Novo protocolo com angioressonância magnética renal é inovador no leste de Minas Gerais. Procedimento descarta dois exames invasivos e ainda é mais rápido e indolor, trazendo mais tranquilidade para o candidato à doação

O comerciante Filype Benini, de 34 anos, morador de Naque, no leste de Minas Gerais, é uma dessas pessoas que buscam fazer o bem. Ao saber da doença renal crônica do primo, Leandro Garajau, Filype não pensou duas vezes em se candidatar para uma possível doação. “Nós somos muito unidos. Fomos criados praticamente juntos na mesma cidade. Eu já fui motorista da área da saúde e sei como é difícil para os pacientes renais terem que fazer diálise três vezes por semana. O que eu puder fazer para dar uma vida normal ao meu amigo e primo eu vou fazer”, conta.

Leandro tem 41 anos e há quase um ano descobriu uma doença renal crônica. Segundo Filype, ele passou por médicos em Governador Valadares, até chegar ao Hospital Márcio Cunha, administrado pela Fundação São Francisco Xavier em Ipatinga, que é referência em hemodiálise e em transplante de rins. Assim que foi detectada a necessidade de um doador de rins, a família de Leandro foi contactada para que pudessem identificar possíveis doadores, uma vez que, entre os familiares, as chances de compatibilidade são maiores. “Os dois irmãos dele moram nos EUA. Eu me prontifiquei. Não tenho receio nenhum. Conheço pessoas que já passaram pela doação e transplante e estão muito bem, graças a Deus. As pessoas têm medo porque desconhecem todo o processo. É preciso se inteirar mais do assunto”, ensina.

Filype foi o primeiro possível doador a passar pelo novo protocolo utilizado pelo Serviço de Transplante Renal do Hospital Márcio Cunha, que agora, utiliza o exame da angioressonância magnética renal. O exame, também chamado de angiografia por ressonância magnética estuda artérias de forma não invasiva, onde as estruturas do sistema vascular são avaliadas através da emissão de ondas magnéticas.

Com o exame, é possível avaliar os vasos renais do potencial doador e confirmar ou descartar alterações relacionadas à circulação nos rins, como a trombose venosa renal, a hipertensão renal, o bloqueio das artérias renais, a doença renal, entre outras o que pode contraindicar a doação.

Benefícios

Para o coordenador do Serviço de Transplante Renal da Fundação São Francisco Xavier, Dr. Carlos Calazans, o novo protocolo com a angioressonância magnética renal é uma conquista que valoriza o doador. “Normalmente para fazer a avaliação do doador era feito dois exames: a urografia e a arteriografia. Na arteriografia, era inserido um cateter na virilha do potencial doador. Hoje, todo o processo é menos invasivo, seguindo normas internacionais que dão mais tranquilidade e segurança a esse candidato à doação. Esse é um diferencial nosso, com este avanço tecnológico aprimoramos nosso protocolo dando tranquilidade ao doador e, consequentemente, estimulando mais doações de doadores vivos”, explica Calazans, que complementa: “o exame traz vários benefícios, entre eles a rapidez na sua realização, que dura em média quarenta minutos. Ele é menos agressivo, com isso tem ainda menos possibilidades de complicações do que os procedimentos anteriores”, detalha. 

O comerciante Filype passou pelo exame e agora aguarda os demais resultados para que seja concluído o protocolo e realizada a doação para o primo. “O exame foi muito tranquilo. Entrei no hospital às 8h e sai no mesmo dia por volta das 12h30. Não senti nada. Estou apenas ansioso para que eu possa de verdade ser um doador para meu primo”.

O médico radiologista da Fundação São Francisco Xavier, Renato Milagres, endossa a importância do novo exame. “Foi uma grande conquista. Hoje a gente faz um exame não invasivo que não só traz benefícios para o doador como permite reconstruções tridimensionais, volumétricas, avaliando a excreção renal, a morfologia, com protocolo específico direcionado”.

Amor de irmãos

O amor pela irmã Claudineia Paula da Silva, de 40 anos, levou o padeiro Ualeis Morais Silva, de 35 anos, morador de Ipatinga, a se candidatar a doação de rim. Claudineia faz tratamento para uma doença renal crônica com a diálise peritoneal automática, um procedimento dialítico em que o paciente realiza o tratamento em casa. No caso dela, a diálise é feita durante à noite e dura cerca de oito horas.

Ualeis também passou pela angioressonância magnética renal. “Foi um exame muito simples. Entrei no hospital às 11h30 e saí por volta das 13h”, lembra. A família agora está mais tranquila. “Estou muito feliz. O resultado do exame mostrou que não tenho problemas nos meus rins. Agora é aguardar demais exames e realizar o transplante. Eu sou muito grato por poder salvar a vida da minha irmã. Doar é mais que um ato de solidariedade, é um ato de amor”, conclui.