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Inspirado na vida do ator Arlindo Barreto, o “Bozo”, filme destaca a atuação de Vladimir Brichta como o protagonista (Fotos: Luiz Maximiniano/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni

Cansado de fazer pornochanchadas para sobreviver, um ator fracassado é aprovado meio por acaso num teste no qual nem ele acreditava e consegue o emprego de apresentador de um programa infantil numa emissora de TV. Mas há uma ressalva: ele só pode trabalhar mascarado. E, por contrato, jamais pode revelar sua identidade. O personagem vira sucesso nacional, seu programa torna-se campeão de audiência, ele enriquece, mas é obrigado a permanecer no anonimato. Apenas esses dados já seriam suficientes para se contar uma boa história. Mas se esse personagem é um palhaço maluco e drogado, se ele tem um filho afetuoso que o adora, e ainda por cima a narrativa é baseada em fatos reais, aí sim é que os ingredientes se completam.

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Residem aí, nesses detalhes, 80% do acerto de “Bingo – o Rei das Manhãs”, filme de Daniel Rezende (premiado montador de “Tropa de Elite 2”) que conta a trajetória de Arlindo Barreto (no filme ele recebe o nome de Augusto Mendes), que fez sucesso como o palhaço Bozo no SBT. Os outros 20% da riqueza do filme ficam por conta da contundente atuação de Vladimir Brichta, que faz um palhaço tão emocionante quanto rebelde, tão amoroso quanto atrevido, tão talentoso quanto irresponsável.

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Perfeitas também são as atuações de Leandra Leal como Lúcia, a diretora careta e evangélica do programa, por quem ele se apaixona; Ana Lúcia Torres como Marta, a mãe atriz; Tainá Muller como Angélica, ex-mulher do palhaço; Augusto Madeira como o hilário câmera Vasconcelos; Emanuelle Araújo como a bailarina Gretchen que ele leva pra rebolar para as crianças e com a qual tem um caso; e o menino Cauã Martins, que enternece pelo olhar carente e desprotegido.

De quebra, tem uma aparição relâmpago de Domingos Montagner, que representa os palhaços aos quais Bingo recorreu para tentar aprender seu novo ofício. E Pedro Bial, como o diretor de uma grande emissora de TV que recusou dar um trabalho melhor ao ator. Devido a questões autorais, além de Bozo, os nomes das emissoras foram trocados – a Globo é chamada de Mundial, o SBT de TVP.
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Para temperar ainda mais essa história que nem parece real, o ator fracassado Augusto Mendes é filho de uma atriz em fim de carreira e tem, com ela, uma relação forte e tempestuosa. Para quem não sabe, Arlindo Barreto, o Bozo real, é filho de Márcia de Windsor, que se tornou conhecida como a boazinha do júri dos programas de calouro. Mais tempero? O filme se passa nos coloridos e extravagantes anos de 1980, marcados não apenas por ombreiras gigantes, mas também pelas discotecas, a cocaína e a loucura.

Com uma boa dose de atrevimento, somado a pitadas de emoção, Daniel Rezende alterna humor e ternura, conta uma bela história de superação sem nenhum pieguismo e ainda faz uma homenagem à figura mítica do palhaço no seu ofício mágico de fazer rir, mesmo com o coração aos pedaços e a vida em frangalhos. Classificação: 16 anos