Quem não mantém em casa a famosa “farmacinha caseira”, com remédios para os mais diversos tipos de males – de uma dor de cabeça a uma infecção urinária. Este hábito de consumir remédios indiscriminadamente pode levar a uma dos problemas mais graves enfrentados pela saúde pública – a automedicação. Segundo levantamento feito no início deste ano pelo Instituto de Ciência e Tecnologia e Qualidade (ICTQ), o Brasil é recordista mundial em automedicação, com 72% dos brasileiros se medicando por conta própria e 40% fazendo autodiagnóstico usando a internet.
Com o objetivo de alertar para os riscos do uso indiscriminado de antibióticos é realizada, de 12 a 18 de novembro, a Semana Mundial de Uso Consciente de Antibióticos. A conscientização da população é o foco principal, quando a esse tipo de medicação é consumido sem controle, pode provocar resistência das bactérias aos medicamentos disponíveis no mercado, tornando cada vez mais difícil o tratamento de infecções. Neste ano, o tema escolhido pela Organização Mundial de Saúde é “A mudança não pode esperar. Nosso tempo com antibióticos está se esgotando”.
Desde 2011 é preciso apresentar receita médica para comprar antibióticos em farmácias. No entanto, o risco do uso inadequado desse tipo de medicamento perdura. Exemplo disso é quando o paciente negligencia a recomendação médica quanto aos dias e horários necessários para o uso do medicamento. Ao interromper o uso do remédio, por se sentir melhor, o paciente pode prejudicar o tratamento e até mesmo aumentar a resistência das bactérias. Outro fator de risco é quando o paciente faz uso daquele medicamento que sobrou em ocasiões indiscriminadas renovando o ciclo de de resistência dos antibióticos, o risco de infecções graves e lesões em alguns órgãos como fígado, intestino e até mesmo na flora vaginal.
Segundo o coordenador do departamento de infectologia do Hospital Lifecenter, Carlos Starling, além dos riscos da automedicação, há também um cenário que exige atenção do poder público. Segundo o médico, a dispersão de antibióticos no ambiente, ocasionada pelo grande uso do produto na agronomia e na medicina veterinária, é o principal responsável por mudar a biota microbiana humana. O contato do homem com rios, vegetais e até mesmo carnes contaminadas agrava o cenário de resistência das bactérias, alerta o médico.
A resistência é uma defesa natural das bactérias quando expostas repetidas vezes e por longos períodos aos antibióticos e pode ser transferida para outras bactérias no meio ambiente e para as gerações seguintes, com alta capacidade de disseminação.
Quando a automedicação é preocupante
Por hora, duas pessoas se intoxicam com medicamentos no Brasil devido a problemas como a automedicação, segundo dados extraídos das estatísticas do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), intoxicações e reações alérgicas estão entre os problemas relacionados ao uso de medicamentos sem orientação. Analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios são os maiores responsáveis por estas complicações.
Especialistas lembram também que o uso indiscriminado em crianças pode prejudicar o seu sistema imunológico, favorecendo o aparecimento de doenças no futuro. Algumas classes de antibióticos podem provocar má formação no feto durante a gravidez, por isso grávidas nunca devem tomar antibióticos sem o conhecimento do seu médico. Os efeitos colaterais mais comuns do uso inadequado de antibióticos são fezes moles, diarreia e náuseas.
Pessoas alérgicas a determinados antibióticos, sobretudo penicilinas e sulfas, podem apresentar desmaios, falta de ar, urticária, inchaço ou erupções cutâneas na face, lábios e língua. Também podem ocorrer perda de audição, vertigem, lesão, cálculos ou insuficiência nos rins, lesão cerebral. diminuição do número de glóbulos brancos, sensibilidade à luz solar, pigmentação dos dentes, lesão ocular, pressão arterial temporariamente baixa, convulsões, lesão hepática, dor de cabeça, sabor metálico na boca e mudança na coloração da urina.