Sucesso de publico e crítica, espetáculo da Zula Cia. de Teatro aborda a vida de mulheres no sistema prisional; té dia 22 de abril
Ao longo de um ano, às terças-feiras, havia uma pausa para a liberdade. Um momento especial que estimulava mulheres em condição de cárcere a lembrarem quem são: pessoas corajosas, talentosas, carinhosas, que erram e acertam. Sim, elas são bem mais que seus delitos. E é isso que mostra a peça “Banho de Sol”, da Zula Cia. de Teatro, em cartaz no CCBB-BH até o dia 22 de abril, de sexta à segunda-feira, às 19 horas.
Nos próximos sábados (13 e 20) e na segunda-feira (22), haverá debates, após a peça, sobre questões relacionadas ao sistema prisional. Participam: dia 13 – Andreia de Jesus (pesquisadora e ativista do sistema prisional, deputada estadual) e Cida Falabella (atriz e diretora teatral, vereadora Belo Horizonte); dia 20 – Daniela Tiffany Carvalho (pesquisadora e especialista em segurança pública); e dia 22 Natália Martino e Leo Drumond, pesquisadores e autores do livro Mães do Cárcere.
Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Para fazer a reserva, acesse: eventim.com.br.
O espetáculo é fruto do projeto “A arte como possibilidade de liberdade”, composto, dentre outras atividades, por aulas de teatro que foram realizadas em um complexo penitenciário feminino ao longo de um ano, durante o banho de sol das participantes. “A princípio a ideia era somente fazer com que essas mulheres tivessem a oportunidade de vivenciar uma experiência artística, momentos de troca, de afeto, de integração entre elas e ver como essas atividades reverberavam no cotidiano delas. Mas a realidade vivenciada por nós foi tão intensa que nos provocou a criar uma obra para que esta vivência pudesse dar voz às mulheres em situação de cárcere”, destaca Talita Braga, atriz e fundadora da Zula Cia. de Teatro, que estrela o espetáculo ao lado das atrizes Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer e Mariana Maioline.
O
encontro entre as artistas e as participantes, assim como as
modificações provocadas por essa experiência em cada uma das mulheres em
privação de liberdade, foram os motes da criação dramatúrgica da peça,
assinada por Talita Braga, e que também está à frente da direção, junto
de Mariana Maioline. O figurino, cenografia e expografia são de
Alexandre Tavera; a iluminação é de Cristiano Oliveira, trilha sonora e
vídeos de André Veloso e produção executiva de Andréia Quaresma.
“A intenção da peça é, a partir das memórias e experiências dessas mulheres, dividir com o público o processo de transformação que todas elas vivenciaram ao longo de um ano de trabalho dentro de um complexo penitenciário. Trazer à tona os preconceitos, julgamentos, a crise do sistema prisional, a opressão, o abandono das mulheres em privação de liberdade, mas também o poder humanizador da arte, o poder do afeto. Tudo isso a partir de memórias de corpos que ouviram, viram, viveram e conviveram com essa realidade. Nossos corpos e vozes serão a ponte para trazer para a sociedade toda a discussão vivenciada dentro do presídio”, destacam as atrizes.
A arte como possibilidade de liberdade
Com
um trabalho focado na mulher em situações marginais, a Zula Cia. de
Teatro tem como ponto de partida para a criação teatral histórias e
depoimentos reais como em seus primeiros espetáculos “As rosas no jardim
de Zula” (de 2012 com direção de Cida Falabella) e “MAMÁ!” (de 2015,
com direção de Grace Passô). A partir desses trabalhos, a companhia se
firmou como um grupo de pesquisa de teatro documentário e teatros do
real, com foco no feminino e na condição da mulher na sociedade atual.
Trabalhar
com mulheres em situação de cárcere era um desejo antigo de Talita
Braga, mas foi em 2016, ao participar do núcleo de pesquisa para
arte-educadores no Galpão Cine Horto, que o projeto começou a ganhar
vida. Ela conta que as atividades eram coordenadas pela Gláucia
Vandeveld, que já tinha realizado atividades teatrais em unidades
prisionais e acumulava experiência nesse universo. Foi desse encontro
que surgiu o projeto que teve como fio condutor a questão: “é possível
que a arte ofereça momentos de liberdade à mulheres em situação de
cárcere?”
Na
época, as atividades consistiam em aulas de teatro e criação de um
espetáculo para um grupo de 30 mulheres em privação de liberdade que
cometeram crimes de repercussão. Ao lado das atrizes que estrelam a
peça, juntaram-se ao projeto Priscylla Lobato, arte-educadora e atriz
que integrou a equipe na primeira etapa do trabalho, André Veloso,
Alexandre Tavera, Philippe Albuquerque, Ana Haddad e Cristiano Oliveira.
Além da iniciação à prática teatral, momentos de fruição artística e
elaboração criativa, foi realizada uma exposição de artes visuais
baseada nas experiências e relatos discutidos durante as aulas. A
iniciativa, em todo seu conjunto, foi uma das finalistas do Prêmio
Innovare de 2016, que tem o objetivo de identificar e difundir práticas
que contribuem para o aprimoramento da justiça no Brasil.
“A
realização do projeto nos provocou a sairmos de um lugar cômodo, de
acharmos que teríamos muito a dar e pouco a receber e, no entanto, a
intensidade dessa troca nos colocou em cheque. Nos confrontamos com
nossos privilégios de mulheres brancas de classe média, com nossos
preconceitos e nossa arrogância. Encontramos afeto verdadeiro,
cumplicidade e cuidados umas com as outras e fomos atravessadas por
esses sentimentos. O que fica pra gente são perguntas: a vida pulsa em
situações
extremas? O afeto é capaz de transformar vidas? Como manter a lucidez?
Quando é que uma luta passa a ser uma causa sua? O que eu tenho a ver
com isso? Como me haver com isso? É preciso te ferir pra você olhar pra
ferida? Mas fica também uma certeza: é preciso repensar o sistema
prisional”, sublinham Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer, Mariana Maioline e
Talita Braga.
Situação das mulheres privadas de liberdade
Apesar
de o número de mulheres em situação de cárcere ser bem inferior ao de
homens, essa proporção tem se alterado rapidamente. Enquanto o número de
homens presos aumentou 106% entre 2000 e 2010, o número de mulheres
encarceradas foi ampliado em 261% no mesmo período. Hoje, já são mais de
42 mil mulheres que estão privadas de liberdade, um aumento 656% em
relação ao ano 2000. De acordo com o Infopen (Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias), o Brasil é o 4º país que mais prende no
mundo, atrás dos Estados Unidos, China e Rússia. Entre a população
carcerária feminina, 62% são negras, 74% são mães e 45% não foram
julgadas.
FICHA TÉCNICA
Espetáculo: “Banho de Sol”
Realização: Zula Cia. de Teatro
Patrocínio: Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte
Apoio:Galpão Cine Horto e C.A.S.A (Centro de Arte Suspensa e Armatrux)
Cessão de Espaço: Centro Cultural Banco do Brasil – Belo Horizonte
Direção: Mariana Maioline e Talita Braga
Direção de textos: Ana Hadad
Dramaturgia: Talita Braga
Textos: Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer, Mariana Maioline e Talita Braga.
Criação e atuação: Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer, Mariana Maioline e Talita Braga.
Cenografia, figurino e expografia: Alexandre Tavera
Iluminação:Cristiano Oliveira
Som e vídeos: André Veloso
Produção executiva: Andréa Quaresma
Comunicação visual: Philippe Albuquerque
Assessoria de imprensa: Mira Comunicação
SERVIÇO
O que: peça “Banho de Sol”
Quando: até 22/04, de sexta à segunda-feira, às 19 horas
Onde: CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Imprensa: [email protected] | 98778 1774Mais informações: zulaciadeteatro.com.br