Juliana Rossi, coordenadora do IPGC Lab, área de estudos do Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades (IPGC)
A grande influência das mudanças climáticas na vida humana é inegável. Seja na política, na saúde, na economia e, principalmente no cotidiano da população, o clima é um fator determinante. A extremização dele, portanto, pode atingir níveis catastróficos e preocupantes. As grandes secas, as ondas de calor, as fortes chuvas e incêndios são alguns exemplos de eventos climáticos extremos que castigam a população brasileira e mundial todos os anos, em dimensões cada vez mais alarmantes.
O ano de 2024, o mais quente já registrado na história, segundo o programa de monitoramento climático europeu Copernicus, evidencia isso. O instituto também ressaltou que, com isso, o ano foi o primeiro a ultrapassar o limite de 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais de temperatura. Com a previsão do fenômeno climático La Niña, a expectativa é que o ano de 2025 também seja marcado pelo clima extremo. No Brasil, o fenômeno provoca um aumento de chuvas nas regiões Norte e Nordeste, uma maior variação térmica, e tempo seco nas regiões Sul e Centro-Sul.
Além das mudanças climáticas, as cidades já apresentam desafios inerentes à sua própria estrutura. Belo Horizonte, por exemplo, localizada em região montanhosa, é especialmente vulnerável a deslizamentos e inundações. A canalização de cursos d´água, uma solução adotada no passado para expandir a cidade, agravou o problema, intensificando o escoamento superficial e aumentando o risco de alagamentos durante períodos de chuvas intensas.
Embora as fortes chuvas causem tragédias todos os anos na capital mineira, a cidade também não escapa dos longos períodos de estiagem e das ondas de calor extremo, que também atingem diversas localidades do planeta e justificam o título de ano mais quente da história concedido a 2024.
A necessidade de preparar as cidades para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas é cada vez mais evidente. E é nesse contexto que o conceito de cidades resilientes ganha ainda mais relevância. Mas o que define uma cidade resiliente? Uma cidade resiliente é aquela capaz de resistir, absorver e se recuperar dos impactos de eventos extremos, garantindo a continuidade de seus serviços essenciais e a qualidade de vida de seus habitantes.
Embora nenhuma cidade esteja completamente imune aos impactos das mudanças climáticas, é possível construir cidades mais resilientes. A gestão eficaz de riscos e danos, aliada à integração e ao monitoramento contínuo das diversas esferas da sociedade são passos fundamentais nesse processo. A resiliência humana é um caminho a ser percorrido de forma contínua e exige adaptação e inovação.
Com o objetivo de construir cidades mais inteligentes e resilientes, o IPGC lançou, recentemente, o IPGC Lab. Esse espaço de inovação reúne pesquisadores para desenvolver soluções tecnológicas que auxiliem as cidades a enfrentar desafios como os das mudanças climáticas. Através da aplicação de tecnologias, o IPGC Lab busca otimizar a gestão urbana, reduzir os impactos ambientais e melhorar a qualidade de vida da população.
Transformar uma cidade em um local resiliente exige um esforço conjunto de governo, empresas, sociedade civil e, principalmente, dos cidadãos. A participação ativa da população também é fundamental para garantir que as ações de resiliência atendam às necessidades e expectativas da comunidade. Uma gestão pública transparente, inclusiva e orientada para a participação cidadã é fator indispensável na construção de um ambiente mais sustentável e adequado ao enfrentamento de um futuro incerto.