O longa-metragem sobre o médium congonhense será protagonizado por Danton Mello. As filmagens começam em março
A cidade histórica de Congonhas, localizada à 70 quilômetros de Belo Horizonte, terá um de seus mais célebres personagens eternizado nas telas do cinema. O médium José Pedro de Freitas, conhecido como Zé Arigó, terá sua trajetória retratada em uma cinebiografia dirigida por Roberto Dávila. O filme terá produção do mineiro André Carreira e será protagonizado pelo também mineiro Danton Mello. As filmagens do longa-metragem sobre o congonhense começam em março. Além de Congonhas, Cataguases também será cenário para o filme.
O público não precisa esperar o filme entrar em cartaz para conhecer a história daquele que até hoje é considerado o maior médium brasileiro de todos os tempos. O Museu da Ladeira, em Congonhas, possui uma exposição sobre a vida e obra de Zé Arigó, com objetos pessoais, cartas psicografadas, fotos, vídeos e documentos. O museu funciona de terça a domingo, de 9 às 17 horas e tem entrada gratuita.
Museu da Ladeira
O Museu da Ladeira é uma homenagem ao povo de Congonhas e inaugurado em 14 de dezembro de 2001 como uma forma de preservar a história local. O espaço funciona no antigo casarão dos Fonsecas, também conhecido como casarão amarelo, construído no final do séc. XIX no núcleo da vila de Congonhas do Campo. Hoje, o imóvel pertence a Prefeitura Municipal, que instalou o Museu, dotado de importante acervo documental, equipamentos, utensílios e mobiliários de épocas.
Os visitantes do museu têm a oportunidade de descobrir personagens ilustres, conhecidos e ilustres desconhecidos, mas dignos de reverência por seu papel fundamental na formação da identidade cultural da cidade. Congonhenses como o médico Victorino dos Santos Pereira; o escultor Ìtalo Brasilino Toldo; a professora de balé Victória Fisher Parcus, conhecida como Tia Vick; os Padres Redentoristas, entre outros.
O médium Zé Arigó possui uma exposição permanente no Museu da Laderia. Entre os itens que compõem o acervo estão cartas psicografadas, cartas de médicos que haviam desenganado seus pacientes, mas indicavam a intervenção do médium, utensílios usados nas cirurgias, fotos e vídeo. Há ainda publicações em jornais e revistas que contam a história de Zé Arigó. Merece destaque a recriação do local onde o médium recebia os doentes, com mesa, máquina de escrever, um quadro de Cristo e cartas psicografadas.
Zé Arigó
José Pedro de Freitas nasceu na Fazenda do Faria, em Congonhas, em 18 de outubro de 1921 e morreu em um acidente na BR-040, em 11 de janeiro de 1971. Era conhecido como José Arigó ou simplesmente Zé Arigó.
Desenvolveu suas atividades espirituais em Congonhas durante cerca de vinte anos, tornando nacional e internacionalmente conhecidas as cirurgias e curas realizadas por intermédio de sua faculdade mediúnica, pelo (espírito) que se denominava como Dr. Fritz, um médico alemão falecido em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial.
À medida que nasciam os seus filhos, por volta de 1950, Arigó começou a apresentar fortes dores de cabeça, insônia, percebendo visões (uma luz descrita como muito brilhante) e uma voz gutural (em idioma que não compreendia) que o fizeram acreditar encontrar-se à beira da loucura. A situação perdurou por cerca de três anos, durante os quais visitou médicos e especialistas, sem melhorias.
De acordo com seus biógrafos, certo dia, em um sonho nítido, a voz que o atormentava foi percebida por Arigó como pertencendo a um personagem robusto e calvo, vestido com roupas antigas e um avental branco, supervisionando uma equipe de médicos e enfermeiros em uma grande sala cirúrgica, em torno de um paciente.
Após o sonho ter se repetido por várias vezes, o personagem apresentou-se como sendo Adolph Fritz, um médico alemão desencarnado durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), sem que tivesse completado a sua obra na Terra.
Embora não pudesse compreender o idioma, compreendeu a mensagem que o personagem lhe dirigia: Arigó fora escolhido como médium pelo Dr. Fritz para realizar essa obra. Outros espíritos, de médicos e de enfermeiros desencarnados, os auxiliariam.
Ainda de acordo com os seus biógrafos, Arigó acordou desse sonho tão assustado que saiu correndo, nu, aos gritos, ganhando a rua. Parentes e amigos trouxeram-no de volta ao lar, onde chorou copiosamente. Procurados, os médicos procederam a exames clínicos e psicológicos, sem encontrar nada de anormal, embora as dores de cabeça e os pesadelos continuassem. Até mesmo o padre da cidade tentou auxiliar, efetuando algumas sessões de exorcismo, sem sucesso.
Desesperado, sem encontrar uma saída, certo dia resolveu experimentar atender ao pedido do sonho: encontrando um amigo, aleijado, obrigado ao uso de muletas para andar, Arigó ordenou-lhe de súbito que largasse as muletas. E, arrancando-as com as próprias mãos, ordenou em seguida ao amigo que caminhasse, o que ele fez, continuando a fazê-lo desse dia em diante.
A partir de então, uma força que Arigó reputava como “estranha”, passou a utilizar-se de suas mãos rudes, para manejar instrumentos também rudes, em delicados procedimentos cirúrgicos, no atendimento a enfermos e aflitos.
Apesar de possuir desenvolvida mediunidade, Arigó possuía formação católica tradicional, e seu nome, a rigor, não se associa formalmente nem ao Espiritualismo nem ao Espiritismo. Apesar da desaprovação da Igreja Católica (com quem, entretanto, não criou inimizades) e das autoridades civis, Arigó fundou uma clínica à Rua Marechal Floriano, em Congonhas, onde chegava a tratar, gratuitamente, até duzentas pessoas por dia, oriundas da região e dos diversos Estados do país, da América do Sul, da Europa e dos Estados Unidos. À época, Congonhas chegou a estar ligada a Buenos Aires (Argentina) e a Santiago do Chile (Chile) por linha de ônibus direta e regular.
Entre as dificuldades de ordem legal enfrentadas pelo médium, destaca-se o processo instaurado em 1956 pela Associação Médica de Minas Gerais, sob a acusação de prática de curandeirismo, e pelo qual foi condenado a quinze meses de prisão (1958); entretanto, teve a sua pena reduzida à metade e não chegou a ser preso, uma vez que recebeu indulto do então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, cuja filha também havia sido atendida pelo médium, sendo-lhe diagnosticados dois cálculos renais. Anos mais tarde, responderia a novo processo, sendo condenado a 18 de novembro de 1964. Desta vez, tendo compreendido o que era um indulto, recusou-o, sendo detido por sete meses em Conselheiro Lafaiete (MG), pelo exercício ilegal da medicina. Continuou a prática mediúnica mesmo dentro dos muros do presídio, tendo retornado a Congonhas com prestígio ainda maior.
Nessa época, o estadunidense Henri Belk, fundador de uma fundação para pesquisa de fenômenos paranormais, acompanhado por Andrija Puharich (ou Henry K. Puharich), especialista em bioengenharia, deslocaram-se até Congonhas, acompanhados por dois intérpretes da Universidade do Rio de Janeiro e por Jorge Rizzini, conhecido pesquisador espírita brasileiro, para iniciar uma pesquisa com Arigó (1963). Na ocasião, o Dr. Puahrich teve extraído um lipoma de seu cotovelo esquerdo, em um procedimento indolor que consumiu apenas cinco segundos, executado com um canivete comum. A incisão de menos de 5 centímetros, com pouco sangue, não inchou, conforme documentado nítidamente em filme (a cores) por Rizzini, vindo a cicatrizar completamente, sem infecção.
Em 1968, dois outros médicos estadunidenses chegaram a Congonhas para complementar as pesquisas: os Drs. Laurence John e P. Aile Breveter, da William Benk Psychic Foundation. Mesmo sem ter alcançado uma explicação conclusiva para o fenômeno, comprovaram que a prática do médium não comportava ilusionismo ou feitiçaria, declarando que 95% dos diagnósticos do médium eram corretos e que, as operações realizadas com um canivete, sem qualquer assepsia, só eram possíveis devido à sua sensibilidade, explicável apenas à luz da parapsicologia.
Os seus biógrafos registram que Arigó teve um sonho com um crucifixo negro, convencendo-se de sua morte próxima. No dia em que faleceu, como de hábito, compareceu à sua clínica, mas avisou os pacientes que o aguardavam que necessitava ir a uma localidade próxima para buscar um carro usado, que acabara de adquirir. Segundo o boletim de ocorrência policial, na rodovia BR-040, às 12:23h de 11 de Janeiro de 1971, José Pedro, vítima de mal súbito, perdeu a direção do Opala que dirigia, ingressando na contramão onde colidiu com um veículo do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), vindo a falecer vítima de traumatismo cerebral.
SERVIÇO:
Local: Museu da Ladeira – R. Bom Jesus, 250, Congonhas/MG
Visitação: De terça a domingo, de 9 às 17 horas.
Ingressos: A entrada é gratuita.
Informações: (31) 3731-6110