Filmes da Mostra Olhos Livres, que será avaliada pelo Júri Jovem, é um dos principais destaques no evento em 2018, que ainda tem seção dedicada à temática Chamado Realista e debates na Mostra Praça
Na sua 21a edição, a Mostra de Cinema de Tiradentes, a ser realizada entre os dias 19 e 27 de janeiro, exibirá 30 longas-metragens em pré-estreia na programação, divididos em seis seções temáticas: Aurora, Olhos Livres, Homenagem, Chamado Realista, Praça e Mostrinha. Os filmes selecionados pela dupla de curadores Cleber Eduardo e Lila Foster têm representantes de nove estados brasileiros: São Paulo (12), Rio de Janeiro (6), Minas Gerais (5), Paraíba (2), Goiás (1), Bahia (1), Pernambuco (1), Paraná (1) e Distrito Federal (1). Em nove dias de intensa programação gratuita no Cine-Tenda, Cine-Teatro e Cine – Praça, a 21ª Mostra Tiradentes se confirma como a maior plataforma de lançamento do cinema brasileiro contemporâneo, exibe filmes em pré-estreias mundiais e nacionais, títulos premiados e de destaque em festivais no Brasil e no exterior. A abertura, dia 19, sexta, às 21horas, no Cine-Tenda, terá exibição da produção baiana Café com Canela, com direção Ary Rosa e Glenda Nicácio e atuação do homenageado desta edição, o ator Babu Santana.
“O público terá a oportunidade de conhecer os caminhos originais e ousados da produção brasileira contemporânea sob as mais variadas vertentes, ampliar as perspectivas de compreensão da vida cotidiana assistindo aos filmes, participar de debates sobre os filmes com seus realizadores e pensadores ”, ressalta a coordenadora geral da Mostra Tiradentes, Raquel Hallak.
A Mostra Olhos Livres chega ao seu segundo ano de realização com filmes que olham para seus temas no intuito de relacionar forma e conteúdo de maneira a provocar fissuras na relação com o espectador e enriquecer a experiência de assistir a eles. São seis filmes que integram esta seleção e há desde a presença de veteranos em Tiradentes, como Cristiano Burlan (“Antes do Fim”), até nomes que já estiveram com curtas e agora vêm com seus longas, como em “O Nó do Diabo”, de Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhésus Tribuzi. Há desde filmes de observação, no limite entre a verdade e a encenação, como “Fernando”, de Igor Angelkorte, Julia Ariani e Paula Vilela, até a abordagem de imigrantes colombianos em São Paulo, vistos em “Platamama”, de Alice Riff. Completam a Olhos Livres “Navios de Terra”, em que Simone Cortezão realiza uma espécie de aventura íntima em alto mar, e “Inaudito”, de Gregorio Ganianan, sobre o guitarrista Lanny Gordim, referência artística na transformação da música brasileira dos anos 1960. Os filmes da Mostra Olhos Livres são avaliados pelo Júri Jovem, composto por cinco estudantes universitários selecionados durante a oficina de crítica de cinema realizada na 11ª Mostra CineBH (2017).
A curadora Lila Foster chama atenção para a dedicação extrema de alguns filmes nas imagens de beleza forte, expressivas e poéticas, em contraste com as imagens mais diretas e menos performadas. “Talvez o tom geral seja brando em dramaticidade, com maior investimento nas sutilezas. Do documentário observacional aos hibridismos vida/ficção, das estetizações subjetivadas ao cinema de terror social, a Olhos Livres 2018 não aponta caminhos, sequer saídas, sequer sentidos únicos ou absolutos”, destaca a curadora.
Seguindo a temática da 21ª Mostra Tiradentes, a seção Chamado Realista reúne títulos em que acontecimentos de amplo apelo público, arrancados diretamente dos noticiários e das discussões em voga na sociedade brasileira dos últimos anos, tornam-se referência paras as escolhas formais dos filmes. Temas como feminismo, violência, política, protestos, segregação e manipulação midiática aparecem em “A Moça do Calendário”, de Helena Ignez; “Operações de Garantia da Lei e da Ordem”, de Julia Murat e Miguel Antunes Ramos; “Apto402”, de Dellani Lima; “Era uma Vez Brasília”, de Adirley Queirós; “Arábia”, de João Dumans e Affonso Uchôa; e “Nóis por Nóis”, de Aly Muritiba.
Na Mostra Homenagem, a celebração ao ator carioca Babu Santana reúne quatro filmes: as pré-estreias nacionais “Café com Canela”, de Glenda Nicácio e Ary Rosa (que será o longa de abertura, na noite do dia 19 de janeiro, no Cine-Tenda), e “Bandeira de Retalhos”, de Sérgio Ricardo; e dois sucessos marcantes na carreira de Babu, a cinebiografia “Tim Maia” (2012), de Mauro Lima, e o drama social “Uma Onda no Ar” (2002), de Helvécio Ratton.
Repetindo a bem-sucedida experiência do ano passado, a Mostra Praça irá promover sessões comentadas pelos realizadores após as exibições dos filmes. “Foi pensando nas diversas formas deste diálogo em praça pública que selecionamos os documentários de 2018, todos eles regidos pela intensidade de seus personagens. Cada filme nos ensina algo sobre as lutas políticas do presente e do passado ou sobre o trabalho de artistas que viveram intensamente os dilemas de seu tempo, sendo a arte a mediação fundamental do seu engajamento no tempo vivido”, destaca a curadora Lila Foster.
Para tanto, foram selecionados para a Mostra Praça “Escolas em Luta”, de Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli, sobre o movimento de ocupação das escolas públicas em São Paulo; “Camocim”, de Quentin Delaroche, que acompanha uma campanha política no interior de Pernambuco sob o ponto de vista de uma militante; “Todos os Paulos do Mundo”, de Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira, que radiografa afetivamente a trajetória do monumental Paulo José; “Por Parte de Pai”, em que Guiomar Ramos retoma uma história íntima e familiar; e “Torquato Neto – Todas as Horas do Fim”, de Eduardo Ades e Marcus Fernando, que radiografa o impacto do grande nome da contracultura brasileira.
A Mostra Aurora, dedicada a filmes de cineastas com até três longas-metragens no currículo e que apostem na experimentação e no risco, tem este ano sete pré-estreias, que serão avaliadas pelo Júri da Crítica: “Madrigal para um Poeta Vivo” (SP), de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho; “Imo” (MG), de Bruna Schelb Correa; “Ara Pyau – A Primavera Guarani” (SP), de Carlos Eduardo Magalhães; “Dias Vazios” (GO), de Robney Bruno Almeida; “Baixo Centro” (MG), de Ewerton Belico e Samuel Marotta; “Lembro mais dos Corvos” (SP), de Gustavo Vinagre; e “Rebento” (PB), de André Morais. “Alguns filmes se pautam pela relação no espaço e pela melancolia com esse espaço”, afirma o curador Cléber Eduardo. “A Aurora continua a demonstrar a diversidade autoral de uma nova geração de realizadores, algo que já aparecia entre os inscritos de um modo geral e se fez presente na relação dos selecionados”.
A programação reserva espaço especial também para toda a família. A criançada vai ter diversão garantida na Mostrinha, com a exibição de dois filmes que têm sido grande sucesso por onde passam: a animação “Historietas Assombradas”, de Victor Hugo Borges, e a aventura infantojuvenil “D.P.A – Detetives do Prédio Azul”, de André Pellenz e derivada da série de TV homônima.