Segundo especialista da Vitru, regulamentação deve ser flexível, pois a tecnologia está profundamente ligada ao futuro da educação, e, ignorar essa realidade pode ser um erro
A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou, recentemente, um projeto de lei que proíbe o uso de celulares nas escolas públicas e privadas paulistas. O impedimento vale também para os intervalos e leva em conta as pesquisas dos últimos anos sobre prejuízo das telas para crianças e adolescentes. O projeto, de autoria da deputada Marina Helou (Rede), torna proibido o uso dos aparelhos em toda a Educação Básica, para todas as idades. O Estado é o primeiro no País a ter uma legislação atual nesse sentido. A expectativa é de que a medida seja sancionada em breve pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A medida paulistana vai ao encontro a um movimento nacional com a também recente decisão da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, que aprovou o projeto de lei que proíbe o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos em escolas, tanto durante as aulas quanto nos intervalos e recreio. A medida seguiu para análise pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, caso o projeto seja aprovado, será encaminhado ao plenário para votação. Depois, terá de passar pela avaliação do Senado Federal.
Diante de tais projetos, Priscilla Campiolo Manesco, coordenadora de Aprendizagem da Vitru Educação, comenta que, os celulares, quando controlados, podem desenvolver habilidades digitais fundamentais. “Ao integrar o uso pedagógico dos smartphones, por exemplo, ajudamos os alunos a desenvolverem competências úteis para o futuro profissional.” Por outro lado, segundo ela, um estudo da Universidade de Stanford (2021) revelou que o uso não regulamentado de celulares nas aulas pode reduzir em até 20% o desempenho em testes de atenção. “Isso reforça a principal preocupação dos professores: a distração.”
Entre prós e contras, a lista é grande. Para ela, aplicativos educativos interativos podem engajar mais os estudantes, pois jovens cercados de tecnologia tendem a se envolver quando as aulas são dinâmicas e usam dispositivos móveis. “Aplicações como plataformas de aprendizado gamificadas e recursos interativos podem enriquecer o ensino tradicional.” Ao mesmo tempo, conforme a profissional, os riscos são claros, já que a distração é uma crítica frequente. “Redes sociais, jogos e mensagens competem com o conteúdo pedagógico pela atenção dos alunos”, completa.
Um ponto tão importante que acaba não sendo discutido é o impacto na saúde mental. De acordo com a professora, o uso prolongado de celulares tem sido relacionado a problemas como ansiedade e dificuldades de socialização. “Psicólogos alertam que a exposição excessiva às redes sociais pode intensificar a pressão por aceitação, criando um ambiente prejudicial ao desenvolvimento dos estudantes. Esse tópico precisa ser abordado.”
Para ela, a discussão sobre o uso de celulares na Educação Básica não deve se limitar a proibir ou liberar totalmente, mas “a chave está na regulamentação cuidadosa, aproveitando as vantagens tecnológicas sem desconsiderar os impactos negativos”. “O desafio é capacitar os professores a usar os celulares como aliados pedagógicos, mantendo o controle do ambiente de aprendizagem. A regulamentação deve ser flexível para que cada escola possa adaptar suas políticas conforme suas necessidades. A tecnologia está profundamente ligada ao futuro da educação, e ignorar essa realidade pode ser um erro”, finaliza a pedagoga.