Maristela Bretas
O clássico “Blade Runner: O Caçador de Androides” (“Blade Runner” – 1982) ganha sua continuação 35 anos depois de sua estreia, agora sob a direção de Denis Villeneuve com produção executiva de Ridley Scott, diretor do primeiro. Com dois renomados diretores e um elenco de primeira, estreia nesta quinta-feira nos cinemas “Blade Runner 2049”, uma grande produção que faz jus ao filme original em vários aspectos, a começar pelo aumento da degradação ambiental e a evolução dos robôs nos 30 anos da história, a partir de 2019.
Destaque para a fotografia do filme, que supera até mesma a longa duração – 2h43, contra a 1h57 do original -, o que o deixa cansativo em alguns momentos. O roteiro foi muito bem conduzido e levanta a hipótese, em várias cenas e diálogos, para um possível terceiro filme, algo na linha de “O Exterminador do Futuro – A Rebelião das Máquinas” (2003), uma vez que os dois lados estão montando seus exércitos para um conflito final.
“Blade Runner 2049” mantém o visual sombrio, reforçado pela chuva constante, prédios enfileirados como blocos, locais escuros e abandonados e a iluminação da rua vinda de enormes letreiros de neon – por sinal, um grande merchandising, como no primeiro. Também as imagens da cidade vistas durante os voos das aeronaves, continuam sendo um espetáculo à parte. Para a área afetada por um colapso nuclear que mudou todo o ecossistema, o diretor escolheu tons mais amarelados, intensificados por uma névoa. As filmagens de “Blade Runner 2049” foram inteiramente realizadas na Hungria, com locações em todo o país e ocupando todos os seis platôs, além de gravações e montagens feitas em estúdios em Budapeste e Etyek.
O diretor pegou uma tarefa bem complicada: dar sequência a um clássico que marcou época e ainda é referência na união da ficção ao filme noir. E conseguiu fazer um belo trabalho, contando com nomes famosos e premiados na produção, como Ryan Gosling, Jared Leto, Robin Wright, Ana de Armas, Sylvia Hoeks e Dave Bautista, além de trazer de volta para o novo longa-metragem Harrison Ford, Edward James Olmos e Sean Young, que participaram do filme de 1982.
Gosling está ótimo no papel de K, um replicante consciente de sua origem que tenta ser insensível ao trabalho de eliminar a própria raça. Ele, no entanto, é apaixonado por uma imagem holográfica, a quem chama de Joi, bem interpretada também pela bela atriz Ana de Armas. Jared Leto tem um papel importante, mas foi pouco aproveitado. Harrison Ford, mesmo bem envelhecido, é a parte mais esperada pelo público e responsável pelas cenas de ação. O encontro dele com Gosling é um momento marcante do filme.
Assim como em “O Caçador de Androides”, a história discute principalmente sentimentos, identidade e relação. A forma como é abordada a questão do trabalho escravo dos replicantes, não importando a idade, faz a gente refletir sobre uma realidade que vemos acontecer hoje em alguns países. Mais um motivo para humanos e replicantes conviverem se odiando.
No primeiro filme, os super androides Nexus 6 quase perfeitos foram considerados descartáveis e caçados até sua quase extinção. Em “Blade Runner 2049”, eles estão “mais perfeitos que humanos”, mas continuam sendo desprezados. K é o novo Blade Runner da Polícia de Los Angeles, sob o comando da tenente Joshi (Robin Wright). Ele deve eliminar remanescentes da nova geração de Nexus 8, função que no passado foi do humano Harrison Ford. O policial começa a ter dúvidas sobre sua origem e trabalho após encontrar o fazendeiro de proteína Sapper Morton (Dave Bautista).
K passa a investigar a empresa de Niander Wallace (Jared Leto) que encara os replicantes como necessários à sobrevivência da humanidade e tenta ampliar o número deles na Terra e nas colônias. Wallace é auxiliado por Luv (Sylvia Hoeks), uma androide que deixa cadáveres por onde passa. A investigação de K o leva a descobrir um segredo que poderá mudar os rumos da civilização. Para isso terá de encontrar Rick Deckard (Harrison Ford), um ex-policial Blade Runner desaparecido há três décadas. Entre lutas e perseguições, K ainda encontra tempo para o prazer virtual com a imagem de Joi, a quem ama mas não pode tocar.
Efeitos visuais excelentes, sem exageros, com destaque para as cenas em que a imagem de Joi é intercalada com a da garota de programa Mariette (Mackenzie Davis), além dos sobrevoos sobre a Los Angeles degradada do futuro. Trilha sonora sob a batuta de Hans Zimmer também muito boa, mas foge do estilo do grupo Vangellis, responsável pelo original. “Blade Runner 2049” é um ótimo filme, deve ser visto e, apesar de os diretores dizerem que não é necessário assistir ao primeiro, acho essencial para entender vários pontos da nova produção. E também porque “Blade Runner: O Caçador de Androides” é considerado um dos melhores e mais importantes filmes de todos os tempos no gênero.
Ficha técnica:
Direção: Denis Villeneuve
Produção: Warner Bros. Pictures / Alcon Entertainment / Columbia pictures
Distribuição: Sony Pictures Brasil
Duração: 2h43
Gêneros: Ficção científica / Suspense
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)