Mirtes Helena Scalioni

Talvez se possa dizer que, com “7 Dias em Entebbe”, o brasileiro José Padilha tenha se rendido definitivamente ao chamado cinemão. Esse seu mais recente longa, sobre o sequestro de um avião entre Tel-Aviv e Paris, na década de 1970, coloca o profissional no rol dos diretores assumidamente comerciais. Isso não significa que o filme seja ruim. Pelo contrário: estão lá todos os elementos esperados em um entretenimento bem feito: muita ação bem distribuída, suspense, política – correta e equilibrada – emoção e até um certo didatismo para quem quiser saber mais sobre o eterno conflito entre Palestina e Israel.

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O voo 139 da Air France foi desviado por um grupo de jovens revolucionários pró-palestina em junho de 1976, pousando em Entebbe, na Uganda de Idi Amin, onde permaneceu uma semana. As tentativas de negociações com o governo israelense, pouco afeito a abrir precedentes, as condições precárias do lugar onde os quase 200 passageiros e tripulantes ficam e as inevitáveis desavenças entre os sequestradores, a maioria jovens e despreparados, vão envolvendo o espectador.

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Tudo indica que Padilha teve o cuidado de não tomar partido. No início, o conflito entre árabes e judeus é cuidadosamente explicado. Quase uma aula de história – embora alguns enxerguem, ao final, um discreto favoritismo para Israel. Entre as atuações, destaques para Daniel Brühl como o jovem alemão idealista Wilfried, e Rosamud Pike como a também revolucionária Brigitte Kuhlmann – outra alemã, mas com discurso mais afiado. Do lado israelense, Eddie Marsan se sai muito bem como o líder Simon Peres. Na trilha sonora, a surpresa fica por conta da autoria: Rodrigo Amarante, do grupo Los Hermanos. Para que o filme ficasse perfeito e digestivo, não faltam crianças e idosos entre os passageiros, o que, fatalmente, enternece o público.

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Também estão lá as eternas discussões ideológicas dos jovens que escolheram o caminho da revolução nos conturbados anos de 1970, o engenheiro de voo, que, com sua praticidade e engenho, se contrapõe ao excesso de palavras e ideias, as divergências entre os mandatários do governo de Israel no processo de negociação, as dúvidas de um jovem soldado entre o amor e a pátria e até uma apresentação de dança contemporânea.

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Durante todo o longa, as cenas do sequestro e da estada e espera em Entebbe são intercaladas com os ensaios e depois com a estreia do espetáculo – lindo, por sinal. Mas essa não é exatamente uma ideia original. Traz uma certa estética à narrativa pesada, mas não é novidade.

Claro que vale assistir a “7 Dias em Entebbe”, até para se lembrar e conferir um pedaço – muito bem contado – dessa história que já dura tanto tempo. Mas é bom que se saiba: trata-se de mais um filme politicamente correto de Hollywood.
Duração: 1h47