A diretora cinematográfica Priscila Guedes e o PhD, neurocientista Fabiano de Abreu levam o nome da ciência brasileira para Cannes com apoio do governo Suíço

Uma produção dirigida por uma brasileira está bem próxima de alcançar um novo patamar a nível internacional. Com a produção “Catalepsia”, dirigida por Priscila Guedes, a expectativa é que o filme faça parte de uma lista restrita que será apresentada com destaque no Festival de Cannes, dentro do novo mercado dedicado à inovação, que é o Cannes XR.

O Cannes XR é um programa do Marché du Film dedicado a tecnologias imersivas e conteúdos cinematográficos inovadores. Este é o encontro anual para a comunidade XR (aquela que lida com realidade virtual, realidade aumentada e realidade mista), oferecendo uma infinidade de oportunidades de networking, financiamento e distribuição. Este programa visa montar uma plataforma de rede com a qual diretores, executivos de estúdio, artistas XR, produtores independentes, empresas líderes de tecnologia, distribuidores baseados em localização e online se reúnem para discutir o papel das tecnologias XR, inspirar a arte de contar histórias e alimentar o futuro do cinema e, ajudar na saúde mental. 

Para fazer parte das seletas produções que atendem esses requisitos, a premiada cineasta brasileira Priscila Guedes está apresentando a produção “Catalepsia” para ser uma das escolhidas pelo Cannes XR. A escolha está sendo feita por votação e o público tem até o próximo dia 8 de junho para registrar o voto a favor dessa produção.

Catalepsia: O que é isso e por que é o nome do filme?

O nome da produção tem origem na paralisia do sono, revela a cineasta. “Houve gente no passado enterrado vivo por causa disso. Antigamente a medicina não tinha ferramentas, acessórios e instrumentos suficientemente sensíveis para detectar sinais de vida de algumas pessoas neste quadro. Além disso, existem muitas histórias de que seres humanos foram enterrados vivos e acordavam quando estavam já enterrados, ou outros casos que despertavam durante o velório, o que causava um choque nas civilizações antigas. As pessoas achavam que aquilo era bruxaria ou simplesmente acreditavam que aqueles outros estavam voltando do mundo dos mortos, mas nem conheciam (e nem imaginavam) que na realidade elas eram apenas portadoras da paralisia do sono, que é uma patologia que pode acontecer em casos de cansaço extremo, stress ou depressão”.

Vencedora de seis prêmios internacionais ao longo da carreira, Priscila conta o enredo de sua produção: “A personagem se chama Júlia. Ela acorda um dia nos alpes suíços onde mora e percebe que tem alguém lá fora tentando entrar, mas ela não consegue ver ninguém e não consegue abrir a porta. De repente, toca o despertador e ela acorda de um sono profundo novamente. Mas ela já não tinha acordado? É aí que a história se desenvolve”, conta.

“Catalepsia” é um filme em que há um diálogo entre a consciência e o subconsciente, representado pela casa em que a protagonista mora. No filme, reforça Priscila, “é mostrada a forma como ela tenta se comunicar com ela mesma. Tudo isso irá despertar uma série de sentimentos no espectador, principalmente através desses hormônios que são ativados de forma intencional através da história que está sendo contada”.

Experiências sensoriais no cinema

Priscila conta que sua trajetória neste tipo de produção começou em 2016. “Naquela época, o mercado ainda não estava pronto, achava que era luxo sonhar, diante de tantas outras prioridades. Com os impactos trazidos pelo Covid-19 no mundo, a audiência mudou: filmes passaram a ser oficialmente a válvula de escape em combate à depressão por confinamento, impactos profissionais tendo em vista a desestabilizações econômicas e outros”.

Ela ressalta que “a Realidade Virtual tem a propriedade de injetar histórias (e memórias) na fisiologia humana. Podemos criar e educar seres humanos mais responsáveis, uma vez que eles se percebem melhor, como seres integrantes de um todo. Podemos construir caracteres, ensinar com otimização da capacidade de absorção dos aprendizados, porque ao invés da audiência estar fora da tela, ela faz parte da história, ela está totalmente integrada ao conteúdo criado”.

Diante disso, “as produções agora podem gerar então o bom humor ao longo de toda uma semana em alguém que experimenta (não mais apenas assiste) filmes em Realidade Virtual, que tenha sido produzido com este propósito: A liberação de hormônios do bem estar, amor (Ocitocina), meditação e recompensa (Dopamina), aventura (Adrenalina), até mesmo o medo, que uma vez superado, se torna dopamina”, completa.

Quem deu consultoria nessa parte para a produção foi o PhD, neurocientista, neuropsicólogo e biólogo Fabiano de Abreu. Diretor-Geral do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, ele explica como o filme produzirá estas reações em quem o assistir: “Nosso cérebro formata engramas de memória em forma de imagens, este filme, chega em nossos neurônios de maneira tão real, que aumentam a produção de neurotransmissores relacionados ao bem-estar. A diferença, é que não é um filme qualquer motivacional, é um filme feito com a experiência de uma cineasta membro da Centro Nacional de Inovação Suíço cujo conteúdo tem comprovações científicas.”