Cálculo baseia-se em metodologia oficial descrita pela Política Nacional de Biocombustíveis, RenovaBio.
O Brasil atinge um novo patamar na mensuração de emissões de gases de efeito estufa (GEE), considerando o ciclo de vida dos combustíveis. No dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta sexta-feira (5), a União da Indústria de Cana de Açúcar (UNICA) atualiza dados de emissões evitadas pelo setor, com base na Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio).
Entre março de 2003 (data de lançamento da tecnologia flex) e maio de 2020, o consumo de etanol (anidro e hidratado) evitou a emissão de mais de 515 milhões de toneladas de CO2eq.[1], segundo cálculos da entidade, baseados em dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Esse volume é equivalente às emissões anuais somadas de Argentina, Venezuela, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai.
Além de credibilidade, a certificação dos produtores de biocombustíveis junto à ANP para a participação no RenovaBio traz transparência para a sociedade em relação à pegada de carbono do processo produtivo, garantindo a rastreabilidade e a efetividade da redução de emissões.
Para se chegar a esse número, a área técnica da UNICA usou como base o cálculo fornecido pela RenovaCalc – calculadora que determina a eficiência energética do processo produtivo no âmbito do RenovaBio – com os parâmetros delimitados pela ANP para uma usina típica brasileira.
“A comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente em meio à pandemia da COVID-19 tornou-se um momento de analisar as ações humanas e seus reflexos nos ecossistemas. Muito se debate sobre revisão de condutas, mudança de hábitos e a sociedade que queremos quando tudo isso acabar. No Brasil, como em nenhuma parte do mundo, temos a construção sólida de uma indústria de combustíveis renováveis, podendo dar essa significativa contribuição de redução de gases de efeito estufa para o mundo”, analisa Evandro Gussi, presidente da UNICA.
Ampliar reduções
Quando avaliado o ciclo de vida completo do combustível, o etanol proporciona uma redução de até 90% na emissão de GEE em relação à gasolina. Além disso, em comparação com a gasolina e o diesel, o biocombustível de cana-de-açúcar praticamente zera a dispersão de material particulado e reduz significativamente a emissão de vários poluentes, como os óxidos de enxofre.
“Ao planejar a retomada após a pandemia, líderes dos setores público e privado devem manter em mente os desafios postos, como a transição energética de fontes de energia fósseis para renováveis, a redução das emissões de GEE globais e a sustentabilidade das cadeias produtivas, em termos sociais e ambientais”, avalia Gussi.
O ano de 2020 pré-COVID-19 representaria um marco no combate às mudanças climáticas, pois segundo projeções registraria o pico de emissões de GEE globais para necessariamente iniciar uma queda a fim de tornar possível o atingimento das metas do Acordo de Paris. “O Brasil tem dado contribuições significativas, pois, apesar de ter uma matriz energética com 45% de fontes renováveis, tem políticas já estabelecidas para ampliar essa participação, como o RenovaBio”, explica Gussi. A cana-de-açúcar responde por 17,4% de toda a oferta primária de energia no País, levando em conta etanol e bioeletricidade.
Poluição e COVID-19
Além da problemática do aquecimento global, a poluição do ar é uma das grandes vilãs da saúde pública em megalópoles, relacionada com 4,2 milhões mortes ao ano no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e fragilizando a imunidade da população. Estudo de Harvard concluiu que o aumento de apenas 1% na concentração de material particulado fino (MP 2.5) no ar resulta em um incremento de 8% das mortes pela COVID-19.
Com as medidas de restrição de circulação, foi registrada uma drástica redução de poluentes e a melhoria da qualidade do ar de cidades notoriamente poluídas. Nova Déli, na Índia, por exemplo, viu o MP 2.5 cair 60%, ficando em 32,8 µg/m³, segundo o iQAir.
Na Região Metropolitana de São Paulo, a média de 17 µg/m³ de MP 2.5, registrada em 2019, caiu para 13 µg/m³ nos primeiros cinco meses de 2020, segundo dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Os índices estão dentro do recomendado pela OMS, de 20 µg/m³ de MP 2.5. Isso porque temos a combinação de políticas governamentais que controlam a emissão de poluentes pelos veículos (PROCONVE) com o incentivo à combustíveis limpos – 60% do consumo de combustíveis do ciclo Otto na capital paulista é de etanol hidratado, que praticamente zera a emissão de material particulado (-98% em relação a gasolina e diesel).
“Apesar de ser uma megalópole, São Paulo desfruta de melhor qualidade do ar do que outras capitais graças ao uso de biocombustíveis, o que tem reflexos diretos na saúde da população. No futuro, podemos ampliar esses benefícios para outras capitais e países”, prevê Gussi.
Etanol como aliado para o cumprimento do Acordo de Paris
O etanol da cana-de-açúcar brasileiro é o biocombustível com menor pegada de carbono do mundo, sendo reconhecido como tal pelas agências internacionais graças ao modelo de produção sustentável adotado pelo setor sucroenergético.
Na União Europeia, o etanol de cana é reconhecido pela diretiva de promoção de energia renovável (I e II) como o biocombustível de primeira geração que mais reduz as emissões comparado com combustível fóssil (70% quando colocado no mercado Europeu).
Nos EUA ocorre fato similar, sendo nosso etanol classificado como combustível avançado no âmbito da legislação norte-americana, uma vez que supera o patamar de 60% de redução das emissões de GEE (entre 61% e 90%). Apesar de o etanol de cana-de-açúcar ser de primeira geração, seu desempenho ambiental equivale à redução de emissões previstas para o etanol de segunda geração.
O aumento da mistura de etanol na gasolina tem sido visto como um caminho para mitigar a emissão de GEE e atender as metas do Acordo de Paris. Atualmente, mais de 60 países têm trabalhado para aumentar a mistura de renováveis nos combustíveis fósseis com o objetivo de descarbonização. “A vantagem da adoção de uma política de blend é que ela promove a redução instantânea da pegada de carbono de toda a frota, além de reduzir a poluição. O Brasil é um grande campo de testes e comprova a segurança da mistura, com toda a gasolina comercializada contendo 27% de etanol anidro e sendo utilizada em carros importados”, avalia Gussi.
O Brasil tem uma Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) criada para atender as metas autodeclaradas da COP21, no âmbito do Acordo de Paris, que reduzirá a intensidade de carbono da matriz de transportes, por meio do aumento da participação dos biocombustíveis, incluindo biodiesel e etanol feitos a partir de diferentes matérias-primas, e da criação de um mercado de crédito de carbono (CBio). O objetivo do RenovaBio, que entrou em vigor em 24 de dezembro de 2019, é reduzir pelo menos 100 milhões de toneladas as emissões de GEE em 10 anos.
Atributos do etanol
Quando avaliadas as emissões de gases causadores de efeito estufa (GEE) no ciclo de vida dos combustíveis, o etanol proporciona uma redução de até 90% da emissão de GEE em relação à gasolina.
Além disso, o biocombustível de cana praticamente zera a dispersão de partículas, poluente muito agressivo para a saúde, pois consegue penetrar as partes mais profundas do pulmão (-98% em relação a gasolina e diesel), bem como a de hidrocarbonetos tóxicos (-99% na emissão de benzeno, componente cancerígeno presente na gasolina, e na emissão de hidrocarbonetos poliaromáticos, componentes cancerígenos gerados na queima do diesel).
O biocombustível também reduz a emissão de monóxido de carbono em relação à gasolina (a porcentagem varia dependendo da calibração do motor, mas pode atingir cerca de 20%).
Outra vantagem do etanol é que se trata de um produto de baixa toxidez e biodegradável. Ou seja, em caso de acidentes de derramamento ou de vazamento, resulta em impacto ambiental de pequena monta e é biodegradado em poucos dias. Por outro lado, os combustíveis derivados de petróleo (gasolina e diesel), apresentam elevada toxidez ambiental e requerem muito tempo para biodegradação natural, o que resulta em impacto ambiental elevado, necessitando com frequência medidas de remediação da área contaminada, quando isso é possível.