Sob a regência da maestrina Riane Menezes, o Ars Nova – Coral da UFMG retorna ao Conservatório UFMG para apresentar algumas obras que foram trabalhadas ao longo de 2018 e nos mostra, também, um gostinho de seu concerto natalino. O foco do grupo neste ano é a música composta no século XX, além de divulgar não só os compositores brasileiros, mas também novos repertórios de compositores internacionais, com ênfase em obras ainda consideradas inéditas em território brasileiro. Esta é uma maneira de incentivar a produção de novas obras para coral, além de garantir que cantores e público pratiquem e escutem a música de nosso tempo, com suas idiossincrasias, seus contrastes e suas coerências e incoerências.
O repertório se inicia com a trilogia Remembrances of Love, do compositor estadunidense James McCray (1938). Os poemas “Come to me”, de Christina Rossetti (1830-1894), “Music when soft voices die”, de Percy Byshee Shelley (1792-1822) e “Remember me”, também de Christina Rossetti – musicados por McCray nesta trilogia – falam de esperança, saudade e amor.
A coletânea “A Ceremony of Carols” foi escrita por Bejamin Britten em 1942, quando ele voltava dos Estados Unidos para a Inglaterra de navio. Aqui, o Ars Nova retira as duas primeiras canções: Wolcum Yole! e There is no Rose. O original foi escrito para 3 vozes iguais e harpa, mas Britten autorizou a transcrição para vozes mistas e piano. Com estas duas peças, o Ars Nova-Coral da UFMG dá início às preparações para o seu concerto de Natal, em dezembro.
A próxima composição é Northern Lights, do compositor e pianista norueguês Ola Gjeilo. Residente nos Estados Unidos, Ola Gjeilo visitava sua cidade natal, Oslo, e enquanto admirava a beleza do fenômeno da natureza conhecido como aurora boreal, que ocorre nos países nórdicos no inverno, ele escreveu esta obra sensível e tocante. Gjeilo utilizou uma livre versão do texto do hino gregoriano Tota pulchra es.
O Ars Nova celebra o centenário de morte de Claude Debussy (1862-1918), com as Trois Chansons, de Charles D’Orleans (1394-1465). Estas foram as únicas canções escritas por Debussy para a formação a cappella. Só por essa razão, essas canções são valiosas quando se trata de estudar e compreender a obra do compositor. A primeira canção “Dieu! Qu’il la fait bon regarder” é fluente, flexível e límpida, com uma qualidade instrumental inquestionável! A segunda canção, “Quand j’ai ouy le tambourin”, possui uma clara influência da música espanhola. Vozes masculinas “executam” o pandeiro – tambourim – em lá-lá-lá e fazem uma cama harmônica para o solo de mezzo soprano. O ciclo de três canções se encerra com “Yver, vous n’estes qu’un villain”, uma explosão irada contra o Inverno, o qual o poeta chama de vilão. A primeira e terceira canções datam de 1898 e a segunda de 1908, ano em que a coleção foi publicada.
Em seguida, o Ars Nova interpreta o Cancioneiro de Lampião, 3 Corais Brasileiros para coro misto a cappella, opus 52, do pernambucano Marlos Nobre (1939) é uma trilogia escrita em 1980, com cantigas baseadas no folclore nordestino, atribuídas ao famoso cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião (1898-1938). “Muié Rendera”, “É Lamp, É Lamp, É Lamp”, e “Cantigas de Lampião” fazem parte desta trilogia. Na escolha desta obra, descobrimos uma curiosidade: em 2018 faz-se 120 de nascimento e 80 anos de morte de Lampião.
E para encerrar o concerto uma coletânea de obras de um dos compositores populares mineiros mais queridos no Brasil e no exterior: Milton Nascimento. No Medley Milton Nascimento, Lincoln Andrade, que escreve os arranjos vocais e Fred Natalino, que escreve as linhas do piano, exploram as melodias e harmonias de algumas das canções que ficaram marcadas na nossa memória musical. Fazem parte desse medley: “Ponta de Areia”, de Milton e Fernando Brant, “Estrela Estrela”, de Vítor Ramil, “Bailes da Vida”, de Milton e Wagner Tiso e “Para Paula e Bebeto”, de Milton e Caetano Veloso, além de outras citações feitas ao piano, como “Travessia”, “Fé Cega”, Faca Amolada”, “Maria, Maria” e “Cais”.