Maristela Bretas
Falar de Coringa sem citar o Batman é possível? Joaquin Phoenix mostra que sim e está fantástico na pele do maior inimigo do homem morcego, mesmo sem este ainda existir. “Coringa” (“Joker”), que estreia nesta terça-feira, é a consagração do ator, que sofre uma transformação completa, especialmente física (ele está esquálido) e emocional. O personagem ganha um filme à sua altura, brilhando em quase todos os quesitos – fotografia, trilha sonora, figurino e efeitos visuais. Só faltou mais ação. Apesar de várias críticas de que se trata de um filme muito violento, a classificação é 16 anos e, as cenas mais chocantes ocorrem somente nos 15 minutos finais. E ainda ficam bem atrás da violência de “Rambo – Até o Fim” e do brasileiro “Bacurau“, ambos em cartaz nos cinemas, com classificação 18 anos. Claro que cada um dentro de seu contexto.
O diretor Todd Phillips conta passo a passo a trajetória de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem com distúrbios mentais que trabalha como palhaço em eventos. A violência diária, a qual todos nós estamos sujeitos, vai transformando a personalidade do pacato cidadão que cuida da mãe e assiste programas de TV, especialmente o de Murray Franklin (vivido por Robert De Niro). E deixando surgir o Coringa – um psicopata frio, vingativo, explosivo e líder carismático. Mas que ao mesmo tempo gosta de crianças e reconhece aqueles que não o ridicularizaram.
Os momentos de violência contra Fleck chegam a fazer o público se identificar com ele e até justificar muitas das atrocidades que comete ao assumir aos poucos a personalidade do Coringa. O palhaço sem graça, como é chamado por alguns, tem uma raiva contida, sofre com o preconceito, é ridicularizado por seu corpo disforme e a risada insistente e incontrolável. A cada fato novo na vida do Coringa a origem de seu comportamento perturbado vai sendo revelada, aumentando o desprezo dele pelo mundo e pelas pessoas.
Apesar de alongar demais algumas cenas, a trama envolve o espectador. Houve uma grande do diretor e também roteirista Todd Phillips em explicar detalhes mínimos mas importantes da personalidade e da vida do Coringa. Inclusive como surgiu sua ligação com a família Wayne. Em alguns momentos, o filme chega a ficar um pouco repetitivo, como observou um dos convidados da pré-estreia realizada na terça-feira em BH. O que não tira o brilho da atuação soberba de Joaquin Phoenix, que dá ao Coringa a melhor interpretação que ele poderia merecer. Assim como fez Heath Ledger, que conquistou merecidamente o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, vivendo o vilão em “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008), de Christopher Nolan.
Na história atual,. Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa se apresentar à agente social, por causa de seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne (Brett Cullen) é seu maior representante.
E foi o receito de um despertar da massa que deixou autoridades norte-americanas de sobreaviso para uma possível onda de violência pelo país, tomando o filme como modelo. O temor levou alguns donos de salas de cinema a se recusarem exibir o filme. “Coringa” é violento sim. Mas a abordagem psicológica e o que ela é capaz de provocar em pessoas insatisfeitas é muito mais perigosa. Como acontece com os moradores de Gotham City, deixados à própria sorte em uma cidade decadente e sem lei. E o diretor soube dar o peso certo ao assunto. “Coringa” é imperdível e o personagem merece conquistar seu segundo Oscar, desta vez de Melhor Ator para Joaquin Phoenix. Simplesmente perfeito.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Todd Phillips
Produção: DC Entertainment / Warner Bros Pictures / Village Roadshow Pictures
Distribuição: Warner Bros Pictures
Duração: 2h02
Gênero: Drama
Países: EUA/Canadá
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)