Encerrando as Expedições Musicais da série Fora de Série 2018, a Filarmônica de Minas Gerais apresenta, no dia 17 de novembro, às 18h, na Sala Minas Gerais, a música brasileira, com seus ritmos e melodias a refletirem o povo e a cultura do país.As musicistas da Orquestra, Cássia Lima (Flauta Principal) e Catherine Carignan (Fagote Principal) abrem o repertório com as Bachianas Brasileiras nº 6, de Villa-Lobos, escritas para flauta e fagote. Ainda no programa, a dramaticidade de Carlos Gomes na Abertura da ópera Maria Tudor; o Episódio Sinfônico, de Braga,nas comemorações dos seus 150 anos; Brasiliana, de Guarnieri; o Uiramiride Eli-Eri Moura,e o nacionalismo do Batuque,de Lorenzo Fernandez. A regência é do maestro Marcos Arakaki. Os programas da série Fora de Série em 2018 sempre têm uma obra de câmara apresentada por músicos da Filarmônica.

A série Fora de Série 2018 teve como tema Expedições Musicais. Os nove concertos exploraram diferentes regiões e culturas por meio das variações formais que a música pode ter. As apresentações são iniciadas com obras camerísticas, e o repertório segue com peças de estruturas musicais maiores para grupos mais numerosos. Os temas dos concertos foram: Itália, França, Rússia, Leste europeu, Estados Unidos, Países hispânicos, Países nórdicos, Alemanha e Brasil.

Este concerto é apresentado pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais e Aliança Energia por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

O repertório

“Expedições: Brasil”

Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959): Bachianas Brasileiras nº 6

Carlos Gomes (1836 –1896): Maria Tudor: Abertura

Francisco Braga (1868 – 1945): Episódio Sinfônico

Camargo Guarnieri (1907 – 1993): Brasiliana

Eli-Eri Moura (1963): Uiramiri

Lorenzo Fernandez (1897 – 1948): Batuque

A trajetória internacional de Villa-Lobos consolidou-se nos anos 1920, em Paris, metrópole das vanguardas artísticas. De volta ao Brasil, Villa-Lobos inicia uma fase neoclássica e, entre 1930 e 1945, dedica-se à coleção das Bachianas Brasileiras, reverenciando, na figura de Bach, a tradição da música ocidental. Cada uma das nove Bachianas destina-se a um conjunto instrumental diferente. A de nº 6 – a única de formação camerística – evoca os chorões cariocas em seu duo de flauta e fagote.

Inspirada no drama homônimo de Victor Hugo e com libreto de Emílio Praga, Maria Tudor foi encenada pela primeira vez no teatro Alla Scala de Milão em 1879. Na época, Carlos Gomes já era figura de destaque no cenário operístico internacional, tendo estreado com sucesso óperas como O Guarani (1870) e Fosca (1873). Em Maria Tudor, o enredo se baseia na história da rainha Maria I da Inglaterra, conhecida como “a sanguinária”. Diferentemente dos prelúdios convencionais, que condensam em um pot-pourri os principais temas da ópera, essa Abertura concilia o tema da vingança, extraído do final do ato III, com os momentos líricos da marcha dos condenados do ato IV, através de um trabalho de desenvolvimento melódico. Carlos Gomes realiza, dessa maneira, uma obra sinfônica em que a ânsia de vingança inicial se transforma numa seção lírica, marcada pela compaixão e pelo amor. Segundo Victor Hugo, o drama pretende retratar “uma rainha que seja uma mulher. Grande como rainha. Verdadeira como mulher”.

Da coletânea Primeiros Cantos, de Gonçalves Dias, faz parte o poema O Templo, que inspirou o Episódio Sinfônico, a “canção do exílio” do compositor carioca Francisco Braga. A curta obra sinfônica foi composta em Dresden, Alemanha, em 1898 – o oitavo dos dez anos que o autor do nosso Hino à Bandeira viveu na Europa, sob os auspícios do governo brasileiro. Ao eleger o fragmento de O Templo como inspiração, Braga optou por distanciar-se das características indianistas e americanas tão frequentes em Gonçalves Dias, para adentrar no lirismo solene e religioso de sua obra. Escrevendo sobre o Episódio Sinfônico, o crítico Luiz Heitor Corrêa de Azevedo diz: “trata-se de uma poesia repassada de acentos místicos, de religiosidade, que o compositor muito felizmente evocou, na orquestra, sugerindo a grave atmosfera de um templo e a plenitude do órgão quando emprega toda a riqueza de sua registração”. Nas asas dos versos de Gonçalves Dias, Braga criou um episódio sinfônico de oração íntima e singela. A obra foi apresentada em junho de 1944 pela Orquestra da Sociedade de Concertos Sinfônicos, fundada pelo próprio Braga, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência do célebre maestro austríaco Erich Kleiber.

Em uma conjuntura de afirmação dos elementos caracteristicamente brasileiros na produção musical, Camargo Guarnieri compôs, no ano de 1950, a suíte Brasiliana. A obra constitui-se em expressão emblemática do nacionalismo musical enfatizado pelo compositor, que enaltecia a riqueza do folclore brasileiro e alertava para as influências que ameaçavam a cultura musical de nosso país – postura que causou grande polêmica na época. É formada por três movimentos (Entrada, Moda e Dança), contrastantes no que concerne ao caráter e ao andamento. No primeiro, apreciamos um tema sincopado e brilhante, inicialmente apresentado pelas madeiras e posteriormente desenvolvido pelo flautim. Já no segundo, temos uma linha melódica suave e sensível, remetendo às modas de viola. No terceiro movimento, o tema é apresentado inicialmente pelo fagote, com destaque para as linhas vibrantes e ritmadas dos instrumentos de percussão, até a conclusão enfática com todo o conjunto orquestral. A Brasiliana é dedicada à memória de Nathalie Koussevitzky, fundadora da Koussevitzky Music Foundation e esposa de um grande amigo de Guarnieri, o regente e compositor russo Sergei Koussevitzky.

Eli-Eri Moura, nascido em Campina Grande, leciona Composição na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Sua obra é vultosa e premiada em vários festivais brasileiros e internacionais. Compôs duas óperas, peças para grupos de câmara, coro, orquestra, utilizando procedimentos da música contemporânea em interação com elementos de manifestações musicais populares brasileiras. Dedica-se frequentemente à música incidental para vídeo, teatro e cinema, quando utiliza uma linguagem mais tradicional. A peça Uiramiri foi apresentada com grande sucesso em 2009, na XVIII Bienal de Música Brasileira Contemporânea.

Francisco Braga regeu a estreia da suíte Reisado do Pastoreio, em três movimentos, de Lorenzo Fernandez. O movimento final, Batuque, causou entusiasmo. É a peça mais conhecida desse compositor eclético que se dedicou a vários gêneros. Foi parceiro de Villa-Lobos em muitas atividades musicais e, se sua carreira não fosse inesperadamente interrompida aos cinquenta anos (na véspera de sua morte, fora muito aplaudido, ao reger um concerto na Escola Nacional de Música), Lorenzo Fernandez poderia ter tido destaque semelhante ao do amigo.

Maestro Marcos Arakaki

Regente Associado da Filarmônica, Marcos Arakaki colabora com a Orquestra desde 2011. Sua trajetória artística é marcada por prêmios como o primeiro lugar no Concurso Nacional Eleazar de Carvalho para Jovens Regentes (2001) e no Prêmio Camargo Guarnieri (2009). Foi semifinalista no Concurso Internacional Eduardo Mata (2007).

O maestro foi regente assistente da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), bem como titular da OSB Jovem e da Sinfônica da Paraíba. Dirigiu as sinfônicas do Estado de São Paulo (Osesp), do Teatro Nacional Claudio Santoro, do Paraná, de Campinas, do Espírito Santo, da Paraíba, da Universidade de São Paulo, Filarmônica de Goiás, Petrobras Sinfônica e Orquestra Experimental de Repertório. No exterior, regeu as filarmônicas de Buenos Aires e da Universidade Autônoma do México, Sinfônica de Xalapa, Kharkiv Philharmonic da Ucrânia e Boshlav Martinu Philharmonic da República Tcheca.

Arakaki tem acompanhado importantes artistas do cenário erudito, como Pinchas Zukerman, Gabriela Montero, Sergio Tiempo, Anna Vinnitskaya, Sofya Gulyak, Ricardo Castro, Rachel Barton Pine, Chloë Hanslip, Luíz Filíp, Günter Klauss, Eddie Daniels, David Gerrier e Yamandu Costa.

Natural de São Paulo, é Bacharel em Música pela Universidade Estadual Paulista, na classe de Violino de Ayrton Pinto, e Mestre em Regência Orquestral pela Universidade de Massachusetts. Participou do Aspen Music Festival and School, recebendo orientações de David Zinman na American Academy of Conducting at Aspen. Esteve em masterclasses com Kurt Masur, Charles Dutoit e Neville Marriner.

Seu trabalho contribui para a formação de novas plateias, em apresentações didáticas, bem como para a difusão da música de concerto em turnês a mais de setenta cidades brasileiras. Atua como coordenador pedagógico, professor e palestrante em projetos culturais, instituições musicais e universidades.

Cássia Lima, flauta

Cássia é Bacharel em Flauta pela Unesp e concluiu seu mestrado e Artist Diploma na Mannes College of Music, Nova York. Foi aluna de João Dias Carrasqueira, Grace Busch, Jean-Nöel Saghaard, Marcos Kiehl e Keith Underwood. Participou dos principais festivais de música do país e venceu concursos importantes, como o II Concurso Nacional Jovens Flautistas, o Jovens Solistas da Orquestra Experimental de Repertório, a Mannes Concerto Competition e o Gregory Award. Tem ampla atuação com música de câmara, integrando atualmente o Quinteto de Sopros da Filarmônica e diversos outros grupos em Belo Horizonte. Bolsista do Tanglewood Music Center, atuou como camerista e Primeira Flauta sob regência de James Levine, Kurt Masur, Seiji Ozawa e Rafael Frühbeck de Burgos. Na Minnesota Orchestra foi regida por Charles Dutoit. Foi Primeira Flauta e solista da Osesp, integrando-se à Filarmônica em 2009 como Flauta Principal.

Catherine Carignan, fagote

Natural do Canadá, Catherine iniciou seus estudos de fagote aos 12 anos. No Conservatório de Música do Québec, sua cidade natal, foi aluna de Michel Bettez e concluiu o Bacharelado em 2007, sob orientação de Mathieu Harel, da Sinfônica de Montreal. Estudou também com a solista Nadina Mackie Jackson na Glenn Gould School of the Royal Academy of Music, em Toronto, e participou de várias masterclasses na América do Norte, na Alemanha e no Brasil. Foi segunda fagotista da Victoria Symphony Orchestra durante um ano, e, pouco depois, tornou-se Fagote Principal na Filarmônica, em 2008, onde também integra o Quinteto de Sopros. É cofundadora do Grupo Harmona.

Sobre a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais fez seu primeiro concerto em 2008, há dez anos. Diante de seu compromisso de ser uma orquestra de excelência, cujo planejamento envolve concertos de série, programas educacionais, circulação e produção de conteúdos para a disseminação do repertório sinfônico brasileiro e universal, a Filarmônica chega a 2018 como um dos mais bem-sucedidos programas continuados no campo da música erudita, tanto em Minas Gerais como no Brasil. Reconhecida com prêmios culturais e de desenvolvimento econômico, a nossa Orquestra, como é carinhosamente chamada pelo público, inicia sua segunda década com a mesma capacidade inaugural de sonhar, de projetar e executar programas valiosos para a comunidade e sua conexão com o mundo.

SERVIÇO:

Série Fora da Série

17 de novembro – 18h
Expedições: Brasil
Sala Minas Gerais