Wallace Graciano
Filmes biográficos quase sempre conseguiram grande apelo junto ao público por levar uma faceta outrora não conhecida de um personagem. E esse era o mínimo que se esperava de “Lou”, película que retrata a vida da indomável Lou Andreas-Salomé, uma mulher à frente de seu tempo, que quebrou paradigmas ao buscar educação formal e galgar espaço entre os grandes intelectuais de seu tempo, como Paul Rée, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud. Porém, o que se vê durante boa parte das 1h53min de duração é a tentativa de embasar a obra em uma visão conservadora e convencional, que se distanciam da mente brilhante que encantou a todos nos séculos XIX e XX.
Releituras à parte, “Lou” traz a história de uma mulher russa, nascida em São Petersburgo, irmã de seis homens, e que cresceu em uma família tradicional da época. Já no final de sua vida, e vivendo no sombrio período em que a Alemanha Nazista se caminhava para a “Solução Final”, ela opta por contar suas memórias a um homem mais novo, que buscava seus ensinamentos para fugir de suas chagas. A partir desse momento, ela detalha toda sua construção intelectual, desde quando era uma adolescente ávida por aprendizado, que conseguiu, na marra, aprender filosofia, teologia e literatura alemã, até sua passagem para a universidade de Zurique, a única a aceitar mulheres no período.
A partir desse momento, cria-se uma narrativa em que foca no seu distanciamento sexual, mesmo convivendo com homens apaixonados por ela, como Rée e Nietzsche. Apesar de no espaço de tempo ela conseguir quebrar diversos tabus, como o de uma mulher não poder ser dona de seu próprio pensamento, entende-se de forma demasiada pelas paixões e amizades da personagem, mostrando suas mudanças de ideologia e conceitos, quase sempre com o apelo sentimental como pano de fundo.
Num espectro que a personagem merecia uma abordagem mais ampla e menos arraigada ao conservadorismo, “Lou” é um filme mal construído, que tinha tudo para ser uma belíssima película. A personagem é fascinante. Sua obra e biografia, mais ainda. A estética do filme, maravilhosa – incluindo belíssimas transições quando a personagem busca suas memórias em cartões postais e fotos. Porém, isso tudo se esvai pelo roteiro mal elaborado. Um pecado.
Ficha técnica:
Direção, produção e roteiro: Cordula Kablitz- Post
Produção: Avanti Media Fiction / KGP Kranzelbinder / Gabriele Production / Tempest Film
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h53
Gêneros: Drama / Biografia / Histórico
País: Alemanha
Classificação: 16 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)