Alexandre Nagazawa, arquiteto e urbanista, diretor da BLOC Arquitetura Imobiliária

Reinaugurada no dia 27 de fevereiro em Belo Horizonte, a Praça da Independência tem provocado reações intensas e contrastantes da população mineira. Como um resgate arquitetônico da cidade, a reforma da icônica praça, entre as ruas do Tamóios e da Bahia, no hipercentro da cidade, tem promovido um debate fervoroso, repleto de argumentos apaixonados sobre o presente e futuro da capital mineira. 

Construída em 1940 com projeto do arquiteto italiano Roberto Capello, a praça da Independência foi criada como um espaço de convívio da população e de integração urbana, sendo um marco na história urbanística da cidade. Ao longo dos anos 70, a praça que separa duas construções emblemáticas: os edifícios Sulacap e Sulamérica, passou por descaracterizações. Entre elas, a construção de um anexo de dois andares que ligava os dois edifícios. As intervenções não só alteraram o projeto original como afetaram a identidade do conjunto arquitetônico.

No fim de 2024, após décadas de mobilização da população juntamente com entidades, a Prefeitura de Belo Horizonte resolveu devolver o espaço com seus jardins para os moradores e demoliu o prédio que ocupava o lugar da praça dando à ela suas características originais. Agora, o debate se aflora. Há os entusiastas, que veem na reabertura da praça um símbolo de novos tempos para o urbanismo belo-horizontino. Falam sobre o direito à cidade, relembram a exuberância da Avenida Afonso Pena sombreada por fícus e celebram a devolução do espaço público ao convívio das pessoas. Aspiram a uma cidade mais convidativa, onde ruas, praças e parques cumpram seu papel de promover encontros, caminhadas e descanso.

Por outro lado, há os críticos, insatisfeitos com a configuração da praça, que a enxergam como um espaço árido, carente de vegetação e longe do ideal de um refúgio urbano. Questionam sua reabertura e alertam para o risco de que o local se torne apenas um ponto de passagem ou um abrigo improvisado para aqueles que não encontram acolhimento da sociedade. E, claro, há os nostálgicos do passado rodoviarista, que ainda acreditam que a cidade deve servir prioritariamente aos carros e rechaçam qualquer tentativa de reequilibrar a ocupação do espaço urbano em favor dos pedestres e do meio ambiente.

Mas é exatamente isso que define uma cidade viva: um caldeirão de visões, necessidades e debates. A Praça da Independência não é apenas um pedaço de terra resgatado do esquecimento. É um manifesto urbano. Durante décadas, foi soterrada pelo que se entendia como progresso – o avanço da especulação imobiliária que, sem considerar o impacto social e cultural, transformava cada pedaço de solo em mercadoria. Seu ressurgimento não é apenas uma questão local, mas um símbolo de algo maior: a necessidade de reavaliarmos a forma como construímos e habitamos nossas cidades.

A Praça da Independência nos convida a abandonar modelos ultrapassados de urbanismo, a superar o conceito de cidade fragmentada, excludente e hostil ao meio ambiente. Enquanto sociedade – cidadãos, gestores públicos e setor privado –, devemos assumir um compromisso coletivo com espaços públicos mais generosos, humanizados e sustentáveis. Precisamos de um pacto real com a rua para direcionar ao que ela tem de maior potência: ser o fio condutor pujante da vida coletiva das cidades. Praças, parques e arborização não são luxos ou meros adornos urbanos, mas elementos fundamentais para o equilíbrio ambiental, o bem-estar social e a construção de uma cidade verdadeiramente democrática.

O nome da praça nuna foi tão atual e tão necessário. Se não repensarmos com urgência a forma como construimos nosso território, o grito que ecoou séculos atrás se tornará novamente presente. Ou reconstruímos nossas cidades com inteligência, sensibilidade com nossa história e cultura, e compromisso com o futuro coletivo ou sucumbiremos às consequências de um modelo de cidade cada vez mais individualista, que ignora as pessoas, enfraquece a vida em comunidade e esgota os recursos do planeta em nome de interesses de poucos. É independência ou morte!