Técnica proporciona chances de gravidez em torno de 50%. Procedimento também é alternativa para casais homoafetivos.
Nem todas as mulheres podem realizar, de forma natural, o desejo de ser mãe. Isso porque a infertilidade atinge cerca de um a cada dez casais em idade fértil no Brasil e aproximadamente 15% da população em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, os avanços da medicina e da tecnologia têm contribuído consideravelmente para a evolução dos tratamentos de reprodução assistida, como é o caso da fertilização in vitro com doação de óvulos. Nesse tipo de tratamento, os óvulos doados são fertilizados com os espermatozoides do parceiro da mulher que irá recebê-los e, após a formação dos embriões, estes são transferidos para o útero das receptoras.
Segundo o especialista em reprodução humana da clínica Pró-Criar, Dr. João Pedro Junqueira Caetano, a doação de óvulos ou ovodoação é indicada para mulheres que não possuem os ovários ou que não tenham óvulos de boa qualidade. “Idade avançada, menopausa, menopausa precoce, pacientes que passaram por quimioterapia ou radioterapia, retirada dos ovários por cirurgia, doenças genéticas ou mesmo falhas repetidas de fertilização in vitro são alguns dos casos que indicamos a receber a ovodoação”, explica. O especialista ressalta que casais homoafetivos formados por homens também podem receber um óvulo doado, que será fecundado com o sêmen de um deles e gerado no útero de outra doadora.
A chance de gravidez por tentativa de fertilização in vitro com óvulos doados fica entre 50% e 60%. “O que importa nesse tipo de tratamento é a idade dos óvulos e não a idade do útero. Como a doadora tem que ter menos de 35 anos, ela ‘empresta’ a chance dela para a receptora”, esclarece Dr. João Pedro Junqueira Caetano.
Como é feita a doação de óvulos
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) estipulou algumas normas éticas para esse tipo de procedimento: a doação de óvulos é realizada de forma anônima (as receptoras não podem conhecer a identidade da doadora dos óvulos e vice-versa); não pode haver caráter comercial ou lucrativo; a seleção das doadoras é de responsabilidade das clínicas. As pacientes que irão doar seus óvulos têm que ter idade inferior a 35 anos, serem saudáveis, não apresentarem nenhuma história de doença genética e terem exames infecciosos negativos. Os casais (doadores e receptores) serão pareados de acordo com as características físicas e o tipo sanguíneo.
Atualmente, não existem bancos de óvulos no país. No caso da Pró-Criar, por exemplo, as candidatas à doação são doadoras compartilhadas. Isso significa que a potencial doadora é uma paciente em tratamento que possui boa reserva ovariana. “A doação compartilhada é autorizada pelo CFM e beneficia dois casais distintos. Aquele casal cuja mulher não tem óvulos viáveis para engravidar e o outro casal cuja mulher pode doar e, com essa doação, tem uma redução importante nos custos de seu tratamento. Tal redução é possível porque nesse processo as duas fertilizações in vitro são realizadas ao mesmo tempo, sem necessidade de congelamento dos óvulos”, explica Dr. João Pedro Junqueira Caetano.
Apesar de a doação compartilhada ser uma opção bastante viável, ainda é muito baixo o número de mulheres que se disponibilizam a doar seus óvulos. Em função disso, o tempo de espera das pacientes receptoras pode levar de um a dois anos, mesmo porque existe toda uma análise genética prévia de compatibilidade entre as doadoras e as receptoras. “Na Pró-Criar temos uma fila de espera com cerca de 80 pacientes. De 2017 para cá conseguimos reduzir em quase 50% esse número, em função de uma parceria que efetivamos com um banco de óvulos espanhol. Porém, muitas pacientes preferem aguardar por uma doação compartilhada em função dos custos mais baixos”, afirma.
Entenda as etapas do tratamento
· O casal candidato passa inicialmente por avaliação da equipe para certificação de que estão emocionalmente prontos para o processo.
· Se a paciente receptora tem mais de 40 anos, são solicitados exames gerais de saúde, além de avaliação cardiológica para certificação da saúde geral da paciente e eliminação de contra-indicações médicas ao processo.
· É feita a seleção de doadora compatível pela equipe médica, buscando a maior proximidade fenotípica (características físicas) entre doadora e receptora, além claro, da compatibilidade de grupo sanguíneo (doadora-casal receptor).
· Habitualmente a paciente que vai receber os óvulos começa a preparação do útero no mesmo momento em que é iniciada a indução da ovulação da doadora.
· A medicação utilizada é o estrogênio, hormônio feminino administrado por via oral ou transdérmica (adesivos). Próximo à data da punção da doadora, é realizado um ultrassom endovaginal na paciente que está recebendo estrogênio para avaliar se o endométrio (camada interna do útero) está com espessura adequada para receber os embriões. A partir da data da punção da doadora, a receptora inicia o uso de progesterona por via vaginal para a posterior transferência do embrião. Neste mesmo dia, o parceiro da receptora colhe o material (sêmen) para a fertilização dos óvulos que serão doados.
· Os embriões formados ficam em meio de cultivo de 2 a 5 dias até a transferência para o útero da receptora.
· A transferência é um procedimento simples e indolor semelhante a um exame ginecológico comum.
· A receptora recebe no máximo 2 embriões (já que os óvulos da doadora têm no máximo 35 anos).
· Caso haja embriões excedentes, o casal pode optar pelo congelamento, ou criopreservação, dos mesmos.
· O exame de gravidez é realizado após 9 a 11 dias da data da transferência dos embriões.
Ainda, de acordo com as novas regras do CFM, a idade máxima para participação da mulher como doadora em processos de reprodução assistida será de 35 anos. Em caso da transferência do embrião para o útero da paciente, não podem se submeter a este tratamento mulheres com mais de 50 anos, a não ser que tenha boa saúde atestada pelo médico responsável. O número máximo de embriões a serem transferidos será quatro, podendo ser menor de acordo com a idade da paciente: até 35 anos (máximo de dois embriões); entre 36 e 39 anos (até três embriões); e com 40 anos ou mais (limite de quatro embriões).