Especialista discute origem dos problemas de inundações e alagamentos na cidade e apresenta melhores soluções para enfrentá-los
A primavera marca o início da temporada de fortes chuvas no país, e em Belo Horizonte isso não é diferente. Todos os anos a capital mineira sofre com inundações e problemas relacionados aos temporais. Neste ano, após o longo período de estiagem vivido pelo estado, que totalizou mais de 170 dias sem precipitações, a cidade passa a registrar fortes chuvas, que podem acarretar nesses problemas já conhecidos pela população belo-horizontina.
Para Alexandre Nagazawa, arquiteto e urbanista e sócio fundador da BLOC Arquitetura Imobiliária, a situação não será revertida enquanto as grandes obras de infraestrutura não atingirem todos os pontos necessários espalhados pela cidade. No balanço do último período chuvoso, encerrado no dia 31 de março de 2024, a Prefeitura afirmou que foram gastos cerca de R$1 bilhão em um conjunto de obras para prevenção de desastres causados pela chuva. O órgão também anunciou o investimento de R$578 milhões em obras de micro e macrodrenagem.
O início do novo período chuvoso, porém, já apresenta situações preocupantes. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), em 2024, Belo Horizonte teve o 3° outubro mais chuvoso em 114 anos, com o acúmulo de 289,0 mm de chuva, número 162% acima da climatologia.
Mesmo com o recente investimento da Prefeitura, moradores de regiões propensas a inundações ainda sofrem com o problema. O especialista destaca a dificuldade de investimento nessas grandes obras de infraestrutura, que vão além do orçamento elevado. “As obras de infraestrutura não resultam em votos. São obras que estão debaixo da terra, que geram grandes transtornos no trânsito e na vida da população”.
O arquiteto defende uma política de Estado sólida em relação a essas obras. “Enquanto o problema não for tratado como uma questão pública, isto é, de responsabilidade governamental, ele vai continuar sendo político. Ou seja, vai ser tratado de gestão para gestão”. Nagazawa ressalta ainda que países como o Japão, referência em obras de infraestrutura de combate a desastres naturais e eventos climáticos extremos, tratam o problema de maneira eficaz por ser enfrentado de frente pelo Estado.
Negando as origens não se constrói o futuro
As drásticas alterações no clima e os eventos extremos que assolam não apenas o Brasil, mas diversos países do mundo todo, são, de acordo com Nagazawa, consequência da ação humana. “A população ocupou indevidamente tudo. A ocupação humana foi contra o conhecimento empírico dos povos originários. O Rio Grande do Sul é a prova cabal disso.Os indígenas na época da colonização já não ocupavam aquela área, porque era uma área notadamente de inundação, então veio o homem branco e colonizou a área inundada”, afirma o arquiteto.
A topografia como agravante
Em relação à topografia, Belo Horizonte já é naturalmente propensa a alagamentos. A topografia que circunda a cidade é responsável pelo escoamento da água da chuva para as áreas urbanas mais baixas. “A partir do momento em que essa água é escoada por grandes áreas impermeabilizadas, sua velocidade e volume aumentam drasticamente, assim as inundações começam. Afinal, além do relevo ser um agravante, a estratégia de expansão e urbanização da cidade envolveu canalizações desses cursos de água”, explica Nagazawa.