Carolina Cassese
Após o sucesso de “It: A Coisa” (longa inspirado na obra de Stephen King), que em 2017 se tornou a maior bilheteria de um filme de terror da história, o argentino Andy Muschietti está de volta na direção de “It: Capítulo Dois” (“It Chapter Two”) Dessa vez, ele apostou na abordagem de temas mais densos, como homofobia, relacionamentos abusivos e traumas de infância. “Agora o tom é menos juvenil. Vejo o primeiro filme mais ingênuo, mais leve. Afinal, é contado pelos olhos de crianças”, disse em entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo. Nesta sequência, como no filme anterior e em outras obras do autor, o terror é usado como pano de fundo para explorar o lado emocional dos personagens.
Passaram-se 27 anos desde que o “Clube dos Otários”, formado pelos então adolescentes Bill, Ritchie, Beverly, Ben, Mike, Eddie e Stanley, derrotou Pennywise, (Bill Skarsgård), um espírito demoníaco que pode assumir muitas formas – inclusive a de um palhaço assustador. Mike, que ainda vive na pequena cidade de Derry, no Estado do Maine, é o único que de fato lembra tudo o que aconteceu. Ele resolve convocar todos os outros membros do grupo para um encontro quando se dá conta de que Pennywise provavelmente está à solta novamente, caçando crianças e pessoas vulneráveis. Ao se reunirem, os integrantes do clube percebem que a situação é muito mais grave do que eles imaginavam.
A primeira cena, provavelmente a mais assustadora do longa, já consegue passar essa mensagem: logo após saírem de um parque de diversões, um casal de homossexuais é agredido a socos e pontapés por alguns bullies de Derry. Pennywise (com Bill Skarsgård novamente no papel) até aparece no fim da sequência, mas fica em segundo plano: o preconceito do ser humano consegue ser mais assustador do que horrendas criaturas sobrenaturais.
Ao longo do filme, acompanhamos as batalhas internas de cada membro do Clube dos Otários. O arco mais emocionante é o de Bev (Jessica Chanstain), que se encontra em um relacionamento violento e ainda precisa lidar com os traumas causados por seu pai abusivo. Os outros personagens principais, interpretados por James McAvoy (Bill), Bill Hader (Ritchie), James Ransone (Eddie), Jay Ryan (Ben), Isaiah Mustafa (Mike) e Andy Bean (Stanley) também são construídos com complexidade e cuidado.
O elenco se sai muito bem (destaque para Bill Hader e Bill Skarsgård, novamente), ao passo que a produção consegue equilibrar os momentos de tensão com alívios cômicos (algumas piadas soam repetitivas, mas a maioria funciona). Assista no making off abaixo o que Stephen King e os atores falam sobre o filme.
Há transições entre a vida adulta e a adolescência dos personagens. O espectador, então, mergulha na infância do Clube dos Otários a partir de flashbacks. Muitas cenas foram gravadas para o primeiro filme e inicialmente descartadas. O diálogo entre os dois tempos funciona bem, reforçando a conexão do público com os personagens. A duração do filme (quase 3 horas), no entanto, torna a experiência do espectador mais cansativa – e não parece muito necessária.
De certa forma é possível entender esse roteiro longo demais e exagerado, uma vez que as duas produções – “It – A Coisa” e “It – Capítulo Dois”) são partes de uma mesma obra, de quase 700 páginas, escrita em 1986 por Stephen King. Intencional ou não, o livro, assim como os dois filmes, foi lançado em setembro e completa 33 anos neste mês desde sua publicação.
Não é à toa que boa parte da crítica chamou o longa de “um presente para os fãs de Stephen King”: há incontáveis referências à obra do autor (ele mesmo faz uma pontinha no filme). Muito mais do que um simples terror, “It: Capítulo Dois” é sobre amizade, autoconhecimento e superação- e fica difícil não se envolver com as bonitas histórias de cada um dos membros do Clube.
Ficha técnica:
Direção: Andy Muschietti
Produção: New Line Cinema / Lin Pictures / Vertigo Entertainment
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 2h50
Gênero: Terror
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 4 (0 a 5)