Maristela Bretas
Com ótimas atuações de Anthony Mackie e Samuel L. Jackson, “The Banker” expõe o racismo na década de 1950. O primeiro longa-metragem produzido pela Apple TV+ merece ser conferido. Ele mostra duas visões da mesma questão racial, que é tão forte no interior do Texas quanto numa cidade grande como Los Angeles. Apesar da capacidade de identificar boas oportunidades de negócios e de investir dinheiro, Joe Morris (Samuel L. Jackson) e Bernard Garrett (Anthony Mackie) não passam de dois empresários afro-americanos que são vistos com preconceito pelo mercado.
Garret é de origem pobre, nascido numa cidade pequena do Texas que ainda vive sob a bandeira confederada e quee não aceita que negros tenham direitos. Genial em cálculos desde pequeno, ele passa a juventude aprendendo tudo o que pode sobre mercado imobiliário e investimentos financeiros. E promete a si mesmo que vai vencer e construir seu império numa grande cidade. Mackie está ótimo no papel, do negro batalhador, mas arrogante, que não aceita o subemprego, nem mesmo quando sua empresa está em risco.
Samuel L. Jackson, com seu jeitão fanfarrão e a risada que é marca registrada, entrega, como sempre, uma ótima interpretação de Joe Morris, o dono de um clube noturno que, com muito jogo de cintura, fez sua vida e fortuna em Los Angeles.
Apesar de trancos e barrancos do primeiro contato, ele e Garret acabam formando uma sólida sociedade numa corretora imobiliária para depois partirem para um voo mais ousado: se tornarem os primeiros banqueiros negros dos Estados Unidos, em um dos piores períodos de segregação racial do país.
Mas para terem sucesso e entrarem “no mundo dos brancos”, eles precisavam “ser brancos”. Para isso, tiveram que contar com mais um integrante na equipe que era um fracasso total em fazer negócios e que tinha pouco tempo para aprender como se tornar um empresário de sucesso e ser o testa de ferro da dupla para negociar no preconceituoso mercado.
E foi usando a cor e a aparência de Matt Steiner (Nicholas Hoult, que também entrega uma boa atuação e consegue acompanhar a dupla) que Garrett e Morris conseguiram, por muitos anos, contornar as limitações raciais da época e se tornarem os primeiros proprietários de imóveis negros mais ricos e bem-sucedidos do país. Hoult também entrega uma boa atuação e consegue acompanhar o ritmo da dupla principal.
A todo o momento, a questão racial é lembrada, tanto na hora de fechar um negócio usando Steiner de fachada, quanto na relação de Garrett com as pessoas de sua cidade natal. Numa época em que negros eram vistos como raça inferior, um segredo como este ia acabar sendo descoberto. O enredo é bom, mas é na interpretação da dupla principal que o filme se sustenta muito bem. Também a reconstituição de época ficou muito boa
Baseada em fatos reais, “The Banker” teve seu lançamento adiado por causa de uma acusação de abuso sexual infantil cometido por Bernard Garrett Jr. contra as irmãs do segundo casamento do pai quando todos moravam na mesma casa. Ou seja, no período abordado pelo filme. O acusado é um dos produtores do filme e aproveitou para contar apenas sua versão da história do pai, quando vivia com sua mãe, Eunice. No filme ela é interpretada por Nia Long, cujo talento merecia mais destaque.
A madrasta e as meias-irmãs de Garrett Jr. foram ignoradas completamente por ele na história, provocando revolta na família. Os abusos foram denunciados às vésperas da estreia no cinema, em novembro de 2019, provocando seu adiamento. Somente em julho deste ano, a Apple TV+ lançou a produção diretamente em seu canal de streaming.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: George Nolfi
Exibição: Apple Tv+
Produção: Romulus Entertainment
Duração: 2 horas
Classificação: 14 anos
Gêneros: Drama
Nota: 4,5 (0 a 5)