Arquiteto e urbanista defende que os grandes deslocamentos de casa para o trabalho precisam ser revistos

 

Ir para o trabalho todos os dias usando somente o elevador, levar os filhos à escola a pé caminhando ou sair para comprar um remédio sem ter que pegar carro ou ônibus, bastando descer alguns lances de escada ou andar algumas dezenas de metros. Essa é uma realidade cada vez mais desejada nos grandes centros urbanos, principalmente após a recente crise de desabastecimento de combustível enfrentada pelos consumidores em longas e demoradas filas por todo o país.

 

Viver sem a onerosa dependência de carros é a ideia dos empreendimentos mixed use, chamados também de multiuso ou de uso misto. Para o arquiteto e urbanista Alexandre Nagazawa, sócio diretor da BLOC Arquitetura e Empreendimentos, tanta comodidade, que parece uma possibilidade remota, pode estar muito mais perto do que imaginamos. “O conceito mixed use, vastamente utilizado na Europa, Ásia e América do Norte, tem se destacado também nas maiores cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo. Pode parecer inovador, mas há muito tempo encontramos ótimos exemplos e o mercado tem olhado novamente para este modelo”, afirma Nagazawa.

 

Atualmente, os empreendimentos nesse formato oferecem, além da moradia, bens e serviços do cotidiano como lojas, supermercados, espaços corporativos para escritórios, centros de convenções, restaurantes e, claro, grande apelo à questão da mobilidade urbana. “Criam-se verdadeiras minicidades, novas centralidades que configuram um estilo de vida, mais racional, mais leve e que explora a infraestrutura da cidade ao máximo. É a simples ideia de não precisar sair de perto de casa “, explica Nagazawa.

 

Esse tipo de configuração de edifícios ou condomínios, utilizado há décadas em grandes cidades no mundo todo, volta à tona como uma tendência no mercado imobiliário ou mesmo solução para os dramas de deslocamento nos grandes centros urbanos. “Com problemas de mobilidade urbana, violência e infraestrutura urbana precária, é urgente a mudança no sentido de composição e ordenação das centralidades. Os deslocamentos devem ser menores e o acesso a bens e serviços mais próximo das moradias. Devemos ser cada vez menos dependentes dos combustíveis fósseis e sistemas”, finaliza.