Aulas capacitam, de forma prática, para a produção dos enfeites, enquanto trabalham conceitos de vendas, planejamento e divulgação dos produtos
Um projeto de profissionalização, com ensinamentos sobre planejamento, compra de material, vendas e conquista de clientela está mudando a rotina de pelo menos 20 jovens da Casa de Semiliberdade Planalto, localizada no Bairro Santa Mônica, em Belo Horizonte. Todas as quintas-feiras, eles literalmente colocam a mão na massa e estão modelando e pintando bonecos de personagens históricos ou dos quadrinhos, como a Mulher Maravilha, Batman, Frida Kahlo, entre outros, por meio da técnica de biscuit.
A atividade já está sendo vista como fonte de renda futura e aumentou a autoestima da garotada, cuja qualidade do trabalho vem sendo reconhecida pelos “clientes” e até mesmo em feiras que já participaram. Em oito semanas em atividade, os pedidos dos bonecos, vendidos a R$ 10, estão crescendo de forma exponencial. “Eles despertaram para a possibilidade de gerar renda, sem ter que cometer um ato infracional”, conta a diretora da Casa de Semiliberdade Planalto, Izabela Erichsen.
E o curso, que foi planejado inicialmente para ser uma atividade de cinco encontros, já virou atividade permanente na Casa de Semiliberdade Planalto. Vale ressaltar que além da parte prática, são trabalhadas, com os jovens, noções de processos de produção, cálculos do custo e métodos de divulgação. Além disso, todos os recursos arrecadados são destinados para investimentos em atividades realizadas pelos jovens.
Um imã, uma ideia
A ideia da oficina de modelagem de biscuit surgiu quando o então recém-chegado pedagogo da unidade, Alexander Teixeira, levou para o trabalho um imã que fez com o material, para fixar os recados no armário do setor. Então, a terapeuta ocupacional, Hadassa Amaral, que teve conhecimento da especialidade do colega, sugeriu que ele aproveitasse a experiência para promover uma oficina para os adolescentes. “Fizemos uma parceria, ele compartilhou o conhecimento prático e eu auxiliei o grupo em alguns conceitos teóricos para o negócio”, conta a terapeuta.
Jonathan* é um dos participantes da oficina e conta que viu sua família se desestruturar com a morte da mãe há um ano – tempo que também se aproximou da criminalidade. “Quero consertar os meus erros. Para o crime eu não volto. Pretendo continuar com o biscut, que é um meio de trabalho honesto. Se eu ganhar R$10 de uma coisa que fiz, para mim já é lucro, não estou roubando, não estou tirando de ninguém”, compartilha.
O pedagogo da unidade e professor de biscuit, Alexander Teixeira, está orgulhoso do resultado e vislumbra outros benefícios da atividade. “Durante os encontros também temos a oportunidade de conversar e trabalhar outras questões, mantendo um diálogo mais próximo em um momento de descontração, o que inclusive ajuda o atendimento técnico, desenvolvido na unidade, a descobrir o melhor caminho para auxiliar estes jovens. ”
O curso de modelagem de biscuit da Casa de Semiliberdade Planalto também contou com o apoio da Junior Achievement (JA) – uma organização social que incentiva o desenvolvimento de jovens para os desafios e carreiras da nova economia através da prática.
* O nome é fictício para preservar os adolescentes, conforme indicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Crédito fotos: Dayana Silva/SESP-MG