A Orquestra interpreta Prokofiev e Ravel, e faz a estreia mundial da obra composta pelo vencedor do Festival Tinta Fresca no ano passado, Marcelo Dino

Reconhecido entre os maiores violinistas da atualidade, Vadim Gluzman volta a se apresentar com a Filarmônica de Minas Gerais e interpreta o Concerto para violino nº 2 em sol menor, op. 63, do compositor russo Prokofiev, nos dias 13 e 14 de setembro, às 20h30. Um caleidoscópio de timbres e sons invadirá a Sala Minas Gerais com a interpretação de uma das obras mais ricas e imponentes do início do século passado – as suítes do balé Daphnis et Chloé de Ravel. Abrindo o programa das duas noites, a Orquestra faz a estreia mundial da obra Aurora Borealis, composta pelo vencedor do Festival Tinta Fresca no ano passado, Marcelo Dino. A regência é do maestro Fabio Mechetti.

Na série de palestras sobre obras e compositores, promovidas pela Filarmônica antes das apresentações, entre 19h30 e 20h, o público poderá assistir aos comentários da bailarina e figurinista Joana Farnezi. As palestras são gravadas em áudio e ficam disponíveis no site da Orquestra.

Estes concertos são apresentados pelo Ministério da Cultura e contam com o incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Repertório

Sobre Aurora Borealis

Marcelo Dino (São Paulo, Brasil, 1972) e Aurora Borealis (2017/2018)

A obra Aurora Borealis foi encomendada a Marcelo Dino pela Filarmônica de Minas Gerais em razão do primeiro prêmio, pela obra Menniniana, no Festival Tinta Fresca de 2017. Fascinado por fenômenos naturais de grandes dimensões, Dino decidiu criar uma peça inspirada no fenômeno óptico observado nas regiões polares. Surpreendente, apenas em 2011 cientistas conseguiram registrar o som da aurora boreal, “um som bastante ruidoso que nos faz lembrar a música eletroacústica”. A partir do nome dado ao fenômeno por Galileu Galilei, em 1619, que combina duas figuras mitológicas gregas – Aurora, a deusa grega do amanhecer, e Boreas, o deus do vento norte conhecido por suas asas púrpuras –, a composição estrutura-se em quatro seções. A Introdução explora técnicas mais contemporâneas de escrita a fim de produzir uma sonoridade mais ruidosa, evocativa dos sons da aurora boreal. Boreas (O Deus dos Ventos do Norte) apresenta uma sonoridade menos melódica e mais rítmica, obstinada e dramática, com harmonias sombrias e misteriosas. Estas contrastam com o caráter mais melodioso e sinuoso, embora ainda misterioso, da seção Aurora (A Deusa do Amanhecer). Como síntese, o Finale retoma e recombina elementos das duas seções que o precedem, dando origem, assim, a um fenômeno de grandes dimensões sinfônicas.

Sobre o Concerto para violino nº 2 de Prokofiev

Sergei Prokofiev (Sontsovka, Ucrânia, 1891 – Moscou, Rússia, 1953) e Concerto para violino nº 2 em sol menor, op. 63 (1935)

Prokofiev, que vivia fora da Rússia desde 1918, desejava ardentemente rever seu país natal. Nos Estados Unidos, onde tentara vencer, seu estilo composicional era sentido como excessivamente duro para as plateias norte-americanas. Na Europa ocidental, para onde se mudara em busca de sucesso, suas obras ainda eram pouco executadas, e os trabalhos que lhe ofereciam como pianista, escassos. Sem muitas opções de trabalho e com saudades de casa, Prokofiev retornou à Rússia em 1936. “O ar das terras estrangeiras não me inspira porque eu sou russo, e não há nada mais nocivo para mim do que viver no exílio”, disse certa vez. Pouco antes de seu regresso definitivo à Rússia, em 1935, na mesma época em que trabalhava no balé Romeu e Julieta, Prokofiev compôs o Concerto para violino nº 2. Trata-se de sua última obra composta no Ocidente. Talvez pela saudade, escolheu começar o Concerto com uma melodia extremamente lírica de origem russa. A obra foi criada por encomenda do violinista francês Robert Soëtens. A estreia se deu em Madri, com a Sinfônica da cidade, em dezembro de 1935, com Soëtens ao violino e regência de Enrique Fernández Arbós.

Sobre as suítes do balé Daphnis et Chloé

Maurice Ravel (Ciboure, França, 1875 – Paris, França, 1937) e Daphnis et Chloé: Suíte nº 1 (1909/1912) e Daphnis et Chloé: Suíte nº 2 (1909/1912)

Daphnis et Chloé, uma das obras essenciais da música do século XX, nos permite apreciar Ravel em um de seus melhores momentos, não apenas como grande compositor e refinado orquestrador, mas também como habilidoso construtor de cenas. O balé é inspirado no romance grego de mesmo nome, escrito por volta do século II d.C., que conta a história de duas crianças que foram abandonadas pelos respectivos pais na ilha de Lesbos e criadas por pastores. À medida que cresciam, Daphnis e Chloé se apaixonavam sem compreenderem o significado do amor que sentiam. Em um dia de festa, Chloé é sequestrada por piratas, Daphnis chora e reza para que ela retorne com vida. O deus Pan o ajuda e resgata Chloé. Todos comemoram seu regresso com uma grande festa, quando os protagonistas finalmente se casam. A peça de Ravel foi criada a partir de uma encomenda do criador dos Ballets Russes, Sergei Diaghilev, em 1909. A estreia, em 1912, foi um sucesso e ajudou a estabelecer a reputação do francês como um dos principais compositores da época. Um ano antes de terminar a orquestração do balé, Ravel extraiu, da música que havia composto até aquele momento, uma suíte de concerto. Intitulada Suíte nº 1, ela foi estreada antes do balé, em 1911, e abrange as partes 1 e 2 da obra completa, desde a dança dos pastores e o sequestro de Chloé até o seu resgate pelo deus Pã. Após a estreia do balé, trabalhou na elaboração da Suíte nº 2, que só seria estreada em 1913, abrangendo a terceira parte da obra completa: do dia seguinte ao resgate de Chloé até a dança final da união dos amantes.

Maestro Fabio Mechetti

Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008, Fabio Mechetti posicionou a orquestra mineira no cenário mundial da música erudita. Além dos prêmios conquistados, levou a Filarmônica a quinze capitais brasileiras, a uma turnê pela Argentina e Uruguai e realizou a gravação de oito álbuns, sendo três para o selo internacional Naxos. Natural de São Paulo, Mechetti serviu recentemente como Regente Principal da Filarmônica da Malásia, tornando-se o primeiro regente brasileiro a ser titular de uma orquestra asiática.

Nos Estados Unidos, Mechetti esteve quatorze anos à frente da Orquestra Sinfônica de Jacksonville e, atualmente, é seu Regente Titular Emérito. Foi também Regente Titular das sinfônicas de Syracuse e de Spokane, da qual hoje é seu Regente Emérito. Regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington, com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio. Da Sinfônica de San Diego, foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Sinfônica de Nova Jersey. Continua dirigindo inúmeras orquestras norte-americanas e é convidado frequente dos festivais de verão norte-americanos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York.

Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmem, Don Giovanni, Così fan tutte, La Bohème, Madame Butterfly, O barbeiro de Sevilha, La Traviata e Otello.

Suas apresentações se estendem ao Canadá, Costa Rica, Dinamarca, Escandinávia, Escócia, Espanha, Finlândia, Itália, Japão, México, Nova Zelândia, Suécia e Venezuela. No Brasil, regeu todas as importantes orquestras brasileiras.

Fabio Mechetti é Mestre em Regência e em Composição pela Juilliard School de Nova York e vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, da Dinamarca.