De 28 de agosto a 18 de novembro, Paul Klee – Equilíbrio Instável reunirá mais de 120 obras entre pinturas, papéis, gravuras, desenhos e objetos pessoais de Klee. Mostra é considerada a maior exposição do artista já realizada na América Latina e celebra o aniversário do CCBB BH, referência cultural e turística no Estado.

 

Sucesso de público e de crítica nos CCBBs de SP e RJ, a seleção de obras é proveniente do acervo do Zentrum Paul Klee, de Berna (Suíça), cidade onde Klee nasceu e residiu. O patrocínio da mostra é do Banco do Brasil e da BB Seguros, com apoio da Cateno. A organização e a produção são da Expomus em parceria com o Zentrum Paul Klee, por meio da Lei de Incentivo à Cultura

 

A relevância de Paul Klee (1879-1940) para as artes é inquestionável. No início do século XX, seu trabalho marcou a história do modernismo, um legado que pode ser apreciado em visita ao acervo do Zentrum Paul Klee, de Berna, Suíça, cidade onde o artista nasceu e residiu, ou, agora, em Belo Horizonte, no CCBB, que apresentará 120 trabalhos minuciosamente selecionados diretamente da instituição que é responsável pelo zelo de mais de 4 mil obras do artista. Paul Klee – Equilíbrio Instável é inédita na América Latina e permanecerá em cartaz no CCBB Belo Horizonte entre 28 de agosto e 18 de novembro.  

 

Presente para a cidade, a exposição marca o sexto aniversário do CCBB Belo Horizonte e consolida a força da instituição, que quebrou todos os recordes de público do Estado com sua última mostra, conferida por 605 mil visitantes em 66 dias de visitação. Desde que chegou à capital mineira, em 27 de agosto de 2013, o CCBB firma-se como um importante destino turístico e uma referência de arte e cultura para todas as idades. Mais de 5,5 milhões de visitantes já desfrutaram de uma vasta programação de qualidade, em centenas de projetos nas áreas de artes visuais, teatro, música, dança e educativo. Vale lembrar que o aspecto formador de Paul Klee – Equilíbrio Instável poderá ser experimentado nas propostas que serão desenvolvidas pela Programa CCBB Educativo, com conteúdos acessíveis e diversificados para cada faixa etária.

“É com grande satisfação que agora oferecemos para o público que visita a cidade de Belo Horizonte a oportunidade de contato com mais um grande nome da arte do século XX. Essa exposição reforça o nosso compromisso com a democratização do acesso à cultura e a formação de público diversificados para as artes”, afirma Leonardo Corrêa Camargo, gerente geral do CCBB Belo Horizonte.

A BB Seguros reforça a relevância da iniciativa. “Disseminar a cultura oferecendo acesso gratuito da população à arte é o que nos motiva a viabilizar financeiramente projetos de grande valor histórico, como é a exposição de Klee. Esse é um patrocínio que nos enche de orgulho e uma amostra da relevância quem tem para a BB Seguros o fomento das artes e da cultura”, afirma Fernando Barbosa, presidente da Brasilseg, uma empresa BB Seguros .

“É muito significativo para a Expomus levar a mostra de Paul Klee para Belo Horizonte, um território pleno de cultura em que todos poderão se inspirar nesse grande artista”, aponta, Maria Ignez Mantovani Franco, diretora da Expomus.

Independência de estilo

Pinturas, papéis, gravuras, desenhos e objetos pessoais de Klee percorrem a trajetória de um artista e pensador da arte que desenvolveu, ao longo de sua vida, um estilo próprio. “Paul Klee é um artista ao qual não podemos atribuir simplesmente um determinado estilo. ‘Eu sou meu estilo’, registrou ele de modo autoconfiante em seu diário, em 1902. A observação não estava errada”, explica Fabienne Eggelhöfer, curadora da mostra.

“Paul Klee é uma das personalidades mais importantes da arte do século XX. Embora estivesse em contato com movimentos artísticos como o expressionismo, o cubismo, o dadaísmo e o surrealismo, ele sempre permaneceu independente. Sua arte é única e aberta a diversas interpretações. Ele foi um bom exemplo para as gerações de artistas que o sucederam, já que não propunha um estilo único e definitivo”, completa.

Questionada sobre sua expectativa com a mostra em Belo Horizonte e a avaliação sobre a mostra que passou pelos CCBB de São Paulo e o CCBB do Rio de Janeiro, Fabianne responde: “O interesse do público me surpreendeu bastante, espero que a exposição também propicie aos interessados uma abordagem didática e descomplicada, ao mesmo tempo consistente e plausível, sobre o universo de Klee”.

Filho de um professor de música alemão e, ele próprio, um grande conhecedor dessa arte, Klee optou pelas artes plásticas ao terminar seus estudos no ensino médio em Berna, e buscou um grande centro de formação. Dirigiu-se, então, a Munique. Sua inscrição na academia, porém, não foi aceita, visto que à época se dava muito valor aos conhecimentos de anatomia humana e sua representação acadêmica. Acabou por estudar na escola particular de desenho de Heinrich Knirr, onde pretendia aprimorar o desenho figurativo, visando à realização de nova prova de ingresso na academia.

Sua visão de arte, no entanto, não lhe permitiu trilhar esse caminho, apesar de ter frequentado posteriormente o curso de Franz von Stuck, o “príncipe dos pintores”. Em 1901, após uma viagem à Itália, no fim de sua formação, concluiu que vivíamos, na virada do século XIX para o XX, um “tempo epigônico”, em que se valorizava em demasia a produção da Antiguidade e do Renascimento e em que a reprodução de modelos clássicos tinha mais valor do que a criação.

 

Equilíbrio como articulação

Ao longo de sua trajetória, Klee se associou às correntes modernistas. A angústia do homem moderno nos traços fortes e coloridos do expressionismo; a valorização das formas geométricas e do descompromisso com a figuração do cubismo; a importância da composição inspirada pelo construtivismo. O caminho rumo à abstração e ao inconsciente do surrealismo ganham, nos trabalhos de Klee, uma assinatura muito pessoal.

Klee buscava expressar em suas obras a primazia do processo. Isso significava, por exemplo, um apreço pelo movimento como precondição básica para a configuração. As formas elementares do triângulo, do círculo e do quadrado surgem, em seus trabalhos, articuladas não só à ideia de movimento, mas também à de um equilíbrio necessariamente tenso. Também acreditava que o artista deveria buscar inspiração na natureza, mas de forma econômica em seus traços e composições: “Queremos dizer mais do que a natureza, mas cometemos o erro inadmissível de dizer com mais meios do que ela, em vez de menos”, escreveu ele em 1908.

Em 1924, numa palestra em Jena, na Alemanha, afirmou, como já o fizera antes, que no seu caso o processo artístico começava sem qualquer intenção de representação. “Nos primeiros estágios do trabalho, ele dizia seguir apenas critérios puramente pictóricos ao juntar linha e cor numa forma que gradualmente se configurava”, explica Fabienne Eggelhöfer. Entretanto, completa a curadora, “nada o impedia de aceitar uma associação que lentamente se impusesse e de integrá-la à obra”.

 

Centenário da Bauhaus

O ano de 2019 é marcado internacionalmente pela comemoração dos 100 anos de criação da Bauhaus, a mais cultuada escola de arquitetura, artes e design do mundo. Klee foi um dos expoentes e vanguardistas da Bauhaus e exatamente por isso, ao visitar a exposição, vale atenção especial para o núcleo “Professor na Bauhaus”, que apresenta Paul Klee, ao visitante, no contexto da influentíssima escola alemã.

Criada em 1919 e fechada em 1933 pelos nazistas, os conceitos e investigações da Bauhaus ecoaram infinitamente pelo mundo, reforçando sua influência de forma irreversível, inclusive nos dias atuais. A separação entre as disciplinas artísticas, o emprego do design e a concepção de novos objetos e espaços para uma sociedade mais humana e socialmente mais justa eram alguns dos princípios da Bauhaus.  Klee combinou a sua prática de contestar a pintura tradicional à reflexão sobre a arte pictórica nos anos em que lecionou na Bauhaus. Lá, foi colega do pintor russo Wassily Kandinsky (1866-1944), entre outros. 

As características dos trabalhos de Paul Klee incomodaram o ascendente regime nazista alemão, e ele foi considerado autor de “obras degeneradas”. Os ataques nazistas o obrigaram a refugiar-se, com a esposa Lily Stumpf, na Suíça, depois de ser sumariamente dispensado da Academia de Artes de Düsseldorf, onde, entre 1931 e 1933, desenvolveu trabalhos com um novo tipo de pontilhismo. Já em Berna, em 1937, encontrou-se, provavelmente pela última vez, com Pablo Picasso (1881-1973), cuja obra cubista inspirou Klee a desenvolver, de forma crítica, sua própria produção. O período que viveu em Berna até a sua morte, em 1940, foi um dos mais importantes no desenvolvimento de suas obras.

Um dos atrativos da exposição brasileira, que tem entrada livre para todas as idades, é o conjunto de cinco dos fantoches produzidos por Klee para seu filho Felix, entre 1915 e 1925. O artista criava as cabeças e as roupas a partir de restos de tecidos velhos e materiais simples que ele encontrava em casa, como carretéis de linha, tomadas ou ossos de boi fervidos. Segundo a curadora da exposição, “Klee nunca manipulava os bonecos, deixando a brincadeira inteiramente para o seu filho, que entretinha a família e os amigos com seu talento cômico”. 

O futuro visto de costas

O visitante da exposição no Brasil também poderá apreciar um núcleo que reúne um facsímile de Angelus Novus e mais 15 desenhos dedicados a essa temática, retratada em texto pelo filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940) e que se tornou referência para pensar a trajetória humana. Paul Klee – Equilibro Instável abrange todo o período da vida artística de Klee, apresentando obras raras e pouco conhecidas – uma produção que se inicia ainda em sua juventude, no final do século XIX. É, portanto, uma exposição fundamental sobre o artista para aqueles que apreciam a sua obra e a história da arte.

 

Paul Klee – Equilíbrio Instável | Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte

  • Curadoria: Fabienne Eggelhöfer
  • Organização e produção: Expomus e Zentrum Paul Klee
  • Patrocínio: Banco do Brasil e BB Seguros
  • CCBB Belo Horizonte: 28/08/2019 a 18/11/2019
  • Entrada gratuita.