Mirtes Helena Scalioni

Filmes sobre velhos estão em alta. Depois da contundência de “Ella e John” e do romantismo de “Acertando o Passo” – só para ficar nos mais recentes – está em cartaz o brasileiro “Antes que eu me esqueça”, primeira longa de ficção de Tiago Arakilian, que há mais de 30 anos trabalha com produção de cinema. Desta vez, a história utiliza – e até privilegia – o humor para falar de relações familiares, desencontros e, principalmente, de solidão.

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O grande trunfo do filme, o que fisga o espectador do início ao fim, é a atuação brilhante de José de Abreu interpretando um irascível e arrogante juiz aposentado de 80 anos às voltas com os primeiros sintomas de uma demência senil. A expressão corporal e facial do ator impressiona, emociona e surpreende, principalmente quando seu personagem, Polidoro, decide, àquela altura da vida, se tornar sócio de uma boate de strip-tease de Copacabana. Os demais personagens e intérpretes giram em torno dele.

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É quando uma das filhas de Polidoro, Bia (Letícia Isnard) tenta interditar o pai na Justiça que o filme parece discutir e abordar o outro tema da história: a relação pai e filho. Como Paulo (Danton Mello) o outro filho do velho, anda afastado, o juiz determina que os dois refaçam os laços antes de conceder a interdição. Pianista frustrado, pessimista e derrotado, o jovem se vê obrigado a encontros periódicos com o pai, sempre sob a supervisão da rígida promotora Maria Pio (Mariana Lima).

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Estão ainda no elenco Guta Stresser, exagerando no estereótipo como a garçonete bailarina da boate; Augusto Madeira como o amigo pianista de Paulo; Eucir de Souza como o enfadado genro Alceu, e até um inesperado Dedé Santana, vivendo um dos amigos do juiz.

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Como quase toda comédia dramática, “Antes que eu me esqueça” exagera um pouco nos clichês e obviedades. Há também situações que parecem carregar propositalmente no humor, talvez por se tratar da terceira idade e de demência senil – o que se revela um equívoco. Velhos, boate, strip-tease, bailarinas – tudo parece uma associação feita para o riso.

Mas o que fica, ao final, é a sensação de que é preciso sim falar da velhice e de todos os desconfortos, esquisitices e problemas que ela traz, não apenas aos velhos, mas principalmente às suas famílias. Num dos momentos mais desconcertantes do filme, Polidoro decreta: “O pior da velhice é a gente lembrar que está esquecendo”. Felizmente, a delicadeza e a emoção vencem.
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos