Messias Pedreiro Neto*
O setor financeiro no Brasil se desenvolveu fortemente e tem se sustentado mesmo perante grandes crises internacionais nas quais grandes instituições financeiras faliram ou foram vendidas por valores simbólicos, como nos Estados Unidos e na Europa. A maioria das nossas instituições financeiras é capitalizada e teve pouca dificuldade para se adaptar às regras de Basileia.
Elas se adaptaram às mudanças mercadológicas, vendendo ativos não essenciais, e cada uma dispensou energia no que estrategicamente faria sentido, dadas as características específicas de cada organização. Algumas focaram em operações de varejo, outras de atacado e em um mix. Algumas seguradoras, por exemplo, focaram em operações de pessoas físicas e de corporações, envolvendo os mais diversos segmentos, como patrimônio, saúde e financeiro.
Notadamente, dois segmentos, o de fusões e aquisições e o de financiamento estruturado, se destacaram nos últimos dez anos no Brasil. Durante esse período, tive oportunidade de vivenciar grandes desafios, como a estruturação e o gerenciamento financeiros de projetos eólicos gigantes no Nordeste do Brasil e em operações da companhia no Peru e Colômbia, enquanto vice-presidente da Contour Global para América Latina. Participei de relevantes operações de energia para o país, fusões e aquisições intercontinentais e operações de mercado de capitais, com valores superiores a R$ 10 bilhões como diretor-executivo do Banco Santander. Também acompanhei diversos leilões de energia, estruturação e financiamento de ativos.
Mesmo enquanto a economia brasileira passava por tempos ruins, com queda expressiva da atividade, escândalos de corrupção, troca de governo e a não aprovação da reforma da Previdência, o mercado de fusões e aquisições no Brasil registrou um volume de negócios superior a US$ 65 bilhões por ano nos últimos dois anos, segundo relatório da PwC Brasil. No primeiro trimestre deste ano, foram registradas 153 transações contra 150 negócios nos primeiros três meses de 2017, o que demonstra que, mesmo em momentos de crise, expectativas de melhora podem reforçar o volume de transações, ou seja, se a perspectiva econômica e financeira para o Brasil for positiva para os próximos anos, o número de transações deverá aumentar.
Outro fato importante é que 62% dessas transações foram realizadas por investidores nacionais, um aumento de 16% quando comparado com o mesmo período de 2017. Ou seja, a crise brasileira afastou vários tipos de investidores, como fundos de pensão estrangeiros; por outro lado, continuou atraindo outros players, como os fundos de Private Equity, Advent e Brookfield, por exemplo, que são pesados investidores desse tipo no Brasil.
Mesmo assim, o mercado vinha melhorando em seus índices de confiança e vendas. O próprio índice Bovespa chegou a ultrapassar os 88 mil pontos, mostrando uma forte recuperação dos preços dos ativos brasileiros. A Selic, que estava em 14,25% em outubro de 2016, foi reduzida, em abril deste ano ao patamar de 6,5% ao ano, ajudando os investidores de longo prazo a financiarem seus investimentos ou mesmo o capital de giro.
Assim, se o Brasil continuar com um plano de recuperação econômica eficiente e as eleições tiverem um cenário positivo para os investidores locais e estrangeiros, o número de fusões e aquisições tende a aumentar significativamente. O mercado de M&A tem se sustentado, demonstrando apetite dos investidores pelo mercado local. Para os financiamentos dessas aquisições, o mercado também ficou um pouco mais estruturado e alternativas de dívida local ou internacional foram utilizadas, demonstrando ainda o apetite dos bancos e dos investidores de dívida em emprestar às empresas locais. Esse mesmo raciocínio funciona para empresas que reestruturaram suas dívidas, face às dificuldades financeiras. Nesse caso, essa situação de renegociação também foi beneficiada pela redução dos juros básicos e consequente redução dos juros finais ao cliente – mesmo que não na mesma proporção.
Enfim, as operações de M&A devem se beneficiar expressivamente de uma melhora no cenário econômico-financeiro do Brasil. A retomada do crescimento, a simplificação do sistema tributário, a melhoria das contas governamentais, entre outros temas, poderão contribuir para a melhora da confiança do investidor local e estrangeiro no nosso país.
No lado dos financiamentos, a estabilidade econômica trará uma melhor visualização dos indicadores de consumo, poupança e crédito para a população e para as empresas, propiciando a retomada da confiança e investimento no país.
Considerando, então, resultados positivos para as eleições e uma agenda positiva e eficiente junto ao Congresso Nacional, o Brasil possui todas as condições para prover um ambiente de negócios bastante atrativo aos investidores e se beneficiar de um bom crescimento econômico.
* Executivo financeiro especialista em operações financeiras e sócio da Thoreos, consultoria financeira de M&A sediada na região metropolitana de Belo Horizonte (MG)