O personagem vai deixando que fatos do passado, como a morte da primeira esposa, também num acidente, tomem conta de sua mente e conduzam seu comportamento, que vai se tornando cada vez mais agressivo e deixando o espectador mais tenso.
Suspeitando de tudo e de todos, já que as horas vão passando e ele não consegue informações sobre a família, Ray começa a desconfiar que integrantes do hospital e até da polícia local possam estar envolvidos numa quadrilha de tráfico de órgãos humanos. Ele precisa fazer de tudo para localizar as duas, antes que se tornem as novas vítimas dos criminosos. A trama em que se vê envolvido faz com que Ray tome atitudes desesperadas, já que não pode contar com mais ninguém para ajudá-lo, mesmo quando alguns fatos comprovem que ele está falando a verdade.
O roteiro de Alan B. McElroy provoca o público, a todo o momento, sobre a sanidade de Ray e a realidade dos fatos. O personagem vê aquilo que lhe interessa e reforça sua tentativa de ser o salvador, mas os flashes de memória indicam o contrário. Afinal, o que realmente aconteceu com Ray e suas duas famílias? Uma estrada deserta com neve, um acidente com a filha envolvendo um cão assustador, hospital com recepção e corredores escuros e até sombrios, funcionários e médicos alheios ao problema do pai desesperado. Todo esse suspense é reforçado pela boa trilha sonora composta por Anton Sanko.
A reviravolta no final de “Fratura” é bem interessante, apesar de não surpreender tanto, pelos indícios que foram sendo apresentados ao longo do roteiro. Mas nem por isso o longa deixa de ser impactante pela maneira como foi sendo conduzido até aquele ponto, deixando sempre a dúvida sobre o que realmente aconteceu. Vale a pena ser conferido na Netflix.
Ficha técnica:
Direção: Brad Anderson
Exibição: Netflix
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Drama /Suspense
Nota: 4 (0 a 5)